Mt 5.21 Eu, porém, lhes digo que qualquer um que se ire contra seu irmão merece ser punido (com a morte). E quem quer que diga a seu irmão: Estúpido! Merece ser condenado (à morte) pela suprema corte. E quem quer que diga: Idiota! Merece ser lançado no inferno de fogo.
O início do ato externo do homicídio é a ira pecaminosa, o ódio. Cf. Tg 4.1. Uma atitude tão rude e má para com um irmão é realmente pecado contra o sexto mandamento, diz Jesus, e merece ser castigado( com a morte). Quando nesse espírito de desdém e grande desgosto alguém diz a seu irmão: “Raca” – provavelmente em aramaico e signifique “estúpido” (“ou cabeça oca”) – é digno de ser condenado à morte pela suprema corte (judaica, o Sinédrio). Semelhantemente, quando, no mesmo estado de mente e coração, ele diz: “Idiota” (ou, “retardado mental”, “tolo”), merece a morte. Além disso, que o Senhor não está pensando apenas na morte física, mas igualmente na morte eterna faz-se evidente das palavras “ele merece ser lançado no inferno (gehenna) de fogo”.
Se esta explicação da passagem é aceita, então tudo se torna muito simples. Jesus está ensinando apenas uma lição muito importante. Ele está dizendo que a ira pecaminosa – do tipo que leva a dizer palavras amargas – é em sua própria natureza homicídio. É homicídio praticado no coração. A menos que se arrependa, a pessoa com essa espécie de atitude já enfrenta o castigo eterno no inferno. Seja o que for que possa parecer aos olhos humanos, aos olhos de Deus já está condenada, e está de caminho para a morte que jamais finda. Assim, enquanto os escribas e fariseus punham a ênfase no exterior, como se isso fosse a única coisa repreensível, Jesus liga o ato à má disposição do coração, que está por detrás disso.
Entretanto, há ainda outra interpretação. Em parte, resume-se assim: Jesus está afirmando que um homem, por estar irado com o seu irmão, deve ser sentenciado por “uma corte local”; ao fazer algo pior, ou seja, movido pela ira chamar seu irmão de estúpido, ou dizer que ele é um traste inútil, deve ser punido pela suprema corte; e pior ainda, chamá-lo de idiota, então merece a penalidade máxima – a perdição eterna.
Não há desculpa para o fato de que, em sua interpretação do sexto mandamento, os escribas e fariseus dos dias de Jesus, em consonância com os homens de outrora, estavam omitindo a lição principal. “Moisés” havia enfatizado o amor a Deus (Dt 6.5) e aos homens (Lv 19.18). Não só isso, mas a primeira narrativa de uma rixa doméstica, a história de Caim e Abel, ressaltara de uma maneira muito impressionante o mal da ira proveniente do zelo, como sendo a raiz do homicídio (Gn 4.1-16; ver especificamente os vv. 6 e 7). A mesma lição fora reenfatizada nos escritos posteriores ( Pv 14.17; 22.24; 15.23; Ec 7.9; Jó 5.2; Jn 4.4). Consequentemente, ao interpretar o sexto mandamento na forma como o faz, Jesus, longe de anulá-lo, está mostrando o que queria dizer desde o início.
Porém, o que acontece quando, na conduta diária de uma pessoa, esse princípio de amor não recebe a devida atenção? O que deve fazer o homem que não está vivendo em harmonia com o irmão? Esse relacionamento tenso afetaria de alguma forma a sua adoração a Deus? Ou estamos tratando aqui com duas categorias distintas? É uma pergunta muito prática, sem dúvida, não só naquele tempo, mas também nos dias atuais! Com quanta frequência não ouvimos a desculpa: “isso (essa ação ou atitude com respeito ao meu próximo, minha família, meu negócio, meu país, etc.) não tem nada que ver com minha religião”?
Jesus, discordando de forma radical, responde: Portanto, se quando você levar sua oferta ao altar, você se lembrar que seu irmão tem uma queixa contra você, deixa a sua oferta ali diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; então, volte e apresente a sua oferta. (Mt 5.23,24).
Texto extraído do comentário do novo testamento Mateus vl. 1 William Hendreiksen editora cultura Cistã.
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