sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

QUARTA BEM-AVENTURANÇA

Mt 5.6
Bem-Aventurados os famintos e os sedentos de justiça, porque eles serão plenamente saciados.


Esta justiça consiste em uma perfeita conformidade com a santa lei de Deus, ou seja, com a sua vontade. É antes de tudo uma justiça por imputação: “Ele [Abraão] creu no Senhor, e isso lhe foi computado por justiça” (Gn 15.6). O homem é incapaz de merecer esse direito diante de Deus. Nenhuma soma de boas obras poderá expiar seu pecado. De fato, “Toda as nossas justiças[são] como trapo de imundícia” (Is 64.6). Nenhum tipo de purificação humana, seja cerimonial ou de outro tipo, pode lavar o pecado: Pelo que ainda que te laves com salitre, e amontoes potassa, continua a mácula da tua iniqüidade perante mim, diz o Senhor Deus”(Jr 2.22). Nenhum mero ser humano é capaz de fazer expiação pelo pecado de seu irmão: “Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode redimir, nem pagar por ele a Deus o seu resgate” (Sl 49.7). De fato, no tocante ao próprio homem, a situação é inteiramente sem remédio. Sua necessidade principal, básica e irremediável é estar ele em perfeita harmonia com Deus; e este é também o alvo que ele jamais poderá atingir: “como pode o homem ser justo para com Deus?”(Jó 9.2).
Nessa situação irremediável e horrível foi que o filho de Deus, de sua glória e soberania, entrou. Foi ele(juntamente com o Pai e o Espírito, o único e verdadeiro Deus) que veio para o resgate, quando todos os demais fracassaram. “Então disse: eis aqui estou, no rolo do livro está escrito a meu respeito; agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração está tua lei”(Sl 40.7,8). A maneira como resgate do pecador seria realizado e a salvação providenciada retratada em Is 53: “Mas ele foi traspassado pela nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidade; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo cainho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos”(vv.5 e 6). E assim Emanuel foi destinado a ser “o Senhor justiça nossa”(Jr 23.6). Por intermédio dele, como uma redenção, os pecados de seu povo foram livremente perdoados, de tal modo que Davi podia cantar: “Bem-aventurado é aquele cuja a iniqüidade é perdoada, cujo pecado é coberto” Sl 32.1.
Tudo isso, normalmente, era do conhecimento de Jesus quando disse: “Bem-aventurados são os que tem fome e sede de justiça.” Mesmo durante a sua vivencia terrena ele era plenamente conhecedor de sua função como substituto. Não foi precisamente com finalidade de exercer esse oficio que ele deixou o seu lar celestial?(2Co 8.9). E não era precisamente em favor de seu povo que ele iria derramar seu sangue?(Lc 22.19,20; 1Co 11.24,25; cf. Jo 10.11,28; At 20.28; Ef 1.7,14; Cl 1.14; Hb 9.12; 1Pe 1.19; Ap 5.9). Além disso, o fato de que a justiça do homem está baseada na misericórdia de Deus e não nas obras ou méritos humanos é uma verdade que não carecia esperar por Paulo(Rm 4.3,9; Gl 3.6) para ser descoberta . Não apenas por Moisés(Gn 15.6) e Davi(Sl 32.1) a conheciam, mas certamente o Fariseu e o Publicano(Lc 18.9-14; ver especialmente os vv. 13e 14). É verdade que o ensino do Antigo Testamento e o de Jesus preparam o caminho para uma exposição mais detalhada e mais ampla dessa doutrina pelo apóstolo dos gentios.
Não obstante, é evidente que aqui em Mt 5.6 Cristo se refere a uma justiça não meramente por imposição, mas também por comunicação; refere-se não meramente a uma condição jurídica, mas também uma conduta ética; pode-se ver isso de forma clara por meio de Mt 6.1: “Cuidem para que não pratiquem a sua justiça diante do povo”, e ver também Mt 5.10,20-48. As duas (justiças) são inseparáveis. Embora seja impossível que as boas obras justifiquem alguém, é igualmente impossível que uma pessoa justificada possa viver sem praticar boas obras. O termo “justiça”, na forma usada por Cristo, é, portanto, muito abrangente, envolvendo tanto a de caráter forense como a caráter ético.
A relação entre a justiça apresentada por Cristo e a “justiça dos fariseus” está em que a primeira é interior, e a segunda é geralmente exterior; a primeira é do coração, a segunda é predominantemente de aparência exterior; a primeira é genuína, a segunda é com muita freqüência um produto falsificado. Cf. Mt 5.20-6.18.
“ Porque eles serão plenamente saciados” (literalmente: “cheios”). Notar, contudo, que não se trata daqueles que meramente sentem que “algo vai mal”, mas somente aqueles que têm “fome e sede” de justiça é que serão cheios. A justiça imputada e comunicada por Deus deve ser um objetivo de intenso desejo, de ardente anelo e de busca incansável. Cf. Sl 42.1: “Como suspira a corsa pelas correntes das águas...” Cf. Is 55.1; Am 8.1; Jo 4.34; 6.35; 7.37 Ap 22.17.
Como esta fome e sede de justiça serão plenamente saciadas? Pela imputação dos méritos de Cristo. Assim obtemos uma justiça de condição. Pela obra santificadora do Espírito Santo. Assim obtemos uma justiça de condição interior e conduta exterior. Cf Rm 8.3 – 5; 2Co 3.18; 2Ts 2.13. Estas duas (justiças) são inseparáveis: aqueles por quem Cristo morreu são justificados pelo Espírito Santo. Portanto, aqueles cujos pecados são perdoados oferecem sacrifício de ações de graças.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

TERÇEIRA BEM-AVENTURANÇA

(Mt 5.5)
“Bem-Aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra”.

Há bem pouca diferença entre “ser pobre em espírito” e ser “manso”. Não obstante, existe uma ligeira distinção, ou seja, que a primeira designação descreve o homem mais como é ele em si mesmo, ou seja, de coração quebrantado, enquanto a segunda o retrata mais especificamente em sua relação com Deus e com seu semelhante.
O que diz aqui sobre o indivíduo manso é um eco de Sl 37.11,22,29,34. Portanto, a fim de sabermos o que se quer dizer pela expressão “os mansos”, faremos bem derivando desse salmo o conteúdo desse conceito. Ele descreve a pessoa que não se ressente. Ela não guarda rancor. Longe de seguir ruminando as injúrias recebidas, ela encontra seu refúgio no Senhor e confia-lhe inteiramente o seu caminho. Tudo ela faz em virtude do fato de que já morreu para toda pretensão de ser justa em si mesma. Ela sabe que não pode reivindicar qualquer merecimento diante de Deus (cf. Sl 34.18;51.17). visto que o favor de Deus significa tudo para tal pessoa, ela aprendeu a suportar com alegria “o espólio de seus bens... sabendo que uma herança melhor e durável a aguarda”(Hb 10.34). Contudo, mansidão não é sinônimo de fraqueza. A mansidão não consiste em falta de firmeza de caráter, uma característica da pessoa que está pronta a curva-se ao sabor de toda brisa. Mansidão é submissão ante qualquer provação, a disposição de sofrer dano ao invés de causá-lo. A pessoa mansa deixa tudo nas mãos daquele que ama e que se importa.
A bem-aventurança dos mansos consiste em que “eles herdarão a terra”. Em certo sentido herdam-na desde já, e isso por varias razões: a. por não darem a devida atenção ao seu próprio enriquecimento, mas, antes, em cumprir sua tarefa na terra; em outras palavras, ao buscar em primeiro lugar acima de tudo o reino de Deus e a sua justiça, “todas essas coisas” ( comida, roupa, etc.) lhe são graciosamente concedida como um dom especial (Mt 6.33). b. Sua própria mansidão os faz uma benção para seus semelhantes, alguns dos quais os abençoarão (Mc 10.30; At 2.44,45; 16.15; Fp 4.18). c. Talvez possuam apenas uma pequena porção desta terra ou de bens terrenos, porém uma pequena porção com a benção de Deus repousando sobre ela é muito mais que as maiores riquezas sem a benção de Deus.
Exceto num sentido muito formal e legal, um homem cuja alma é atingida pelo medo do juízo vindouro possui realmente seus bens terrenos? Ele os possui no sentido de desfrutá-los? Certamente que não! Não é ele quem os possui, e,sim, são eles que o possuem a ele! Uma comparação de duas passagens do livro de Isaías revela quem são de fato os que herdarão a terra:
“Tu Senhor, conservarás em perfeita paz àquele cujo propósito é firme; porque ele confia em ti”(Is 26.3).
“Para os perversos, todavia, não há paz, diz o Senhor”(Is 48.22).
Não são os homens do mundo, e, sim, são os mansos os que sabem que Rm 8.28 é a plena verdade. Portanto, eles – e somente eles! – são os que possuem a terra.
Entretanto, o cumprimento mais pleno da promessa está reservado para o futuro, quando, na volta de Cristo em glória, os mansos herdarão o novo céu e a nova terra, o universo renovado, e no qual habitará a justiça para sempre (AP 21.1).
Herdar a terra indica o seguinte:
a. O cidadão do reino tem direito, pela graça, e esta possessão.Justificar
b. Ele certamente a receberá como tesouro inalienável;
c. Ele precisará – e nem mesmo pode – ganhá-la por merecimento próprio
Das profundezas de sua consciência de pobreza espiritual, de seu pranto pelo pecado e de sua mansidão, os cidadãos do reino clamam a Deus pela plena satisfação de sua necessidade espiritual básica, ou seja,a justiça.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

SEGUNDA BEM AVENTURANÇA

MT 5:4

“Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.”

De fato, Bem-aventurada é aquela pessoa que, tendo dito: “ Eu aqui pereço de fome”, segue dizendo: “Pai, pequei contra ti.” As pessoas choram por muitas razões: enfermidades, dor, luto, perda material, orgulho ferido, etc. No presente contexto, contudo, o que se vê é um tipo de choro basicamente diferente.
Não é necessário, contudo, limitar esse choro ao que ocorre em decorrência dos próprios pecados individuais de uma pessoa: aqueles pelos quais pessoalmente ofendeu a Deu. Esse tipo de tristeza pode ser deveras pungente(Sl 51.4). Sem dúvidas, porém, mais do que isso é incluso. O regenerado aprende a amar a Deus de tal forma que começará a chorar diante de “ todas as obras ímpias que os ímpios têm cometido de uma forma muito ímpia”(Jd 15). O seu pranto, pois, está centrado em Deus, não no homem. Eles “suspiram e clamam” não somente diante de seus próprios pecados, não somente ante a soma destes com o poder dos ímpios em oprimir os justos(Hb1.4; 2Tm3.12), mas por causa da transgressão do cativeiro”(Ez 9.4).Dilacera-lhes o fato de que Deus, o seu próprio Deus a quem ama, está sendo desonrado. Cf Sl 139.21. Esse tipo de tristeza – “para glória de Deus” – é também notavelmente expresso em Sl 119.136: “ Torrentes de água nascem dos meus olhos, porque os homens não guardam a tua lei.” Ver também Ed 10.6. Em um comovente capítulo, ao prantear e fazer confissão de pecado, Daniel combina seus pecados pessoais com o de seu povo (Dn 9.1-20). Ao proceder assim, ele roga “Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa, atende-nos e age; não te retardes, por amor de ti mesmo, ó Deus meu; porque a tua cidade e o teu povo são chamados pelo teu nome” (v.19).
A poderosa onda de emoção que caracteriza a efusão do coração expressa em Sl.119 e Dn 9 se coaduna com o presente contexto, pois a palavra traduzida por chorar, na segunda Bem-aventurança, indica uma tristeza que emana do coração, toma posse da pessoa toda e se manifesta exteriormente.
A Bem-aventurança dessas pessoas consiste nisto: serão consoladas. A tristeza piedosa faz a alma olhar para Deus. Deus, por sua vez, confere consolo aos que buscam para si ajuda dele. É ele quem perdoa, liberta, fortalece e acalma (Sl 30.5; 50.15; Is 15.6,7; Mq 7.18-20; Mt 11.28-30). Assim as lágrimas, como as gotas de chuva, caem na terra e sobem na forma de flores(Sl 126.5; Ec 7.3; Jo 14).
Ás vezes o consolo consiste em que a própria aflição é removida(2Cr 20.1-30; 32.9-23; Sl 116; Sl 38; At 12.5 etc.). entretanto, com freqüência a aflição permanece por algum tempo, mas um peso de glória supera a dor (2Co 4.17; 12.8,9).
Pergunta: Qual é o seu consolo tanto na vida como na morte?
Resposta: Que eu, de corpo e alma, tanto na vida como na morte, não pertenço a mim mesmo, mas ao meu fiel Salvador Jesus Cristo que, com seu precioso sangue, fez plena satisfação por meus pecados e me livrou de todo o poder do diabo, de tal maneira me guarda que sem a vontade de meu Pai celestial nem um só cabelo de minha cabeça pode cair; antes, é necessário que todas as coisas sirvam para minha salvação. Por isso também me assegura, por meio de seu Espírito Santo, a vida eterna, e me faz pronto e disposto a viver doravante segundo a sua vontade. (2Tm 1.2; 4.7,8; AP 17.14; 19.7).




“Lembre-se, se algo vai mal em nossa vida, é porque não vamos bem espiritualmente”.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

BEM-AVENTURANÇAS

Mt 5.3

“Bem-aventurados (são) os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.

O mundo diz exatamente o oposto: “Bem-aventurados são os ricos”, etc. “Jesus diz: Bem-aventurados são os pobres, os que choram, os mansos”. Motivo a condição exterior de alguém poderia ser muitíssimo invejável; no entanto, no final ela se desvanece como um sonho. Deus jamais fez uma alma tão pequena que fique satisfeita com o mundo inteiro. Toda via, são eternos o estado interior e o caráter da alma. Cf. Lc.12.15; 1Co 7.31.
Entretanto, Jesus não proclama que essas pessoas são bem-aventuradas em virtude de serem pobres de bens materiais, ainda da que, em sua maioria, também o sejam. São chamadas de bem-aventuradas por serem pobres em espírito, não em espiritualidade, porém “com respeito a” seus respectivos espíritos; ou seja, são aquelas que se convenceram de sua pobreza espiritual. Tornaram-se consciente de sua miséria e necessidade. Seu velho orgulho foi quebrado. Puseram-se a clamar. “Ó Deus, sê propício a mim, pecador”(Lc 18.13). São de um espírito contrito e tremente diante da Palavra de Deus(Is 66.2; 55.15). Percebam sua total incapacidade(Rm 7.24), não esperam nada de se mesma, e, sim esperam tudo em Deus.
Deles – e tão-somente deles! - , desde agora, é o reino dos céus, ou seja, a completa salvação, a soma total das bênçãos que resultam quando se conhece Deus como rei sobre o coração e a vida. É deles mesmo agora, em princípio. Portanto, são declarados bem-aventurados.
O livro do apocalipse contém duas passagens vívidas que mostram, respectivamente: a) como pode alguém ser pobre embora se julgue rico, e b) Como pode uma pessoa ser rica em meio à sua pobreza. Jesus Cristo, o ressurreto e exaltado, o visitador da igreja, se dirige à insensível Laodicéia da seguinte maneira: 16 Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca;17 pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.(Ap 3.16;17).
Entretanto, ele se deleita com a igreja de esmirna, dizendo: “ Conheço as tuas tribulação (ou aflição), a tua pobresa, mas és rico”(Ap 2.9)
Como, pois, pode o pobre ser considerado rico? A resposta se encontra em passaens extemamente significativa, como: “tenho fartura” (Jacó a Esaú, Gn 33.11); e “todas aas coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”(Rm 8.28). _ara maior confirmação dessa glorosa verdade, ver Sl 23; 63; 73.23-26; 81.10; 116; Pv 15.16; 16.8,19; Jo 1.16; 14.1-3; 17.24; Rm 8.31-39; 1Co 3.21-23; 2Co 4.8; Ef 1.3; 1Pe 1.3-9; 1Jo 5.4; Ap 7.9-17; 17.14; 21.1-7.

Esta série de estudos sobre as bem-aventuranças foram extraidos do comentário do Novo Testamento de William Hendriksen; Mateus volume 1 (editora Cultura Cristã).

“Lembre-se, se algo vai mal em nossa vida, é porque não vamos bem espiritualmente”.



quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O PECADO



PECADO Desvio moral do ser humano que o leva a uma conduta ofensiva aos olhos de Deus. O pecado impede o relacionamento com Deus. No AT há uma série de palavras que expressam o significado da palavra pecado: ação deliberada e enganosa, contrária à vontade de Deus expressa na Lei. O pecado se encontra em indivíduos, tribos e nações. A sua origem está na desobediência de Adão e Eva (Gn 3); os profetas o denunciaram e condenaram (Jr 9.3; Ez 4.6,17). Alguns sacrifícios estabelecidos na Lei (Lv 4.3; Nm 7.16) eram oferecidos para a expiação dos pecados. Deus enviou o seu Filho ao mundo por causa do pecado (Jo 1.29). Jesus, o Filho de Deus, é o amigo dos pecadores, os quais ele veio salvar (Lc 5.30,32; 7.34). Ele tira o castigo e neutraliza o poder do pecado (Rm 6.2; 1Jo 3.6,9; 5.18) pelo dom do seu Espírito (Rm 8).


Pecado, no original, significa errar o alvo. Pecado é erro, transgressão, iniquidade, contravenção, violação à lei de Deus, injustiça. E dessemelhança de Deus. Pecado é crime contra Deus. E orientação contra Deus (Sl 51.4; Rm 8.7). É transgressão da lei (1 Jo 3.4). A lei é o transcrito da perfeição de Deus. Por isso deve ser observada e cumprida para não macular a honra divina. Só Jesus a cumpriu (Mt 5.17; Jo 8.46; 7.19). O pecado já estava no universo antes da formação de Adão e Eva. Isso é evidente pela presença do tentador no Jardim do Éden. O ataque de Satanás foi contra a integridade e a veracidade de Deus, e a alegação por que seduziu foi que eles seriam tais como Deus, conhecendo o bem e o mal (Gn 3.5). Eva cedeu ao tentador o lugar que pertencia exclusivamente a Deus; cobiçou para si mesma as prerrogativas divinas. A disposição de confabular com o tentador e não ter reagido contra suas sugestões desvenda o processo que precedeu o ato de comer do fruto proibido. Aqui temos a origem do pecado. O pecado não se origina em ação ao acaso, mas procede do coração e da mente. Adão e Eva primeiro se alienaram de Deus, depois cometeram a transgressão. Mas, impelidos por sua própria concupiscência, caíram em tentação. O mandamento violado era a síntese exibida da autoridade, da bondade, da justiça, da fidelidade e da graça de Deus (Gn 2.16,17). A transgressão de Adão e Eva significou o repúdio à autoridade divina, a dúvida sobre sua bondade. Não apenas houve alteração na atitude de nossos pais para com Deus, mas também na atitude de Deus para com eles: reprovação, condenação, maldição, expulsão (do jardim) (Gn 3.13-19, 23, 24). A queda teve conseqüência não só sobre Adão e Eva mas para todos os seus descendentes. Houve uma solidariedade racial no pecado. Seus efeitos se estenderam até o cosmo: “Maldita é a terra por tua causa” (Gn 3.17). O homem, como a coroa da criação, é o vice-regente de Deus (Gn 1.26). O salário do pecado é a morte. Como todos pecaram, a morte passou a todos os homens (Rm 3.23; 6.23; 5.12; Sl 51.5). O pecado caracteriza:

1. Como um ato, é um transgredir ou ir contrário à lei de Deus (1 Jo 3.4).

2. Como um estado, é a falta de conformidade com Deus na mente e no coração.

3. Como um princípio, é rebelião contra Deus. É recusar fazer a vontade de Deus.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

MENSAGEM DE MEDITAÇÃO

Mentes grandes discutem idéias; mentes medianas discutem eventos e fatos; mentes pequenas discutem pessoas. Não podemos crer na total transparência das pessoas, é preciso aceitar que os outros tem segredos, regiões de solidão. A maior prova de amor é colocar-se a distância e não querer forçar a entrada. Deus dar alimentos a todos os pássaros; mas não os joga no ninho; Deus ajuda, mas também espera que você no mínimo faça a sua parte. Aquele que perde dinheiro perde muito; aquele que perde amigos perde muito mais; aquele que perde a fé pede tudo! Pessoas jovens e belas são obras da natureza; pessoas idosas e belas são obras de arte, e ambas são obras de Deus. Aprenda com os erros alheios, você não conseguirá viver tempo suficiente para cometê-los todos sozinho. A língua pesa praticamente nada, mas poucas pessoas conseguem segura-la. Amigos, eu e você, você trouxe outro amigo já formamos um time, e esse time não tem começo nem fim. O diferencial da vida é viver com amor e buscar diariamente o verdadeiro sentido de viver; ser feliz é está com Deus. Não espere um sorriso para ser gentil; não espere ser amado para amar; não espere ficar sozinho para reconhecer o valor de um amigo; não espere ficar de luto para reconhecer quem hoje é importante em sua vida; não espere o melhor emprego para começar a trabalhar; não espere a queda para lembrar-se do conselho; não espere! Não espere a enfermidade para reconhecer quão frágil é a vida; não espere encontrar a pessoa perfeita para então se apaixonar; não espere a mágoa para pedir perdão; não espere a separação para buscar a reconciliação; não espere a dor para acreditar na oração; não espere elogios para acreditar em se mesmo; não espere! Não espere ter tempo para servir; não espere que o outro tome a iniciativa se você foi o culpado; não espere ouvir eu te amo para dizer eu também; não espere ter dinheiro aos montes para então contribuir; não espere o dia de sua morte sem antes amar a vida, ENTÃO O QUE VOCÊ ESTÁ ESPERANDO?

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A Caixa do Correio

Na África do Sul um homem recebeu um aviso do correio. Era um pacote. Tinha que pagar U$4,00 para retirá-lo.
Pegou o pacote, examinou-o, mas não conseguiu identificar o que tinha dentro. Não quis pagar os U$4,00. O pacote ficou 15 anos no correio.
A caixa era levada de um lugar para outro dentro da agência do correio. Muitas vezes era usada para apoiar os pés.
Até que um dia o dono da caixa morreu. A caixa foi então leiloada, mas ninguém queria dar nada por ela. Até que alguém resolveu dar um lance de U$0,50.
Ao abrir o pacote… Surpresa!!! Tinha dentro dele 15 mil dólares.
O que aconteceu com aquela caixa freqüentemente acontece com a Bíblia. A Bíblia é rejeitada como algo sem valor.
Mas há dentro dela uma riqueza de valor infinito: Jesus Cristo - A Vida Eterna.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

TEMPO PARA ORAR?

Daniel, pois, quando soube que a escritura estava assinada, entrou em sua casa(ora, havia no seu quarto janelas abertas da banda de Jerusalém), e três vezes no dia se punha de joelhos e orava, e dava graças, diante de Deus, como também antes costumava fazer.(Dn 6:10)


Há muitas pessoas, hoje, que dizem por aí que não tem muito tempo para orar. O trabalho preenche tanto o seu tempo que não conseguem encontrar uma folga para falar com Deus. Eles estão tão ocupados que não conseguem pedir a Deus para que os livres das tentações cotidiana. "Estou tão ocupado" - insistem.

Lembro-me das palavras de um velho metodista: "Se você está muito ocupado cuidando de seus interesses a ponto de não teres nenhum tempo para orar, isso quer dizer que você tem mais trabalho em suas mãos para realizar do que Deus gostaria que tivese".

Olhe para Daniel. Ele fazia de tudo, ou quase tudo, no governo do rei Nabucodonosor. Ele era o Primeiro Ministro, o Secretário do Estado e Secretário do Tesouro, tudo estava em suas mãos. Ele tinha de executar todo o seu trabalho e ainda fiscalizar o de outros homens. Mesmo assim, Daniel encontrava tempo para orar- não só de vez em quando, não só quando ele achava que poderia gastar alguns minutos sem ter que prejudicar o seu trabalho; ele orava três vezes ao dia.

Como a tensão, os negócios e horários superlotados na agenda impedem nossas vidas espirituais? De que forma você pode tornar a sua vida menos atarefada e assim ter mais tempo para os seus momentos de oração?

Reflita


D.L. Mood

terça-feira, 8 de julho de 2008

TEOLOGIA

O que é? Por que a Teologia é exaltada e em determinados momentos criticada, ou seja, condenam o fato de se estudar a Bíblia de forma bem acurada? O que está por trás de tantas controvérsias em torno deste termo? Controvérsias causadas pelo próprio povo que julga defendê-la.Etimologicamente é uma palavra de origem grega: THEO(Deus) e LOGOS( tratado, palavra, expressão ). Ou seja, THEOLOGIA é, em termos gerais, um tratado a respeito de Deus. Um estudo acerca de Deus e do sistema doutrinário gerado pela Sua pessoa e Seu caráter.Falar sobre Deus, em si, já é um desenvolvimento da Teologia. Todavia, falar de Deus, requer qualificação também. Por isso Ele levanta pessoas com ministérios específicos. Aqui começa um grande divisor, muitas pessoas que servem a Este tão Grandioso Deus não aceitam este argumento como verdadeiro.Aceitem ou não a TEOLOGIA é uma ciência, pois obedece a normas de pesquisa e levantamento de fatos de forma ordenada. Segue esquemas, ordens de desenvolvimento doutrinário e da metodologia científica. A Teologia não gera DEFINIÇÃO, ela gera CONCEITOS.DEFINIÇÃO é uma visão restrita acerca de determinado assunto. É tema limitado.CONCEITO é uma visão ampla acerca de determinado assunto. Não é limitado, pois Deus não é limitado. Deus se revela nas Escrituras sob vários aspectos com vários nomes que Ele mesmo se identifica. Pode se ter vários conceitos acerca de Deus e todos eles em sintonia com as Escrituras.A Teologia, por ser o estudo acerca de Deus, é progressiva. Ou seja, a visão de Deus impressa no homem vai se aperfeiçoando a medida que o homem se aprofunda na pesquisa. Isto quer dizer que: uma afirmativa que alguém faz hoje sobre determinado assunto relacionado com Deus, pode ser aperfeiçoada amanhã. De repente o que eu afirmo hoje, posso não concordar amanhã pois Deus pode ter aperfeiçoado a minha visão.Há na história da humanidade o registro de pessoas que fundaram até seitas por ter uma visão distorcida de Deus e que obtiveram entendimento posteriormente. Reconheceram suas deficiências e retrocederam ao ponto de origem.Deus disse para Abrão: "Anda na minha presença e sê perfeito" ( Gn 17:1 )
A) - QUANTO AO MÉTODO, A TEOLOGIA EXIGE PARTICULAR DEFINIÇÃO:
1. TEOLOGIA NATURAL: baseada sobre os fatos referentes a Deus e o Seu universo. Estão reveladas na natureza.
2. TEOLOGIA REVELADA : sua base está nos fatos revelados através das Escrituras.
3. TEOLOGIA BÍBLICA : é a exposição do conteúdo doutrinário e ético da Bíblia.
4. TEOLOGIA PROPRIAMENTE DITA: contempla apenas a Pessoa de Deus.
5. TEOLOGIA HISTÓRICA : preocupa-se com as variações sectárias distintas e afastamentos heréticos da verdade bíblica surgidos no período cristão.
6. TEOLOGIA DOGMÁTICA: verdade dogmática defendida com certeza.
7. TEOLOGIA ESPECULATIVA: verdade teológica defendida no terreno abstrato e à parte de sua importância prática.
8. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO: restringe-se somente ao Antigo Testamento (Vetero-testamentária).
9. TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO: restringe-se somente ao Novo Testamento. ( Neo-testamentária )
10. TEOLOGIAS PAULINAS, JOANINA E PETRINA: restingem-se as obras das pessoas indicadas - Paulo, João e Pedro.
11. TEOLOGIA PRÁTICA: trata da aplicação da verdade ao coração dos homens.
12. TEOLOGIA SISTEMÁTICA: é a coleção, cientificamente arrumada, comparada, exibida e defendida de todos os fatos de toda e qualquer fonte referente a Deus e suas obras. Segue uma forma de tese idealizada, apresenta e verifica a verdade como verdade.
A TEOLOGIA SISTEMÁTICA é dividida da seguinte forma:
· BIBLIOLOGIA: estudo das Escrituras Sagradas
· TEOLOGIA PROPRIAMENTE DITA: estuda os fatos relacionados a Deus, sem se deter nas Suas obras.
· CRISTOLOGIA: o tema central é Jesus Cristo, como apresentado nas Escrituras.
· PNEUMATOLOGIA: estudo da Pessoa do Espírito Santo.
· ANGEOLOGIA: fatos relacionados aos anjos - santos e caídos.
· ANTROPOLOGIA: fatos relacionados aos homem, dentro da visão bíblica.
· HARMATIOLOGIA: fatos relacionados ao pecado.
· SOTERIOLOGIA: fatos relacionados com a salvação.
· ECLESIOLOGIA: fatos relacionados com a Igreja de Cristo.
· ESCATOLOGIA: estudo das últimas coisas.
· TEOLOGIA PRÁTICA OU ÉTICA: estuda o caráter e o comportamento do cristão segundo o padrão das Escrituras.

B) - NOVAS TENDÊNCIAS DA TEOLOGIA
1. O ESPÍRITO MODERNO: defende que doutrinas a respeito da morte, da eternidade, do juízo e as conseqüências eternas das decisões temporais se apresentam, agora, ultrapassadas.
2. CETICISMO MODERNO: tem confundido os cristãos. Com o surgimento dos "deístas" estão negando o fato de que Deus exerce o controle sobre o mundo de modo direto e total.


Teologia Sistemática

I. DEFINIÇÕES DE DEUS:

A) Definição Filosófica de Platão:
Deus é o começo, o meio e o fim de todas as coisas. Ele é a mente ou razão suprema; a causa eficiente de todas as coisas; eterno, imutável, onisciente, onipotente; tudo permeia e tudo controla; é justo, santo, sábio e bom; o absolutamente perfeito, o começo de toda a verdade, a fonte de toda a lei e justiça, a origem de toda a ordem e beleza e, especialmente, a causa de todo o bem.
B) Definição Cristã do Breve Catecismo:
Deus é um Espírito, infinito, eterno e imutável em Seu Ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade.
C) Definição Combinada:
Deus é um espírito infinito e perfeito em quem todas as coisas tem sua origem, sustentação e fim (Jo.4:24; Ne.9:6; Ap.l:8; Is.48:12; Ap.1:17).
D)Definições Bíblicas:
As expressões "Deus é Espírito" (Jo.4:24) e "Deus é Luz " (IJo.1:5), são expressões da natureza essencial de Deus, enquanto que a expressão "Deus é amor" (IJo.4:7) é expressão de Sua personalidade. (ITm.6:16)
II. ESSÊNCIA OU NATUREZA DE DEUS:
Quando falamos em essência de Deus, queremos significar tudo o que é essencial ao Seu Ser como Deus, isto é, substância e atributos.
A) Substância de Deus:
1) Há duas substâncias: matéria e espírito.
2) Deus é uma substância simples: A substância de Deus é puro espírito, sem mistura com a matéria (Jo.4:24).
B) Atributos de Deus:
Sua substância é Espírito e Seus atributos são as qualidades ou propriedades dessa substância. Atributos é a manifestação do Ser de Deus.

III. CLASSIFICAÇÃO DOS ATRIBUTOS:

A) Naturais e Morais:
Também chamados de "intransitivos e transitivos", "incomunicáveis e comunicáveis", "absolutos e relativos", "negativos e positivos" ou "imanentes e emanentes".

B) Atributos Naturais:
1) Vida: Deus tem vida; Ele ouve, vê, sente e age, portanto é um Ser vivo (Jo.10:10; Sl.94:9,l0; IICr.16:9; At.14:15; ITs.1:9). Quando a Bíblia fala do olho, do ouvido, da mão de Deus, etc., fala metaforicamente. A isto se dá o nome de antropomorfismo. Deus é vida (Jo.5:26; 14:26) e o princípio de vida (At.17:25,28).
2) Espiritualidade: Deus, sendo Espírito, é incorpóreo, invisível, sem substância material, sem partes ou paixões físicas e, portanto, é livre de todas as limitações temporais (Jo.4:24; Dt.4:15-19,23; Hb.12:9; Is.40:25; Lc.24:39; Cl.1:15; ITm.1:17; IICo.3:17)
3) Personalidade: Existência dotada de auto-consciência e auto-determinação (Ex.3:14; Is.46:11).
a) Volição ou vontade = querer (Is.46:10; Ap.4:11).
b) Razão ou intelecto = pensar (Is.14:24; Sl.92:5; Is.55:8).
c) Emoção ou sensibilidade = sentir (Gn.6:6, IRs.11:9, Dt.6:15; Pv.6:16; Tg.4:5)
4) Tri-Unidade:
a) Unidade de Ser: Há no Ser divino apenas uma essência indivisível. Deus é um em sua natureza constitucional. A palavra hebraica que significa um no sentido absoluto é yacheed(Gn.22:2), isto é, uma unidade numérica simples. Essa palavra não é empregada para expressar a unidade da divindade. A unidade da divindade é ensinada nas palavras de Jesus: Eu e o Pai somos um. (Jo.10:30). Jesus está falando da unidade da essência e não de unidade de propósito. (Jo.17:11,21-23, IJo.5:7)
b) Trindade de Personalidade: Há três Pessoas no Ser divino: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A palavra hebraica que significa um no sentido de único é echad que se refere a uma unidade composta. Esta palavra é empregada para expressar a unidade da divindade. Esta palavra é usada em Dt.6:4; Gn.2:24 e Zc.14:9 (Veja também Dt.4:35;32:39; ICr.29:1; Is.43:10;44:6;45:5; IRs.8:60; Mc.10:9;12:29; ICo.8:5,6; ITm.2:5; Tg.2:19; Jo.17:3; Gl.3:20; Ef.4:6).
c) Elohim: Este nome está no plural e não concorda com o verbo no singular quando designativo de Deus (Gn.1:26;3:22; 11:6,7;20:13;48:15; Is.6:8)
d) Há distinção de Pessoas na Divindade: Algumas passagens mostram uma das Pessoas divinas se referindo à outra (Gn.19:24; Os.1:7; Zc.3:1,2; IITm.1:18; Sl.110:1; Hb.1:9).
5) Auto-Existência: Jerônimo disse: Deus é a origem de Si mesmo e a causa de Sua própria substância. Jerônimo estava errado, pois Deus não tem causa de existência, pois não criou a Si mesmo e não foi causado por outra coisa ou por Si mesmo; Ele nunca teve início. Ele é o Eterno EU SOU (Ex.3:14), portanto Deus é absolutamente independente de tudo fora de Si mesmo para a continuidade e perpetuidade de Seu Ser. Deus é a razão de sua própria existência (Jo.5:26; At.17:24-28; ITm.6:15,16).
6) Infinidade ou Perfeição: É o atributo pelo qual Deus é isento de toda e qualquer limitação em seu Ser e em seus atributos (Jó.11:7-10; Mt.5:48). A infinidade de Deus se contrasta com o mundo finito em sua relação tempo-espaço.
a) Eternidade: A infinidade de Deus em relação ao tempo é denominada eternidade. Deus é Eterno (Sl.90:2; 102:12,24-27; Sl.93:2; Ap.1:8; Dt.33:27; Hb.1:12). A eternidade de Deus não significa apenas duração prolongada, para frente e para traz, mas sim que Deus transcende a todas as limitações temporais (IIPe.3:8) existentes em sucessões de tempo. Deus preenche o tempo. Nossa vida se divide em passado, presente e futuro. mas não há essa divisão na vida de Deus. Ele é o Eterno EU SOU. Deus é elevado acima de todos os limites temporais e de toda a sucessão de momentos, e tem a totalidade de sua existência num único presente indivisível (Is.57:15).
b) Imensidão: A infinidade de Deus em relação ao espaço é denominada imensidão ou imensidade. Deus é imenso (Grande ou Majestoso; Jó.36:5,26; Jó.37:22,23; Jr.22:18; Sl.145:3). Imensidão é a perfeição de Deus pela qual Ele transcende (ultrapassa) todas as limitações espaciais e, contudo está presente em todos os pontos do espaço com todo o seu Ser PESSOAL (não é panteísmo). A imensidão de Deus é intensiva e não extensiva, isto é, não significa extensão ilimitada no espaço, como no panteísmo. A imensidão de Deus é transcendente no espaço (intramundano ou imanente = dentro do mundo - Sl.139:7-12; Jr.23:23,24) e fora do espaço (supramundano = acima do mundo; extramundano = além do mundo; emanente = fora do mundo - IRs.8:27; Is.57:15).
c) Onipresença: É quase sinônimo de imensidão: A imensidade denota a transcendência no espaço enquanto que a onipresença denota a imanência no espaço. Deus é imanente em todas as Suas criaturas e em toda a criação. A imanência não deve ser confundida com o panteísmo (tudo é Deus) ou com o deísmo que ensina que Deus está presente no mundo apenas com seu poder (per portentiam) e não com a essência e natureza de ser Ser (per essentiam et naturam) e que age sobre o mundo à distância. Deus ocupa o espaço repletivamente porque preenche todo o espaço e não está ausente em nenhuma parte dele, mas tampouco está mais presente numa parte que noutra (Sl.139:11,12). Deus ocupa o espaço variavelmente porque Ele não habita na terra do mesmo modo que habita no céu, nem nos animais como habita nos homens, nem nos ímpios como habita nos piedosos, nem na igreja como habita em Cristo (Is.66:1; At.17:27,28; Compare Ef.1:23 com Cl.2:9).
7) Imutabilidade: É o atributo pelo qual não encontramos nenhuma mudança em Deus, em sua natureza, em seus atributos e em seu conselho.
a) A "base" para a imutabilidade de Deus: É Sua simplicidade, eternidade, auto-existência e perfeição. Simplicidade porque sendo Deus uma substância simples, indivisível, sem mistura, não está sujeito a variação (Tg.1:17). Eternidade porque Deus não está sujeito às variações e circunstâncias do tempo, por isso Ele não muda (Sl.102:26,27; Hb.1:12 e 13:8). Auto-existência porque uma vez que Deus não é causado, mas existe em Si mesmo, então Ele tem que existir da forma como existe, portanto sempre o mesmo (Ex.3:14). E perfeição porque toda mudança tem que ser para melhor ou pior e sendo Deus absolutamente perfeito jamais poderá ser mais sábio, mais santo, mais justo, mais misericordioso, e nem menos. Por isso Deus é imutável como a rocha (Dt.32:4).
b) Imutabilidade não significa imobilidade: Nosso Deus é um Deus de ação (Is.43:13).
c) Imutabilidade implica em não arrependimento: Alguns versículos falam de Deus como se Ele se arrependesse (Ex.32:14, IISm.24:16, Jr.18:8; Jl.2:13). Trata-se de antropomorfismo (Nm.23:19; Rm.11:29; ISm.15:29; Sl.110:4).
d) Imutabilidade de Deus em Sua natureza: Deus é perfeito em sua natureza por isso não muda nem para melhor nem para pior (Ml.3:6).
e) Imutabilidade de Deus em Seus atributos: Deus é imutável em suas promessas (IRs.8:56; IICo.1:20); em sua misericórdia (Sl.103:17; Is.54:10); em sua justiça (Ez.8:18); em seu amor (Gn.18:25,26).
f) Imutabilidade de Deus em Seu conselho: Deus planejou os fatos conforme a sua vontade e decretou que este plano seja concretizado. Nada poderá se opor à sua vontade. O próprio Deus jamais mudará de opinião, mas fará conforme seu plano predeterminado (Is.46:9,10; Sl.33:11; Hb.6:17).
8) Onisciência: Atributo pelo qual Deus, de maneira inteiramente única, conhece-se a Si próprio e a todas as coisas possíveis e reais num só ato eterno e simples. O conhecimento de Deus tem suas características:
a) É arquétipo: Deus conhece o universo como ele existe em Sua própria idéia anterior à sua existência como realidade finita no tempo e no espaço; e este conhecimento não é obtido de fora, como o nosso (Rm.11:33,34).
b) É inato e imediato: Não resulta de observação ou de processo de raciocínio (Jó.37:16)
c) É simultâneo: Não é sucessivo, pois Deus conhece as coisas de uma vez em sua totalidade, e não de forma fragmentada uma após outra (Is.40:28).
d) É completo: Deus não conhece apenas parcialmente, mas plenamente consciente (Sl.147:5).
e) Conhecimento necessário: Conhecimento que Deus tem de Si mesmo e de todas as coisas possíveis, um conhecimento que repousa na consciência de sua onipotência. É chamado necessário porque não é determinado por uma ação da vontade divina. (Por exemplo: O conhecimento do mal é um conhecimento necessário porque não é da vontade de Deus que o mal lhe seja conhecido (Hc.1:13) Deus não pode nem quer ver o mal, mas o conhece, não por experiência, que envolve uma ação de Sua vontade, mas sim por simples inteligência, por ser ato do intelecto divino (veja IICo.5:21 onde o termo grego ginosko é usado).
f) Conhecimento livre: É aquele que Deus tem de todas as coisas reais, isto é, das coisas que existiram no passado, que existem no presente e existirão no futuro. É também chamado visionis, isto é, conhecimento de vista.
g) Presciência: Significa conhecimento prévio; conhecimento de antemão. Como Deus pode conhecer previamente as ações livres dos homens? Deus decretou todas as coisas, e as decretou com suas causas e condições na exata ordem em que ocorrem, portanto sua presciência de coisas contingentes (ISm.23:12; IIRs.13:19; Jr.38:17-20; Ez.3:6 e Mt.11:21) apoia-se em seu decreto. Deus não originou o mal mas o conheceu nas ações livres do homem (conhecimento necessário), o decretou e preconheceu os homens. Portanto a ordem é: conhecimento necessário, decreto, presciência. A presciência de Deus é muito mais do que saber o que vai acontecer no futuro, e seu uso no N.T. é empregado como na LXX que inclui Sua escolha efetiva (Nm.16:5; Jz.9:6; Am.3:2). Veja Rm.8:29; IPe.1:2; Gl.4:9. Como se processou o conhecimento necessário de Deus nas livres ações dos homens antes mesmo que Ele as decretasse? A liberdade humana não é uma coisa inteiramente indeterminada, solta no ar, que pende numa ou noutra direção, mas é determinada por nossas próprias considerações intelectuais e caráter (lubentia rationalis = auto-determinação racional). Liberdade não é arbitrariedade e em toda ação racional há um porquê, uma razão que decide a ação. Portanto o homem verdadeiramente livre não é o homem incerto e imprevisível, mas o homem seguro. A liberdade tem suas leis - leis espirituais - e a Mente Onisciente sabe quais são (Jo.2:24,25). Em resumo, a presciência é um conhecimento livre (scientia libera) e, logicamente procede do decreto, "...segundo o decreto sua vontade" (Ef.1:11).
h) Sabedoria: A sabedoria de Deus é a Sua inteligência como manifestada na adaptação de meios e fins. Deus sempre busca os melhores fins e os melhores meios possíveis para a consecução dos seus propósitos. H.B. Smith define a sabedoria de Deus como o Seu atributo através do qual Ele produz os melhores resultados possíveis com os melhores meios possíveis. Uma definição ainda melhor há de incluir a glorificação de Deus: Sabedoria é a perfeição de Deus pela qual Ele aplica o seu conhecimento à consecução dos seus fins de um modo que o glorifica o máximo (Rm.ll:33-36; Ef.1:11,12; Cl.1:16). Encontramos a sabedoria de Deus na criação (Sl.19:1-7; Sl.104), na redenção (ICo.2:7; Ef.3:10) . A sabedoria é personificada na Pessoa do Senhor Jesus (Pv.8 e ICo.1:30; Jó.9:4; veja também Jó 12:13,16).
9) Onipotência: É o atributo pelo qual encontramos em Deus o poder ilimitado para fazer qualquer coisa que Ele queira.
A onipotência de Deus não significa o exercício para fazer aquilo que é incoerente com a natureza das coisas, como, por exemplo, fazer que um fato do passado não tenha acontecido, ou traçar entre dois pontos uma linha mais curta do que uma reta. Deus possui todo o poder que é coerente com Sua perfeição infinita, todo o poder para fazer tudo aquilo que é digno dEle. O poder de Deus é distinguido de duas maneiras: Potentia Dei absoluta = absoluto poder de Deus e potentia Dei ordinata = poder ordenado de Deus. Hodge e Shedd definem o poder absoluto de Deus como a eficiência divina, exercida sem a intervenção de causas secundárias, e o poder ordenado como a eficiência de Deus, exercida pela ordenada operação de causas secundárias. Chanock define o poder absoluto como aquele pelo qual Deus é capaz de fazer o que Ele não fará, mas que tem possibilidade de ser feito, e o poder ordenado como o poder pelo qual Deus faz o que decretou fazer, isto é, o que Ele ordenou ou marcou para ser posto em exercício; os quais não são poderes distintos, mas um e o mesmo poder. O seu poder ordenado é parte do seu poder absoluto, pois se Ele não tivesse poder para fazer tudo que pudesse desejar, não teria poder para fazer tudo o que Ele deseja. Podemos, portanto, definir o poder ordenado de Deus como a perfeição pela qual Ele, mediante o simples exercício de Sua vontade, pode realizar tudo quanto está presente em Sua vontade ou conselho. E' óbvio, porém, que Deus pode realizar coisas que a Sua vontade não desejou realizar (Gn.18:14; Jr.32:27; Zc.8:6; Mt.3:9; Mt.26:53). Entretanto há muitas coisas que Deus não pode realizar. Ele não pode mentir, pecar, mudar ou negar-se a Si mesmo (Nm.23:19; ISm.15:29; IITm.2:13; Hb.6:18; Tg.1:13,17; Hb.1:13; Tt.1:3), isto porque não há poder absoluto em Deus, divorciado de Sua perfeições, e em virtude do qual Ele pudesse fazer todo tipo de coisas contraditórias entre Si (Jó.11:7). Deus faz somente aquilo que quer fazer (Sl.115:3; Sl.135:6).
a) El-Shaddai: A onipotência de Deus se expressa no nome hebraico El-Shaddai traduzido por Todo-Poderoso (Gn.17:1; Ex.6:3; Jó.37:23 etc).
b) Em todas as coisas: A onipotência de Deus abrange todas as coisas (ICr.29:12), o domínio sobre a natureza (Sl.107:25-29; Na.1:5,6; Sl.33:6-9; Is.40:26; Mt.8:27; Jr.32:17; Rm.1:20), o domínio sobre a experiência humana (Sl.91:1; Dn.4:19-37; Ex.7:1-5; Tg.4:12-15; Pv.21:1; Jó.9:12; Mt.19:26; Lc.1:37), o domínio sobre as regiões celestiais (Dn.4:35; Hb.1:13,14; Jó.1:12; Jó 2:6).
c) Na criação, na providência e na redenção: Deus manifestou o seu poder na criação (Rm.4:17; Is.44:24), nas obras da providência (ICr.29:11,12) e na redenção (Rm.1:16; ICo.1:24).
10) Soberania ou Supremacia: Atributo pelo qual Deus possui completa autoridade sobre todas as coisas criadas, determinando-lhe o fim que desejar (Gn.14:19; Ne.9:6; Ex.18:11; Dt.10:14,17; ICr.29:11; IICr.20:6; Jr.27:5; At.17:24-26; Jd.4; Sl.22:28; 47:2,3,8; 50:10-12; 95:3-5; 135:5; 145:11-13; Ap.19:6).
a) Vontade ou Auto-determinação: A perfeição de Deus pela qual Ele, num ato sumamente simples, dirige-se à Si mesmo como o Sumo Bem (deleita-se em Si mesmo como tal) e às Suas criaturas por amor do Seu nome (Is.48:9,11,14; Ez.20:9,14,22,44; Ez.36:21-23).
A vontade de Deus recebe variadas classificações, pois à ela são aplicadas diferentes palavras hebraicas (chaphets, tsebhu, ratson) e gregas (boule, thelema).
Vontade Preceptiva: Na qual Deus estabeleceu preceitos morais para reger a vida de Suas criaturas racionais. Esta vontade pode ser desobedecida com freqüência (At.13:22; IJo.2:17; Dt.8:20).
Vontade Decretória: Pela qual Deus projeta ou decreta tudo o que virá a acontecer, quer pretenda realizá-lo causativamente, quer permita que venha a ocorrer por meio da livre ação de suas criaturas (At.2:23; Is.46:9-11). A vontade decretória é sempre obedecida.
A vontade decretória e a vontade preceptiva relacionam-se ao propósito em realizar algo.
Vontade de Eudokia: Na qual Deus deleita-se com prazer em realizar um fato e com desejo de ver alguma coisa feita. Esta vontade, embora não se relacione com o propósito de fazer algo, mas sim com o prazer de fazer algo, contudo corresponde àquilo que será realizado com certeza, tal como acontece com a vontade decretória (Sl.115:3; Is.44:28; Is.55:11).
Vontade de Eurestia: Na qual Deus deleita-se com prazer ao vê-la cumprida por Suas criaturas. Esta vontade abrange aquilo que a Deus apraz que Suas criaturas façam, mas que pode ser desobedecido, tal como acontece com a vontade preceptiva (Is.65:12).
A vontade de eudokia não se refere somente ao bem, e nela não está sempre presente o elemento de deleite (Mt.11:26). A vontade de eudokia e a vontade de eurestia relacionam-se ao prazer em realizar algo.
Vontade de Beneplacitum: Também chamada Vontade Secreta. Abrange todo o conselho secreto e oculto de Deus. Quando esta vontade nos é revelada, ela torna-se na Vontade do Signum ou Vontade Revelada.
A distinção entre a vontade de beneplacitum e a vontade de signum encontra-se em Deuteronomio.29:29.
A vontade secreta é mencionada em Sl.115:3; Dn.4:17,25,32,35; Rm.9:18,19; Rm.11:33,34; Ef.1:5,9,11, enquanto que a vontade revelada é mencionada em Mt.7:21; Mt.12:50; Jo.4:34; Jo.7:17; Rm.12:2). Esta vontade está mui perto de nós (Dt.30:14; Rm.10:8).
A vontade secreta de Deus pertence a todas as coisas que Ele quer efetuar ou permitir, tal como acontece na vontade decretória, sendo portanto, absolutamente fixa e irrevogável.
b) Liberdade: A perfeição de Deus no exercício de Sua vontade. Deus age necessária e livremente. Assim como há conhecimento necessário e conhecimento livre, há também uma voluntas necessária = vontade necessária e uma voluntas libera = vontade livre. Na vontade necessária Deus não está sob nenhuma compulsão, mas age de acordo com a lei do Seu Ser, pois Ele necessariamente quer a Si próprio e quer a Sua natureza santa. Deus necessariamente se ama a Si próprio e Suas perfeições.
As Suas criaturas são objetos de Sua vontade livre, pois Deus determina voluntariamente o que e quem Ele criará; e os tempos, lugares e circunstâncias de suas vidas. Ele traça as veredas de todas as Suas criaturas, determina o seu destino e as utiliza para Seus propósitos (Jó.ll:10; Jó.23:13,14; Jó.33:13. Pv.16:4; Pv.21:1; Is.10:15; Is.29:16; Is.45:9; Mt.20:15; Ap.4:11;Rm.9:15-22; ICo.12:11).
C) Atributos Morais:
1) Santidade: É a perfeição de Deus, em virtude da qual Ele eternamente quer manter e mantém a Sua excelência moral, aborrece o pecado, e exige pureza moral em suas criaturas. Ser Santo vem do hebraico qadash que significa cortar ou separar. Neste sentido também o Novo testamento utiliza as palavras gregas hagiazo e hagios.
A santidade de Deus possui dois diferentes aspectos, podendo ser positiva ou negativa (Hb.1:9;Am.5:15; Rm.12:9).
a) Santidade Positiva: Expressa excelência moral de Deus na qual Ele é absolutamente perfeito, puro e íntegro em Sua natureza e Seu caráter (IJo.1:5; Is.57:15; IPe.1:15,16; Hc.1:13). A santidade positiva é amor ao bem.
b) Santidade Negativa: Significa que Deus é inteiramente separado de tudo quanto é mal e de tudo quanto o aborrece (Lv.11:43-45; Dt.23:14; Jó.34:10; Pv.15:9,26; Is.59:1,2; Lc.20:26; Hc. 1:13; Pv.6:16-19; Dt.25:16; Sl.5:4-6). A santidade negativa é ódio ao mal.
Além de possuir dois aspectos a santidade de Deus possui também duas maneiras diferentes de manifestar-se:
c) Retidão: Também chamada justiça absoluta, é a retidão da natureza divina, em virtude da qual Ele é infinitamente Reto em Si mesmo (santidade legislativa). Sl.145:17; Jr.12:1; Jo.17:25; Sl.116:5; Ed.9:15.
d) Justiça: Também chamada justiça relativa, é a execução da retidão ou a expressão da justiça absoluta (santidade judicial). Strong a chama de santidade transitiva. A retidão é a fonte da Santidade de Deus, a justiça é a demonstração de Sua santidade.
A justiça de Deus pode ser retributiva e remunerativa. A justiça retributiva se divide em punitiva e corretiva. A justiça punitiva é aquela pela qual Deus pune os pecadores pela transgressão de Suas leis. Esta justiça de Deus exige a execução das penalidades impostas por Suas leis (Sl.3:5;11:4-7 Dt.32:4; Dn.9:12,14; Ex.9:23-27;34:7). A justiça corretiva é aquela pela qual Deus "pune" Seus filhos para corrigi-los (Hb.12:6,7). Aqueles que não são Seus filhos, Deus pune como um Juiz Severo (Rm.11:22; Hb.10:31), mas aos Seus filhos, Deus "pune" (corrige) como um Pai Amoroso (Jr.10:24;30:11;46:28; Sl.89:30-33; ICr.21:13) A justiça remunerativa é aquela pela qual Deus recompensa, com Suas bênçãos, aos homens pela obediência de Suas leis (Hb.6:10; IITm.4:8; ICo.4:5;3:11-15; Rm.2:6-10; IIJo.8)
e) Ira: Esta deve ser considerada como um aspecto negativo da santidade de Deus, pois em Sua ira Deus aborrece o pecado e odeia tudo quanto contraria Sua santidade (Dt.32:39-41; Rm.11:22; Sl.95:11; Dt.1:34-37; Sl.95:11). Podemos, então, dizer que a ira é a manifestação da santidade negativa de Deus (Rm.1:18; IITs.1:5-10; Rm.5:9 etc). A ira é também designada de severidade (Rm.11:22).
2) Bondade: É uma concepção genérica incluindo diversas variedades que se distinguem de acordo com os seus objetos. Bondade é perfeição absoluta e felicidade perfeita em Si mesmo (Mc.10:18; Lc.18:18,19; Sl.33:5; Sl.119:68; Sl.107:8; Na.1:7). A bondade implica na disposição de transmitir felicidade.
a) Benevolência: É a bondade de Deus para com Suas criaturas em geral. E' a perfeição de Deus que O leva a tratar benévola e generosamente todas as Suas criaturas (Sl.145:9,15,16; Sl.36:6;104:21; Mt.5:45;6:26; Lc.6:35; At.14:17). Thiessen define benevolência como a afeição que Deus sente e manifesta para com Suas criaturas sensíveis e racionais. Ela resulta do fato de que a criatura é obra Sua; Ele não pode odiar qualquer coisa que tenha feito (Jó.14:15) mas apenas àquilo que foi acrescentado à Sua obra, que é o pecado (Ec.7:29).
b) Beneficência: Enquanto que a benevolência é a bondade de Deus considerada em sua intenção ou disposição, a beneficência é a bondade em ação, quando seus atributos são conferidos.
c) Complacência: É a aprovação às boas ações ou disposições. É aquilo em Deus que aprova todas as Suas próprias perfeições como também aquilo que se conforma com Ele (Sl.35:27; Sl.51:6; Is.42:1; Mt.3:17; Hb.13:16).
d) Longanimidade ou Paciência: O hebraico emprega a palavra erek'aph que significa grande de rosto e daí também lento para a ira. O grego emprega makrothymia que significa ira longe. Portanto longanimidade é o aspecto da bondade de Deus em virtude do qual Ele tolera os pecadores, a despeito de sua prolongada desobediência. A longanimidade revela-se no adiamento do merecido julgamento (Ex.34:6; Sl.86:15; Rm.2:4; Rm.9:22; IPe.3:20; IIPe.3:15)
e) Misericórdia: Também expressa pelos sinônimos compaixão, compassividade, piedade, benignidade, clemência e generosidade. No hebraico usa-se as palavras chesed e racham e no grego eleos. É a bondade de Deus demonstrada para com os que se acham na miséria ou na desgraça, independentemente dos seus méritos (Dt.5:10;
Sl.57:10; Sl.86:5; ICr.16:34; IICr.7:6; Sl.116:5; Sl.136; Ed.3:11; Sl.145:9; Ez.18:23,32; Ex.33:11; Lc.6:35; Sl.143:12; Jó 6:14).
A paciência difere da misericórdia apenas na consideração formal do objeto, pois a misericórdia considera a criatura como infeliz, a paciência considera a criatura como criminosa; a misericórdia tem pena do ser humano em sua infelicidade, a paciência tolera o pecado que gerou a infelicidade. A infelicidade e sofrimento deriva-se de um justo desagrado divino, portanto exercer misericórdia é o ato divino de livrar o pecador do sofrimento pelo qual ele justamente e merecidamente deveria passar, como conseqüência do desagrado divino.
f) Graça: É a bondade de Deus exercida em prol da pessoa indigna. Portanto graça é o ato divino de conceder ao pecador toda a bondade de Deus a qual ele não merece receber (Ex.33:19).
Na misericórdia Deus suspende o sofrimento merecido, na graça Deus concede bênçãos não merecidas. Todo pecador merece ir para o inferno; assim Deus exerce Sua misericórdia livrando o pecador da condenação. Nenhum pecador merece ir para o paraíso; assim Deus exerce a Sua graça doando ao pecador o privilégio de ir gratuitamente para o paraíso.
Essa diferença entre misericórdia e graça é notada em relação aos anjos que não caíram. Deus nunca exerceu misericórdia para com eles, posto que jamais tiveram necessidade dela, pois não pecaram, nem ficaram debaixo dos efeitos da maldição. Todavia eles são objetos da livre e soberana graça de Deus pela qual foram eleitos (ITm.5:21) e preservados eternamente de pecado e colocados em posição de honra (Dn.7:10; IPe.3:22).
g) Amor: A perfeição da natureza divina pela qual Ele é continuamente impelido a se comunicar. É, entretanto, não apenas um impulso emocional, mas uma afeição racional e voluntária, sendo fundamentada na verdade e santidade e no exercício da livre escolha. Este amor encontra seus objetos primários nas diversas Pessoas da Trindade. Assim, o universo e o homem são desnecessários para o exercício do amor de Deus. Amor é, portanto, a perfeição de Deus pela qual Ele é movido eternamente à Sua própria comunicação. Ele ama a Si mesmo, Suas virtudes, Sua obra e Seus dons.
3) Verdade: É a consonância daquilo que é asseverado com o que pensa a Pessoa que fez a asseveração. Neste sentido a verdade é um atributo exclusivamente divino, pois com freqüência os homens erram nos testemunhos que prestam, simplesmente por estarem equivocados a respeito dos fatos, ou então por pura incapacidade fracassam em promessas que fizeram com honestas intenções. Mas a onisciência de Deus impede que Ele chegue a cometer qualquer equívoco, e a Sua onipotência e imutabilidade asseguram o cumprimento de Suas intenções
(Dt.32:4; Sl.119:142; Jo.8:26; Rm.3:4; Tt.1:2; Nm.23:19; Hb.6:18; Ap.3:7; Jo.17:3; IJo.5:20; Jr.10:10; Jo.3:33; ITs.1:9; Ap.6:10; Sl.31:5; Jr.5:3; Is.25:1). Ao exercê-la para com a criatura, a verdade de Deus é conhecida como sua veracidade e fidelidade.
a) Veracidade: Consiste nas declarações que Deus faz a respeito das coisas, conforme elas são, e se relaciona com o que Ele revelou sobre Si mesmo. A veracidade fundamenta-se na onisciência de Deus.
b) Fidelidade: Consiste no exato cumprimento de Suas promessas ou ameaças. A fidelidade fundamenta-se na Sua onipotência e imutabilidade (Dt.7:9; Sl.36:5; ICo.1:9; Hb.10:23; Dt.4:24; IITm.2:13; Sl.89:8; Lm.3:23; Sl.119:138; Sl.119:75; Sl.89:32,33; ITs.5:24; IPe.4:19; Hb.10:23).

quarta-feira, 4 de junho de 2008

SANTA INQUISIÇÃO











Interrogatório: A vítima era submetida a torturas horríveis no ato do processo inquisitorial







Inquisição. (do latim inquisito: busca, indagação). É a designação de um Tribunal Eclesiástico, vigente na Idade Média e começo dos tempos modernos, que julgava os hereges e as pessoas suspeitas de HETERODOXIA em relação ao Catolicismo. Se bem que a Inquisição só se apresentasse em plena pujança no século XIII, suas origens, contudo, remontam ao século IV. A partir de então data a perseguição àqueles que não acreditavam no credo católico. Tinham seus bens confiscados e alguns, esporadicamente, chegaram a ser condenados a morte, como aconteceu com certos grupos de maniqueus e de donatistas. O imperador Maximus, em 385, condenou a morte o herege espanhol Prisciliano. A maioria dos Bispos da época reprovou a atitude dos Bispos espanhóis responsáveis pela condenação. Do século IV ao século IX, as perseguições diminuíram. Recrudesceram, porém, a partir da última metade do século X, registrando-se então numerosos casos de execuções de hereges, na fogueira ou por estrangulamento. Não havia, contudo, um tribunal organizado neste sentido. O clima propício para a criação deste terrível Tribunal só apareceu na época do Papa Inocêncio III (1198), responsável por uma Cruzada contra os hereges, após a qual praticou execuções em massa. Em 1229, no Concílio de Toulouse, criou-se oficialmente a inquisição ou Tribunal do Santo Ofício. A partir deste momento, e sobretudo com o trabalho dos frades dominicanos foi-se precisando a legislação e jurisprudência da Inquisição.
Pode-se dizer que foi o Papa Gregório IX (1227-1241) em sua Bula Excommunicamus, publicada em 1231 que organizou a verdadeira inquisição.
Na Europa, entre os séculos XI e XV as heresias são geradas principalmente pelo desenvolvimento cultural, acompanhado de prosperidade econômica e crescimento urbano, as reflexões filosóficas e teológicas da época produzem conhecimentos que contradizem a concepção de mundo defendida então pelo poder eclesiástico. Além disso, surgem movimentos cristãos como os cátaros em Albi e os valdenses em Lion, no sul da França que pregam a volta do cristianismo às origens, defendendo a necessidade da igreja abandonar suas riquezas. Em resposta a essas heresias, milhares de Albinenses são liquidados por exércitos papais, entre os anos de 1208 e 1224.
A responsabilidade pela ortodoxia da religião passa dos bispos para os inquisidores – em geral franciscanos e dominicanos – sob a direta jurisdição do papa e são estabelecidas punições severas. As penas podem variar de obrigação em fazer uma peregrinação a um santuário ou uma abjuração pública do confisco dos bens e a prisão. A pena mais severa era a prisão perpétua. Mas as autoridades civis automaticamente converteram em execuções de morte em fogueira ou enforcamento em praça pública.
Os heréticos não podem recorrer ao direito de asilo e, em geral, duas testemunhas constituem suficiente prova de culpa. O processo era sumário. O acusado podia ignorar o nome do acusador. Mulheres, crianças e escravos podiam ser testemunhas de acusação, mas não na defesa. Num desses processos consta o nome de uma testemunha de dez anos de idade. Se o processado delatasse parentes, amigos e outras pessoas, passava a gozar certas regalias. O padre dominicano Bernardo Guy (Bernardus Guidonis, 1261-1331), um dos mais completos teóricos da inquisição, enumerou em seu Líber Sententiarium Inquisitionis (“Livro de Sentenças da Inquisição”), vários processos para a boa obtenção de confissões, inclusive pelo enfraquecimento das forças físicas do prisioneiro.
Em 1252, o papa Inocêncio IV sanciona o uso da tortura como método para obtenção de confissões de suspeitos, nessas torturas poucos se livravam da morte com graves lesões pelo corpo. As condenações para os culpados são lidas numa cerimônia pública no fim dos processos, era o chamado Auto-de-fé. Tendo em vista o declínio dos movimentos heréticos devido às intensas perseguições e torturas o poder arbitrário da inquisição voltasse para suspeitos de bruxarias e todo e qualquer grupo hostil aos interesses do papado.
Nos séculos XIV e XV os tribunais da inquisição diminuem sua atividade e são recriados sob forma de uma congregação da inquisição mais conhecida como “Santo Ofício”. Contra os movimentos de “reforma protestante” e contra as heresias filosóficas e científicas ressurgidas do Renascimento.
A Reação Católica a esses movimentos foi à instauração da Contra Reforma. Suas principais medidas: convocação do Concílio de Trento, condenando a doutrina protestante e confirmou a doutrina católica, aconselhou a formação dos sacerdotes em escolas especiais, determinou a publicação de um resumo da doutrina cristã, “o catecismo”, instituiu o index, uma relação de livros proibidos pela igreja, reafirmou os Sete Sacramentos e o valor das Indulgências.

A COMPANHIA DE JESUS - que foi uma sociedade missionária fundada em 1534, por Santo Inácio de Loyola, com objetivo de defender o catolicismo diante da reforma protestante e difundi-lo nas novas terras do ocidente e do oriente. Tem rápido crescimento e alcança grande prestígio e poder, tornando-se a instituição mais influente nas colônias portuguesas. Seu sacramento diante do sumo pontifício foi: submissão ao papado, serem celibatários e pobres.

TRIBUNAL DA INQUISIÇÃO – mais uma vez o instrumento do terror, atraso e obscurantismo entra em profusão, utilizado pela igreja católica contra todos os que divergissem de sua doutrina (Os Hereges) essas pessoas submetidas a interrogatórios, durante os quais eram torturados até confessarem seus crimes, “Que Crimes?”. Os judeus e os islamitas foram um dos alvos prediletos da inquisição, sendo obrigados a se converter ao cristianismo, caso contrário, eram condenados a morte em fogueira, (a história não narra, apenas UM que aceitasse esta religião). Todas as execuções eram feitas em praças públicas para intimidarem os outros.
O tribunal agiu com maior força intensiva na Espanha e em Portugal – inclusive em suas colônias, como América Espanhola e o Brasil.

FOCALIZANDO A ORIGEM DO CATOLICISMO

Q
uando Teodósio assumiu o governo do império, em 379, encontrou muitos grupos que se diziam cristãos, cada um considerando-se detentor da verdade, perdidos que estavam em devaneios e vãs filosofias. Desde o tempo dos apóstolos, os gnósticos ainda subsistiam, mas não se pode incluí-los no número dos apologistas, porque procuravam conduzir o Cristianismo aos moldes pagãos. Outras correntes, no entanto, mantinham-se vivas, com seus seguidores atuantes.

OS GRUPOS RELIGIOSOS

MONTANHISTAS – que alguns historiadores chamam de “Os primeiros anabatistas da História”. Eles se opunham ao Gnosticismo e tinham sido propostos por Montano, sacerdote de Cibele que, na Frigia, se convertera ao Cristianismo e começara a atuar por volta de 135 a 160, tendo em Tertuliano seu mais importante defensor. Era um movimento como muitos que surgiam através dos séculos, objetivando o retorno da igreja a simplicidade da vida evangélica, sendo que, até certo ponto, eram considerados como extremistas, pois haviam rompido relações com a velha igreja, plena de erros e corrupção. Insistiam em afirmar que os que renunciavam a fé em virtude das perseguições nunca tinham sido crentes, e só seriam readmitidos no seio da igreja se fossem rebatizados. Em função disso mais de cinqüenta milhões de pessoas foram martirizadas na idade média.

MANIQUEÍSMO – uma heresia que não está bem situada no tempo – alguns historiadores o indicam sob a liderança de Manés ou Mani – nascido no ano de 238 ou 270, fundamenta-se em ensinos completamente opostos ao Cristianismo e mais semelhantes aos do Gnosticismo. Consistia em um enxerto do Budismo no Cristianismo, da região onde se propagou o Zoroastrismo. Essa mistura foi proposta como sendo o verdadeiro Cristianismo, divulgado com muita facilidade por muitas regiões.

NOVACIANOS – esta seita surgiu aproximadamente em 250. Era um Montanhismo mais brando, com algumas modificações doutrinárias menos legalistas, mais sensíveis a graça que propriamente a Lei. Certo historiador apresenta Novato, seu orientador, como um anticapa “que teria se oposto à eleição do Papa Cornélio (SIC)”, quando na verdade ainda não existia papa, e os bispos de cada igreja – Jerusalém, Antioquia, Corinto, Éfeso.. –eram autônomos, independentes, e não estavam sujeitos à jurisdição de qualquer outro. Tanto que Jesus se referiu a cada igreja individualmente quando transmitiu a mensagem a João, em Patmos, como está registrado nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse.

MONARQUIANOS – (alguns historiadores confundem com os publicanos que surgiram séculos mais tarde) surgiram por volta do ano 290, criados por Paulo de Samosata, um pagão, que por meios incompreensíveis chegou a ser Bispo em Antioquia e divulgou uma heresia abominável a respeito da pessoa do Senhor Jesus Cristo. A celeuma foi de tal ordem que os cristãos convocaram um conselho para o esclarecimento do caso. A solução foi à expulsão de Paulo de Samosata. Teria sido muito bom se o caso acabasse com a sua expulsão, mas Samosata recusou-se a obedecer, apelando para o imperador, que enviou o caso para os bispos da Itália. -- Que confirmaram a expulsão. Foi a primeira questão religiosa cristã proposta à solução do imperador romano.

ARIANISMO – eles acreditavam, juntamente com os Donatistas e os Ortodoxos, serem possuidores da verdade absoluta. Eram intransigentes, cada grupo sustentava os seus princípios, constituindo um grave problema para Teodósio.

JOVIANINOS – chamado pelo historiador de Neander de “o protestante do seu tempo”. Ele era um monge de grande cultura, que vivera muitos anos no ascetismo, tão em moda naquele tempo. Em 378, iniciou seus ataques ao ensino de Jerônimo e seus adeptos. Não há boas informações a respeito do jovinianismo, pois nesse período já despontava a “Idade das Trevas”, e as noticias que existiam sobre esse movimento foram divulgadas por seus inimigos. Mas é sabido que eles ensinavam pontos comuns aos evangélicos de hoje, a saber: que Jesus Cristo vive igualmente em todos, sem distinção de grau; que a humanidade se divide em duas classes, os salvos e os perdidos, conforme mencionado no salmo primeiro; que a salvação é pela graça, ou seja, um dom gratuito de Deus, e não oriundo das obras. No ano 390, um sínodo romano condenou Joviniano e sete de seus seguidores, e logo a seguir outro sínodo, reunido em Milão, lançou excomunhão sobre todos os jovinianistas.

A OFICIALIZAÇÃO DO CATOLICISMO – aproveitando o péssimo precedente de Constantino, Teodósio também assumiu o partido dos Ortodoxos e decretou: Queremos que todas as nações que são governadas por nossa moderação e clemência aceitem plenamente a religião que São Pedro ensinou (sic) aos habitantes de Roma, a qual a tradição nos conservou fielmente e agora é professada pelo pontífice (sic) Damásio e por Pedro, bispo de Alexandria... a crença em uma única divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, numa majestade igual e misericordiosa Trindade segundo os ensinos dos apóstolos e a doutrina dos evangelhos. Autorizamos aos que seguem esta doutrina que recebam o nome de cristãos católicos, e a todos os demais julgamos insensatos e loucos, assinalamo-los com o nome infamante de seguir um dogma herético, suas congregações não podem assumir a respeitosa denominação de igrejas. Além se serem condenados pela justiça divina, devem esperar sofrer as penas severas que a nossa autoridade, guiada pela sabedoria divina, considere próprio infligir-lhes.
Era o assentamento das bases da “santa” inquisição.
Esse decreto de Teodósio era tudo que os Ortodoxos, antigos judaizantes, desejavam, e colocavam as forças do Estado a sua disposição. Eles já haviam se apoderado de muitos costumes pagãos e pouco praticavam os ensinos do Senhor Jesus. Desde o inicio do século IV os imperadores tinham sido alternadamente Arianistas e Ortodoxistas conforme o interesse do momento de cada um. Constâncio optou pelo Arianismo contra seus dois irmãos ortodoxos. Ele mandou mata-los e ficou sozinho no poder. Juliano o menino de seis anos que se salvara da vingança de Constantino, sendo criado em ambiente tão confuso e cruel entre os “cristãos”, quando assumiu o poder adotou o paganismo que, com certeza, deveria ser menos bárbaro. Foi chamado erroneamente de “apóstata”, pois afinal nunca fora católico.

FOCALIZANDO O SURGIMENTO DA “SANTA” INQUISIÇÃO

C
omo vimos no capítulo anterior, a Inquisição começou com o catolicismo, pelo decreto de Teodósio, em 381. Ele nomeou o primeiro inquisidor da fé, e desde aquele tempo, embora ainda sem ser chamada de Inquisição, esteve bem viva, funcionou e funciona até hoje, pelo menos na cabeça de alguns padres, que não se conformam com o avanço da educação, da cultura e dos costumes. Para eles, ainda vivemos na idade média, como bem disse um presidente da América do Sul:
A Igreja Católica é absurda, obsoleta e medieval.
Salvo algumas honrosas exceções, grande parte faz justiça ao pejorativo do ilustre presidente. Dizemos exceções, porque acompanhamos as sábias palavras de um Arcebispo que honra a religião e publica as informações e conselhos úteis, valiosos e edificantes, muito diferentes das que se ouviam a cinqüenta anos, o que prova que referido senhor não está parado no tempo como uma fotografia. Ele disse:
Estimular a leitura da Bíblia... preserva de maneira absoluta a palavra divina...
Cada expressão religiosa tem o direito e o dever de ensinar integralmente a sua doutrina.

PERSEGUIÇÃO AO ARNALDISMO – em 1184, era grande a atividade evangélica por toda a Europa daqueles que pugnavam pela volta do Cristianismo aos moldes primitivos, principalmente em Languedoc, pois o clero, arrogante e vaidoso, explorava o povo, faziam visitas indiscretas as propriedades e impunha-se com exigências absurdas.
Arnaldo de Bréscia havia sido denunciado por um bispo de sua cidade e fugira para a França. Ali continuou com suas pregações, fazendo prosélitos, e o arnaldismo se propagou grandemente. Depois perseguido fugiu para a Suíça.
Adriano IV, papa entre 1154 a 1159, mandou executar o turbulento Arnaldo de Bréscia por enforcamento, depois mandou queima-lo e atirar no Tibre as suas cinzas. Esse horrendo espetáculo (disse Rui Barbosa: “o sangue de Arnaldo de Bréscia clama ainda hoje por vingança”) causou enorme repercussão. Albi, Tolosa, Montpelier tomaram grande impulso, e o numero de “hereges” era espantoso. Mas veio a Inquisição, e
O primeiro ato desta potencia sobreexcedeu-se notável pela emissão do Código Canônico, cujas estatuições importavam preceitos coercitivos para toda a sorte de fiéis e deste ponto começou a se exacerbar o mal pernicioso atribuído a Igreja ...
Como quer que fosse, uma guerra longa e desastrosa, milhares de inocentes foram desterrados e banidos ou arrastados ao suplício sem processo. Príncipes perturbados em seus Estados e despojados de seus bens.
Em 1179, o terceiro Concílio de Latrão, decretou a perseguição permanente aos hereges, envolvendo muitos nesta obra. Os próprios leigos eram obrigados, sob juramento, a dar informações para o bom desempenho das decisões, mesmo que fossem simples suspeitas.

A DIETA DE VERONA – em 1184, a Dieta de Verona ordena aos arcebispos e bispos visitarem as paróquias suspeitas de heresia. Ademais ela quer que o juramento seja prestado perante o visitador e três homens seguros da paróquia. Em 1229, o legado do papa (Gregório IX, 1227-1241) Romão de San-Angelo preside o Concílio de Tolosa... o Concílio testemunha um grande esforço contra a heresia.
A dieta estabeleceu três pontos principais: primeiro, uma comissão para exercer vigilância e assinalar os hereges ao bispo local; segundo, a ordem para a busca dos hereges pelos donos da terra, sob pena de punição aos omissos e negligentes; terceiro, uma comissão avaliadora dos casos, para não se cometer injustiças. Não é o senhor da terra, mas o bispo que vai decidir se há crime ou não. Só pode se punir como herege aquele que pelo poder eclesiástico for declarado como tal. O inquisitio (investigação) era uma forma secreta e foi à razão de muita gente ser sacrificada na fogueira. Esse tribunal foi muito mal recebido pela população, sendo expulsos os inquisidores e o bispo que presidia, mas foi restabelecido em pouco tempo. Depois, todos os rebeldes foram degolados, fato que revoltou o Conde Raimundo, grande defensor dos Albigenses.
Em 1215, o quarto Concílio de Latrão decretou que os governadores seculares confiscassem os bens dos hereges e depois os executassem. Caso contrário, seriam eles os excomungados e privados de seus bens. Ficou terminantemente proibido qualquer tipo de proteção. Aos considerados suspeitos, foi dado um certo prazo para apresentarem provas de sua inocência, ou então seriam consideradas hereges, sujeitas as penas da Inquisição.

A INQUISIÇÃO COMO DEPARTAMENTO GOVERNAMENTAL DO PAPADO -
Em 1223, a inquisição foi declarada um departamento especial do governo do papa e entregue aos dominicanos com toda a autoridade, para procederem sem piedade contra todos os denunciados. Os bens confiscados aos hereges eram distribuídos aos informantes. Neste caso, como bem se poderá notar estes não faltavam, falsos ou verdadeiros. Era tão rigorosa a ação do sanguinolento tribunal que aos infelizes denunciados não era permitido conhecer o seu delator, nem sob que motivos teriam sidos denunciados. Com o decorrer do tempo a inquisição desenvolveu um regulamento próprio que orientava a maneira de conduzir o processo. Geralmente as investigações começavam com a publicação do O Edito da Graça , que convocava a população local a confessar suas faltas ou denunciar as alheias. Qualquer tipo de denuncia era acolhida, até mesmo através das cartas anônimas. Vivia-se uma época de pavor e sobressaltos, cada um temendo ser denunciado anonimamente pelo outro, nesta época em que a maior maldade parte daqueles que se diziam representantes do Senhor Jesus aqui na terra. As penas eram as mais variadas possíveis. Tortura, trabalho forçado, degredo ou morte. Havia ainda as penas infamantes.

O PAPA GREGÓRIO IX e A FUNDAÇÃO DA INQUISIÇÃO – algumas vezes a heresia era considerada uma desobediência política, tal qual no direito romano. Em 1208, Ariberto, arcebispo de Milão, descobriu que um grupo de hereges havia se reunido no território de Asti, no Castelo de Monforte, ele tomou este castelo de assalto, surpreendeu-os e os levou presos para Milão, onde mandou queima-los. Restabelecido o direito romano, acharam-se neles as bases para as perseguições dos infiéis. Em 1184, num Concílio em Verona, o papa Lúcio III, ordenou aos bispos que se informassem sobre as pessoas suspeitas de heresia distinguindo-as em quatro categorias: os acusados, os convencidos, os penitentes e os relapsos. Pode-se dizer que o papa Gregório IX organizou a verdadeira Inquisição, em 1233. ele tirou a instrução do processo dos bispos e deu aos irmãos pregadores.
Foi o bispo de Tournay, legado do pontífice, que estabeleceu dois inquisidores em todas as cidades que existiam conventos dominicanos. Assim, o domínio da inquisição passou a ser mais abrangente, alcançando toda a esfera do poder secular e religioso, com exceção do papa e de seus legados da hierarquia superior. Quando chegavam a uma cidade, o inquisidor avisava as autoridades e convidava-as a comparecer. Então prestavam o juramento de executar todos os decretos contra todos os “hereges” de procura-los e entrega-los ao braço forte do inquisidor. O que desobedecesse às ordens da Inquisição era excomungado. O inquisidor tinha também o poder de colocar a cidade sob interdito. Apresentado o réu, era colocado na prisão incomunicável, e usavam-se todos os recursos para pressionar o “herege” a confessar:
As chicanas, as torturas e os suplícios mais atrozes. Temos muito freqüente vezes de deplorar semelhantes horrores, que por fim adquiriram à igreja mais detratores do que lhe tiraram.
Isso é uma verdade e ficou provada com o passar do tempo. O descrédito da Igreja Romana caiu e a debandada geral são conseqüências dos erros e de sua falta de visão no passado. Hoje, ele se encontra em uma situação que os padres consideram calamitosa. A maioria dos que se dizem católicos são indiferentes a religião, e muitos foram batizados em criança, mas são ateus declarados. Os templos andam vazios. Os seminários entraram em grande crise depois da realização co Concílio Vaticano II; o sincretismo avança a passos largos, e Hans Kung, teólogo alemão acatadíssimo, afirma que o número de pessoas que abandonam a igreja é cada vez maior, o que no futuro implicará em graves conseqüências para a instituição.
Desejamos sinceramente que a hierarquia se volte para Jesus e viva plenamente o evangelho. Já dissemos que Jesus morreu para salvar o homem, mas este insiste em pertencer à instituição, que não se identifica com as Escrituras Sagradas. Portanto, a Igreja Católica está sofrendo as conseqüências.

FOCALIZANDO A O TRIBUNAL DA “SANTA” INQUISIÇÃO

N
ormalmente, diz-se que a Inquisição começou com Teodósio, em 388, quando ele propôs e o senado romano aprovou a Lei que tornava o catolicismo a única religião do Estado. Tal fato originou uma grande perseguição em toda parte dos não-católicos. Na verdade a última perseguição dos imperadores romanos aconteceu com Diocleciano e acabou em 303. depois veio um período em que os cristãos se degladiavam, até a oficialização do cristianismo, em 381. temos agora a perseguição dos católicos contra os cristãos. Isto significa que o cristianismo ainda não teve um período longo de paz. Perseguia-se com qualquer nome e sob qualquer pretexto, tornando-se um hábito. Então a perseguição ganhou um nome no fim do século XII (1183).
O Concílio de Verona, em 1184, nomeou bispos como “inquisidores ordinários”, visitar duas vezes por ano as paróquias supostamente “hereges” pertencentes as suas dioceses. Mas como no século seguinte as heresias continuaram a proliferar, a igreja decidiu enviar eclesiásticos menos graduados para os “lugares infectos”, com a finalidade de lutar contra os “inimigos do catolicismo”.
No IV Concílio de Latrão, em 1215, decretou um maior envolvimento com os parâmetros da Inquisição, ordenando que o governo secular das nações cristãs confiscassem os bens dos “hereges”, sob pena de eles próprios serem excomungados e destituídos de seus bens, com um prazo de um ano para apresentarem provas de sua inocência.
César Cantu, célebre historiador católico, autor de uma longa História Universal, diz que depois da morte de Raimundo VI, de Tolosa, que perdeu seus bens para Simão Monfort, na França, seu filho Raimundo VII, assinou em 1222, um tratado humilhante no qual prometia fidelidade a Igreja católica e ao Rei. Este tratado ordenava a ele guerrear contra os hereges, ainda que fossem amigos ou parentes seus, procura-los rigorosamente , pagando uma importância a todo aquele que prendesse um herege, condenado pelo tal bispo. Cabia-lhe a função de banir de suas terras os judeus, pagar os dízimos e indenizar a igreja pelos danos causados aos eclesiásticos. Então, um cardeal acompanhou Raimundo VII de Tolosa para fiscalizar o cumprimento do tratado. Com o número de clausulas se achasse a extirpação da heresia reuniu-se um Concílio
Foi nele resolvido que os bispos nomeassem, em cada paróquia, um sacerdote e dois ou três seculares, os quais juraram procurar os hereges e indica-los aos magistrados, que todo aquele que ocultasse algum fosse punido e a casa que o encontrasse fosse arrasada. Tal é a origem do Tribuna da Inquisição.
Este tribunal foi organizado pelo Papa Gregório IX. Os legados tinham plena liberdade de ação. Mas algum tempo depois, julgando que os bispos não eram suficientemente enérgicos, Gregório IX entregou o tribunal aos dominicanos, não querendo que os considerassem indulgentes, usaram tanto rigor que se tornaram responsáveis pelos crimes cometidos pela inquisição. Mas foi o papa Inocêncio IV quem criou os três primeiro tribunais da Inquisição, nas províncias italianas de Lombardia, Romanha e Marca de Ancona. Os bens confiscados aos hereges eram repartidos entre os denunciantes. Depois a Inquisição aprimorou um regulamento especial que orientava os inquisidores na condução do processo.

O MALDITO EDITO DA GRAÇA – este era regra geral, quando se recebia qualquer tipo de denúncia, até mesmo cartas anônimas, mas ao acusado era vetado saber o conteúdo da acusação ou mesmo do seu delator. As penas eram variadíssimas, os instrumentos de tortura de toda a espécie, como o esmaga-polegar, para dar inicio e amedrontar o acusado. O esmaga-joelho, o esmaga-cabeça, a cadeira inquisitória, a maquina de estiramento, a virgem e tantos outros de invenção diabólica. Quando acontecia de um revel ser condenado ou uma pessoa morrer na prisão, e por isso não ser conduzido a uma execução física, esta era realizada em efígie. Também eram dadas penas infamantes, que humilhavam e arrasavam psicologicamente o indivíduo, destruindo por completo sua personalidade.

O CONFISCO DOS BENS – a primeira coisa que acontecia ao acusado era o confisco dos seus bens. Estes passavam pelo Santo Ofício, permitindo assim a manutenção das despesas gerais dos tribunais. Anita Novinsky registra que só bens dos cristãos novos acusados pela inquisição, no breve tempo que o tribunal de Lisboa teve jurisdição no Brasil. Anita relaciona minuciosamente centenas de casos encontrados em pesquisa feita nos arquivos:
Tudo que o réu possuía, tanto móvel como imóvel, era apreendido pelo fisco e seqüestrado no ato de sua prisão antes de ser provada a culpa. Se fosse absorvido, esses bens seriam restituídos, após a dedução de todos os gastos ocorridos , desde as despesas pessoais, alimentos, roupas, etc., até o pagamento dos funcionários participantes deste processo. Na prática esta medida nunca funcionou, e recolhida pelo fisco, a fortuna ficava sempre perdida para o réu e seus descendentes.

REGISTRO DO CONFISCO DOS BENS NO SÉCULO XVIII NO BRASIL -
Só como exemplo, transcreveremos um trabalho da profª Anita Novinsky os bens confiscados a Diogo Roiz Moeda, preso no Rio de Janeiro em 11 de outubro de 1712 e julgado em Lisboa em julho de 1713:
Disse que tinha uma plantação de mandioca e umas terras que lhe largou Antonio Albernaz que valeriam seiscentos ou setecentos mil réis, mas que na entrada dos franceses tudo perdeu; Um escravo chamado Pedro, que valeria duzentos mil réis; uma escrava de nome Gracia, casada com o dito Pedro que valeria setenta mil réis; um moleque de nome Joseph que valeria duzentos mil réis; um negro da Mina, que valeria cento e quarenta mil réis; um negro doente que pouco ou nada valeria chamado Amaro; um negro de mina chamado André, que valeria cento e setenta mil réis; uma negra da costa da mina chamada Isabel, que valeria oitenta mil réis; uma negra crioula de quinze anos chamada Apolônia, que valeria duzentos mil réis moveis da casa: três caixas de vinhático, um leito de jacarandá, sete tamboretes – três de couro e quatro de pau, e é devedor de Francisco de Campos da Silva de cento e cinqüenta mil réis procedidos de umas terras que lhe comprou; foices, enchadas, machados, que valeriam oito mil réis; um catre de pau branco que valeria três mil e duzentos réis; dois estrados de pau branco que valeriam dez mil réis; uma espingarda que valeria quinze mil réis; uma espada e adaga que valeriam quinze mil réis, isto é o que mais tinha a respeito do inventário.
Como se vê, tiraram tudo do pobre denunciado. Muitas vezes o cidadão era abastardo, como aconteceu com muitos senhores de engenho do nordeste, do dia para noite ficavam em perfeita miséria.
Como os processos corriam em segredo, não faltavam denunciantes, quiçá por qualquer motivo. Sabendo como é vil a pessoa humana, capaz de qualquer baixeza por dinheiro e até uma simples inveja, fácil calcular o numero de infelizes que tenham purgado suas penas em prisões por sobrarem espiões ou falsas testemunhas. Jamais um acusado soube a razão de sua prisão ou o nome do seu acusador. Teria de adivinhar o motivo. Temos notícias de pessoas que voltavam diversas vezes aos instrumentos de suplício, implorando, pedindo pelo amor de Deus, dizendo que confessaria tudo que eles quisessem, contanto que parassem os tormentos, mas não obtinham resposta. Não havia respeito a dignidade das pessoas, idade, profissão ou ao sexo. Muitos padres apodreceram nos cárceres.

O SISTEMA PENITENCIÁRIO – as prisões eram infectadas. Eram fornecidas: uma bilha de água a cada oito dias e uma vasilha para as necessidades fisiológicas. Os prisioneiros viviam na mais completa imundícia, sem o menor cuidado de higiene, convivendo com os vermes, que muitas vezes excedia-se dos vasos, onde as fezes das infelizes apodreciam. Mas como dissemos, não eram só os evangélicos e judeus que sofriam esses horrores. Muitos padres e católicos, que descuidavam da disciplina e as vítimas de denuncias. Mas como resistir aos suplícios sem denunciar alguém? Na relação estarrecedora dos mais de trinta mil condenados em Portugal, encontramos pais conduzidos a morte e filhos chorando de remorso por tê-los denunciado.
Encontramos também um livro de um padre, que escreveu inocentando a Inquisição, um trabalho cheio de incoerências, esclarecendo que, não só os hereges, mas os católicos estão sujeitos a perseguição da Inquisição.
Os católicos hereges podem ser perseguidos pela Inquisição por faltas exteriores e sociais relacionadas com a heresia, exemplo, favorecer aos hereges.

FOCALIZANDO O JURAMENTO DOS JESUÍTAS

“E
u ..... em presença de Deus Onipotente, da Bem-aventurada Virgem Maria, do bem-aventurado São João Batista, São Paulo e São Pedro, superior geral da Companhia de Jesus, fundado por Santo Inácio de Loyola, no pontificado de Paulo III, e continuada até hoje pelo ventre da Virgem Maria, mãe de Deus e por Jesus Cristo DECLARO E JURO QUE SUA SANTIDADE O PAPA E O VIGARIO DE CRISTO É O ÚNICO VERDADEIRO CHEFE DA IGREJA CATÓLICA OU UNIVERSAL EM TODA A TERRA, que em virtude das chaves para abrir e fechar dadas a sua Santidade por meio de meu Salvador Jesus Cristo, tem ele poderes para depor os reis hereges, príncipes, estados, comunidades e governos e destruí-los sem que fique algum”. Assim pois, COM TODAS AS MINHAS FORÇAS DEFENDEREI, doutrina, os direitos e costumes de Sua Santidade contra todos os usurpadores heréticos ou autoridades protestantes, especialmente da igreja Luterana da Alemanha, Dinamarca, Noruega, Holanda e Suécia e os demais ramos da mesma especialidade estabelecidos na Irlanda ou no continente americano e de todos os aderentes a quem se considera hereges e usurpadores, inimigos da Santa Madre Igreja de Roma.
“Renuncio e desconheço d’ora em diante qualquer compromisso como dever para qualquer Rei herege, Príncipe ou Estado, chame-se protestante ou liberal, e a obediência a qualquer de suas leis, magistrados ou oficiais”.
Declaro e igualmente digo, que as doutrinas das igrejas da Inglaterra e Escócia dos Calvinistas, Huguenotes ou outros nomes de protestantes ou Maçônicos são condenados e assim todos aqueles que não a abandonarem.
“Declaro, igualmente, que ajudarei, assistirei e aconselharei todo e qualquer agente de Sua Santidade, em qualquer lugar onde esteja, seja na Suíça, Holanda, Irlanda, Alemanha ou América, ou qualquer outro reino ou território aonde vá farei TUDO O QUE PUDER PARA EXTIRPAR AS DOUTRINAS HERÉTICAS, protestantes ou Maçônicos, PARA DESTRUIR OS SEUS PRETENSOS PODERES LEGAIS e de qualquer espécie que sejam”.
“Prometo e declaro que entretanto, me é permitido figurar como membro de qualquer religião herética com o fim de propagar os interesses da Santa Madre Igreja, guardarei e não revelarei os segredos dos agentes, seguindo suas instruções, não os divulgando direta ou indiretamente por palavras, escritos ou qualquer outro modo, não agindo senão para ajudar tudo que me seja proposto pedido e o que se me ordene por intermédio de Ti, meu Santíssimo Padre ou por ordem desta Sagrada Ordem”.
“Declaro mais e prometo que NÃO TEREI OPINIÃO E VONTADES PRÓPRIAS, NEM RESERVA MENTAL ALGUMA, senão que como cadáver, obedecerei incondicionalmente a cada uma das ordens que receba dos meus superiores da milícia, do Papa e de Jesus Cristo”.
“Que irei a qualquer PARTE DO MUNDO ONDE SE ME ENVIE, às religiões do Norte, aos espessos montes da Índia, aos centros da civilização da Europa ou às silvestres cabanas dos bárbaros selvagens da América, SEM MURMURAÇÕES OU QUEIXAS, SEREI SUBMISSO A TUDO O QUE ME SEJA ORDENADO”.
“Prometo e declaro que farei, quando se me apresente a oportunidade, guerra sem quartel, SECRETA OU ABERTAMENTE,contra os hereges, Protestantes ou Maçãos, tal como se me ordene fazer, EXTIRPÁ-LOS-EI DA FACE DA TERRA, QUE NÃO TOMAREI EM CONTA, IDADE, SEXO OU CONDIÇÃO, QUE ENFORCAREI, QUEIMAREI, DESTRUIREI, ENVENENAREI, CEGAREI, ESTRANGULAREI VIVOS A ESSES INFAMES HERÉGES, ABRIREI O VENTRE DAS SUAS ESPOSAS E BATEREI COM A CABEÇA DOS SEUS FILHOS NAS PAREDES, AFIM DE ANIQUILAR ESSA EXECRANDA RAÇA”.
“Que quando não posso fazer isto abertamente, empregarei secretamente a taça de veneno, a estrangulação, o aço do punhal, a bala de chumbo, sem ter consideração a honra, a classe, dignidade, autoridade das pessoas, quaisquer que sejam suas condições de vida pública ou privada, tal como me tenha sido ordenado em qualquer tempo pelo agentes do Papa ou pelo superior da irmandade do Santo Padre da Companhia de Jesus, E PARA ISSO CONSAGRO-LHE TODA MINHA ALMA E TODAS AS MINHAS FORÇAS FÍSICAS, e com a adaga que agora recebo, escreverás o meu nome com sangue em testemunho deste juramento; se manifestar falsidade em minhas determinações, podem meus irmãos e camaradas, soldados da milícia do Papa cortar as minhas mãos e os meus pés, abrir o meu ventre e nele queimar enxofre e aplicar-me todos os castigos que se possam conceber e executar sobre a terra e que a minha alma seja torturada pelos demônios nas chamas infernais para todo o sempre.
“Que Darei o meu voto sempre a um dos Cavaleiros de Colombo, de preferência a um protestante, a um maçom e que farei com que todo o meu partido faça também; se dois católicos estiverem contendendo, verei qual é o mais devoto a Santa Igreja e lhe darei o meu voto”.
“Não acatarei nem empregarei um protestante, se estiver em minhas faculdades tratar ou empregar um católico. Colocarei uma jovem católica no seio de famílias protestantes para semanalmente prestar informações sobre movimentos familiares dos hereges”.
“Que me aprovisionarei de armas e munições a fim de estar pronto quando me seja ordenado defender a igreja, já individualmente, já na milícia do Papa”
Tudo o que juro pela Bendita Trindade e pelo Bendito Sacramento que vou receber, executarei e mais, cumprirei esta ordem e juramento”.
(Si cum Jesus itis, non cum jesuitis)

FOCALIZANDO A QUESTÃO JUDAICA E A INQUISIÇÃO

N
os séculos XIII e XIV as terríveis perseguições dirigidas aos judeus em quase toda a Europa tinham levado na França e Inglaterra à sua expulsão destes países. O movimento demorou a chegar na Península Ibérica, onde judeus e cristãos viveram em paz lado a lado até o final do século XIV. Os israelitas podiam ali exercer livremente a sua profissão, dedicar-se a estudos científicos e adorar o seu Deus. Mas por volta de 1390, também ali se desencadeou contra eles o ódio popular. Estes judeus dobraram-se perante a tempestade, e talvez pela primeira vez na história do Povo de Israel, abjuraram em massa sua fé e deixaram-se batizar. Cauculou-se que só no Reino de Aragão, se converteram assim ao catolicismo mais de 100.000 judeus. Em Castela o numero de convertidos foi, pelo menos, igual. Assim nasceu uma nova classe de cidadãos, que se deu o nome de Marranos.
Após esta conversão em massa, acalmou-se a tormenta, pois os cristãos dessa época não queriam mal ao povo judaico, mas sim a religião mosaica. Os judeus de Espanha podiam portanto encarar o futuro confiadamente: depois de sua conversão gozavam os mesmos direitos que os espanhóis. Podiam se tornar sacerdotes, funcionários públicos, monges e não tardaram a ocupar as mais altas posições na Corte, no Governo e na Igreja. Por meio de casamento, logo se aparentaram com os burgueses espanhóis mais considerados e a sua importância não deixou de aumentar, devido em grande parte às riquezas que acumularam no decorrer dos séculos.
Mas o sucesso de uns suscitaram a inveja de outros. Depressa começaram a circular boatos em Aragão e Castela a respeito destes cristãos-novos. Afirmavam que, na realidade, não eram cristãos e que nunca deixaram de sacrificar em segredo ao seu antigo culto.
Os monges das ordens mendicantes, lançaram do alto do púpito, vivas diatribes contra os judeus, esses corruptores do povo e exigiram inquéritos rigorosos e medidas enérgicas para salvaguardar a fé cristã. Por volta de 1460, um alto prelado lamentava-se da seguinte forma: “este país está cheio de heréticos, judeus e mouros. Senhor que a tua mão tutelar proteja este rebanho, porque os lobos agora estão dentro do curral”.

A ATITUDE DA RAINHA ISABEL – a atitude da rainha Isabel para com os judeus não era só ditada pela sua concepção de religião. Ela sabia que os judeus convertidos estavam entre os mais ricos dos seus súditos. E todos aqueles condenados por heresia teriam seus bens confiscados, o que consistia uma considerável fonte de renda para a coroa. O Rei Fernando de modo diferente. Em 1469 unira seu destino ao de Isabel de uma forma tão romântica transformara-se num monarca poderoso e prudente. Com uma reputação de príncipe frio e inacessível, político hábil e também desprovido de escrúpulos. O Rei da França, Luiz XII, queixou-se de ter sido enganado, por duas vezes, por ele. Quando estas palavras chegaram aos ouvidos do monarca este respondeu, cheio de cólera: “Este Bêbado está mentindo” Não forma duas, mas dez vezes que consegui engana-lo!
Desde que Isabel decidiu atacar os cristãos-novos, Fernando não se opôs. A Inquisição seria para ambos o instrumento dos mais cômodos.
A Inquisição não era uma instituição de origem espanhola. Desenvolvera-se na França, no decurso da luta que a igreja tivera que travar no século XII, contra as tendências heréticas. Tomara a sua forma definitiva em 1215, no Concílio de Latrão, que decidiu que as autoridades seculares tinham de executar os veredictos dos tribunais eclesiásticos contra os heréticos. Pouco depois, foi decretado que qualquer herético que se recusasse a abjurar os seus erros seria queimado vivo. Desde então, a Inquisição tornara-se uma poderosa arma para a conservação da unidade da fé. Sob a direção dos dominicanos, a Inquisição estendeu-se a França, Itália, Alemanha e Inglaterra e alguns outros países. Até aí não conseguira entrar na península ibérica. Quando Isabel e Fernando consentiram que a Inquisição se estabelecesse nos seus reinos, puseram como condições que esta instituição ficaria sob o seu controle direto e os bens dos condenados passariam para a coroa. Em 1480 a inquisição começou a sua ação na península.
Três anos mais tarde, o confessor de Isabel, o dominicano Tomás de Torquemada, tornara-se o súdito mais poderoso da rainha. Usava o título de Grande Inquisidor e nada se fazia sem a sua aprovação.

O SUPLÍCIO PARA O SUSPEITO DE HERESIA – se um suspeito de heresia era preso, conduziam-no perante um inquisidor, que o exortava a reconhecer os seus erros. Se o preso se recusava, era sujeito a um interrogatório. Infeliz o acusado que se contradissesse: a tortura, saberia arranca-lhe confissões não equivocas. Era então entregue nas mãos do carrasco. Além do inquisidor, assistiam a operação um representante do bispo local e um escrivão, encarregado de anotar da forma mais rigorosa o que via e ouvia nesta ocasião. Um dos suplícios que a Inquisição foi buscar as técnicas usuais de tortura da época foi em despir o prisioneiro e estende-lo num cavalete de suplício. Era uma vez exortado, pelo amor de Deus, a reconhecer os seus erros. Se persistia as suas negativas, a tortura era aplicada sob um plano bem estabelecido. A lei proibia a sua aplicação mais de uma vez a cada preso, mas os torturadores, caso não tivesse o objetivo alcançado, torneavam a lei declarando que a operação fora interrompida e recomeçaria mais tarde. A aplicação do sistema não tinha limite.
Assim foi se aniquilando o grupo dos cristãos-novos, que em tempos haviam sido tão influentes na Espanha. Os judeus receavam converte-se, com medo de cair nas mãos da inquisição.

FOCALIZANDO A “SANTA” INQUISIÇÃO NA ALEMANHA

D
epois da instalação dos três tribunais na Itália: Lombardia, Romanha e Marca de Ancona, tentaram também na Alemanha e diversos outros países. Mas o caráter, o bom senso e a antipatia a força da religião contratavam muito com as ardilosas astúcias, e os alemãs foram protelando, adiando. Finalmente acabaram rebatendo a idéia, ponderando suas sensatas raízes e os resultados dos tribunais instalados experimentalmente na Itália não lhes deixaram boa impressão. Os alemães conservavam com orgulho a sua independência de costumes. O mesmo orgulho das surpresas que aplicavam aos valorosos exércitos romanos.
O clero por sua vez, conhecia a nobreza dos sentimentos dos germânicos, mas era firme e teimoso nos seus propósitos. Haveria de lá instalar o seu tribunal. Tinha dado passos largos para a sua instalação e haveria prejuízos moral e material na sua desistência. Foi então que a Cúria lançou mão de todos os seus recursos. Prometeram aos alemães que o trabalho dos tribunais seria honesto, que não se intrometeriam nos assunto da administração civil, respeitariam as famílias e suas particularidades sob qualquer pretexto, que só teriam acesso aos crimes de heresia e seriam resolvidos sem a concessão e aprovação do Papa.
Foram vãs as tentativas de conseguir a aceitação. Em algumas cidades, onde tinham penetrado, foram expulsos e proibidos de efetuar transações comerciais sendo obrigados a retirar-se. Assim, desistiram de instalar tribunais na Alemanha.
Feliz Germânia, quantos males não poupaste assim a teus filhos?! Quantos vilipêndios não evitaste ao Supremo Criados Universal, à sua santa crença igualmente ao teu soberano e suas invioláveis Leis?!
A vista do insucesso nas tentativas de instalar os tribunais na Alemanha, Roma se voltou para a França. Infelizmente, a Alemanha não viu os seus moradores totalmente livres dos horrores das perseguições. Ela sofreu terrivelmente na chamada Guerra do Trinta Anos, de 1618 a 1648, quando grande parte do seu território foi devastada.
Depois vieram as lutas com Frederico, o Grande, e a Guerra dos Sete Anos. A influencia de Voltaire sobre o Rei da Prússia, Frederico produziu o ateísmo, que marcou época no século XVIII. A seguir veio a Guerra de Napoleão Bonaparte, dominando e segurando com mão de ferro o seu progresso.
O desenvolvimento do militarismo sob o comando de Hitler desencadeou uma perseguição religiosa nunca vista na história, quando pereceram nas câmaras de gás mais de seis milhões de judeus.’

FOCALIZANDO A “SANTA” INQUISIÇÃO NA FRANÇA

A
França foi o único grande Estado católico que o tribunal jamais conseguiu se instalar, apesar da Inquisição ter nascido e se desenvolvido ali. Houve um grande esforço da Cúria, mas foi ainda mais heróica a resistência do povo francês. Foram empregados todos os recursos e sutilezas. Marcou muito as primeiras décadas do século XIII, os horrores, a carnificina dos exércitos cruzados contra os Albigenses. Nesta época fez-se estarrecer todo o Languedoc e mesmo o mundo bárbaro com a impiedosa matança dos inocentes, para satisfação da vaidade do Papa Inocêncio III, num envolvimento de grandes e vergonhosas traições que marcaram o evento.
Contudo, houve ocasiões em que a vitória acenava às partes dos emissários do papa. Em algumas ocasiões, quando tentavam implantar os tribunais, chegaram a se considerar vencedores, mas tudo não passou de uma esperança vã.
Neste esforço gigantesco contra tão poderosa e avassaladora instituição, destacou-se um homem por seu valor, tenacidade, argúcia e capacidade de luta. Ele conseguiu que o Parlamento francês aprovasse o Edito de Rosmarantin, de sua autoria, o qual parecia favorecer o catolicismo. Este edito determinava que:
Tudo quanto os papas queriam que pusessem em prática a Inquisição contra os hereges, porém com a notável diferença de que, sendo a igreja quem devia julgar semelhantes criminalidades, o edito dava a igreja esta autoridade, mandando que os bispos fossem os únicos que delas conhecessem e julgassem. Não era isto que pretendiam os católicos franceses, que exigiam que o tribunal fosse formado pela exaltação do partido. Porém era isto que a igreja mandava, a França carecia, e a firmeza de um só homem decidiu.
O edito então foi registrado, e a Inquisição e os que lhe eram favoráveis ficaram alijados para sempre. Esse famoso edito soube assim destruir todas as pretensões da Cúria e livrou também os franceses da argúcia, sagacidade e ambição desmedidas do Tribunal da Inquisição. Seu autor chamava-se Miguel do Hospital.
Embora não organizada em um tribunal, as perseguições sucedidas, agitou a França. São conhecidos os movimentos protestantes por ocasião da Reforma e o Movimento dos Reis que foram seus perseguidores. Houve grande mortandade.
CATARINA DE MÉDICIS ASSUME O PODER – com a morte de Henrique II, 1559, elevou Catarina de Médicis e os Bourbons a chefia do partido protestante. Em Nantes, os protestantes formaram uma conspiração e, traídos por uma delação, houve um tremendo massacre. O infante Francisco II morreu em dezembro de 1560. o filho de Catarina,Carlos IX, com dez anos de idade, tornou-se herdeiro. Ela assumiu a regência com o auxílio dos Bourbons e resolveu livrar-se dos Guises, outra família muito importante da época. Por motivos políticos, a regente favoreceu os protestantes por algum tempo. Os chefes huguenotes exigiram, em vão, a tolerância religiosa, a expulsão dos Guises, que lhe fazia oposição, a abolição das ordens religiosas e o confisco parcial das propriedades da igreja católica.
A política tomou novos rumos, e os protestantes foram novamente massacrados. Resolveram, então, pegar em armas, a fim de conseguirem condições moderadas de paz, mas foram traídos por Catarina e os Guises, que, na eventualidade, aliara-se.
A paz de Saint Germain, em agosto de 1570. concedeu aos huguenotes uma liberdade limitada. Podiam pregar fora de Paris e em mais quatro cidades determinadas. Esse tratado, humilhante para quem já estivera no apogeu, obrigava ainda a entregar as igrejas que haviam tomado e vetava a construção de outras. Eram proibidos de se reunir em Sínodos e de tomar parte em qualquer organização militar. Mas essa tolerância, mesmo limitada, durou pouco tempo.

A NOITE DE SÃO BARTOLOMEU - Catarina, cuja política fora sempre de contemporizar e equilibrar as forças dos partidos, percebendo que os católicos ganhavam terreno, consentiu em convidar o Almirante Coligny, que era huguenote, para tomar parte no governo. Por algum tempo, o almirante, foi tratado pela regente com muita atenção, passando a exercer influencia sobre o fraco Carlos, na ocasião com vinte anos. Quando foi preparada a festa para o casamento de Henrique de Navarra com a irmã do rei, Catarina, não querendo perder a influencia, formulou com Henrique, dos Guises, uma cilada contra Coligny.; no dia 18 de agosto 1572, por mandato de Catarina, um atirador feriu o almirante com um tiro, sendo ele a primeira vítima do planejado massacre de 24 de agosto de 1572. Catarina tinha ido muito longe, e não podia voltar atrás. Ela já havia planejado o futuro de seu filho Henrique III, a duquesa de Neumours e seu filho, também chamado Henrique de Guises, o cunhado da duquesa e o duque de Aumale um masscre para o dia de Soa Bartolomeu, 24 de agosto de 1572.

O CASAMENTO ENTRE CATÓLICO E PROTESTANTE - Um grande numero de protestantes estavam em Paris para a festa de Henrique de Navarra com a princesa Margarida. O plano dos conspiradores era assassinar somente Coligny. Como a tentativa falhara na primeira vez, saindo ele levemente ferido, e sabendo eles a grande influencia exercida sobre o jovem rei, perceberam o grande perigo que se encontravam. O rei visitara o almirante ferido e se inteirava dos planos dos conspiradores, num acesso de raiva, revelou o que sabia. Então tomaram a decisão de assassinar o Almirante imediatamente. Os intrigantes acusaram falsamente os huguenotes de pretenderem matar o próprio rei e, diante disso, autorizou a morte a traição do seu amigo, herói nacional, grande defensor de Saint-Quetin, Almirante Gaspar Coligny.

O MASSACRE DA NOITE DE SÃO BARTOLOMEU - Então, comandados pelos irmãos Guises, vinte mil milicianos, ajudados por mercenários suíços a soldo dos próprios comandantes assassinaram primeiro o Almirante e alguns principais chefes protestantes. As casas dos huguenotes tinham sido previamente marcadas com cruzes brancas, e os assassinos, para serem reconhecidos entre si, traziam faixas brancas. Só em Paris foram mortos dez mil, e nas províncias o numero teria chegado a trinta mil.
Sully, o primeiro ministro de Henrique IV, que estava inteirado, afirma que caíram sem vida setenta mil pessoas... se este ato não foi instigado por Roma, o papa e a Cúria estavam pelo menos ciente que ia se realizar. Houve iluminação em Roma e para festejar o acontecimento só canhões do Castelo de Santo Ângelo deram salvas, organizou-se uma procissão que foi até a igreja de São Marcos e cunhou-se uma medalha para comemorar o Hugonotorum Strages... e diz-se que o corrompido Felipe II, sorriu pela primeira vez e última vez na sua vida quando a noticia lhe constou...

FOCALIZANDO A “SANTA” INQUISIÇÃO NA ESPANHA

A
Espanha foi o país que mais sofreu a influencia da Inquisição. A figura central de todos os malefícios tinha o nome de Torquemada (1420-1498), e o seu sucessor, não menos cruel, foi o Cardeal Ximenes. Ambos saídos das hostes infernais, mais feras do que homens e responsáveis pelos maiores flagelos que a humanidade já sofreu nas mãos humanas – sobretudo os judeus, que deveriam causar orgulho em qualquer nação onde morassem, foram maltratados, expulsos e serviam gratuitamente de escárnio a população. Além disso, recebiam os pejorativos de Marranos e Cristãos-novos.
Pobre Espanha, grande vítima, sofreu e até hoje ainda sofre os malefícios de instituições dirigidas por desalmados. De poderosa que foi, dominando quase toda a Europa e as partes conhecidas do Novo Mundo, no inicio do século XVI, veio a tornar-se a ultima nação em desenvolvimento e alfabetização.

QUANDO TUDO COMEÇOU – tudo começou em represália a D. Pedro II de Aragão, porque ele ousou combater as forças de Inocêncio III, que se dispuseram a aniquilar os albigenses. D. Pedro, o rei, tomou o partido dos oprimidos combatendo ao lado do seu cunhado o Conde Raimundo. Tão logo este herói morreu em combate em combate, os emissários do papa apressaram-se atravessar as fronteira para oprimir os aragoneses, que foram considerados hereges a partir de então, como se os súditos fossem responsáveis pelos atos de seus soberanos.

REAÇÃO E ERRO DOS ESPANHÓIS – deste modo, declarou-se a população que seria considerados traidores da pátria todos aqueles que recebessem ou dessem asilo a um emissário do papa com a função de inquisidor. Chegou a instituir um premio para quem prendesse um deles. Assim, os inquisidores se tornaram objeto de desprezo, e o povo, zombando de suas sentenças, forçava as prisões e libertavam os cativos.
O maior erro dos espanhóis foi de não ter expulso os inquisidores do país, onde cresceram a sombra de suas artimanhas e vieram a se firmar com o passar do tempo. Porém, a Inquisição só tomou conta do país, quando, no esforço de unirem Aragão e Castela, casaram-se Fernando V e Isabel. Na época, sentava-se no trono da igreja o papa Sisto IV, e os soberanos pediram ao papa uma bula para a instituição do tribunal da inquisição, a fim de castigar os mouros e os judeus. O tribunal começou em Aragão e , dentro de pouco tempo, se espalhou por toda a Espanha.
Atribui-se tal fato ao ódio votado aos judeus, que foram assim expulsos de todo território espanhol, e ao combate aos mouros, que procuravam eliminar o catolicismo com a introdução de uma nova religião. Porém, atrás dessas suposições escondem-se outros motivos.

A UNIÃO DOS REINOS DE ARAGÃO E CASTELA - a historia nos revela a figura de Henrique IV, de Castela, como um soberano incapaz e devasso que foi deposto; sua mulher, Joana , sem uma explicação plausível foi considerada louca e, incapaz de assumir o trono. Desta forma, assumiu justamente Isabel, casando-se com Fernando e unindo os reinos de Aragão e Castela. A História nos conta:
D. Henrique IV, não tendo agradado ao clero de seu reino, foi deposto com efeitos de conjuração tramada pelo arcebispo de Toledo. A filha procriada de sua segunda união matrimonial, com D. Joana de Portugal, foi julgada adúltera e por isso excluída da sucessão da coroa. D. Afonso, irmão do destronado soberano, foi proclamado rei de Aragão, mas seu reinado foi curto. D. Henrique não duvidou, fazendo uma vergonhosa renúncia de seu legítimo poder real, e o espólio, passou a ordenar a cabeça da infanta D. Isabel, que para isso tinha sido preparada desde a infância por Torquemada.
Não é difícil concluir que foram por ele maquiavelicamente forjadas essas estranhas sucessões, impedimentos e renuncias e a loucura da pobre Joana.
Torquemada, tão logo tomou conhecimento dos encaminhamentos de seus planos, tomou o hábito de São Domingos e revelou-se um pregador. Depois, conseguiu da princesa, como seu confessor, a promessa de estabelecer a Inquisição no país quando fosse coroada.
Supomos que Torquemada tenha urdido por essa tramóia e também que ele se preparara psicologicamente a rainha Isabel. E para completar o seu sonho, foi proclamado Inquisidor-Geral, razão do processamento de mais de cem mil pessoas e da destruição implacável de cinco ou seis mil na fogueira, o que tornou a ordem de São Domingos riquíssima pelo espólio das vitimas. Quando ele morreu, em 1498, substituiu-o o cardeal Francisco Ximenes, que não deixou de bem cumprir as maldades e perversidades de seu antecessor.
Depois reinou Carlos V, que esteve no poder da poderosíssima Espanha do século XVI, praticamente senhor de todo o mundo conhecido. Era ferrenho defensor do catolicismo e de suas instituições:
No principio do período da Reforma, os Países Baixos estavam diretamente sob o governo imperial. Carlos V empregou todos os meios ao seu dispor para suprimir as atividades reformistas. Durante cinqüenta anos as fogueiras da perseguição arderam e milhares de crentes foram martirizados...

A VERGONHA E O HORROR DA ESPANHA – é muito triste saber o quanto a Espanha declinou. Uma nação que foi tão poderosa no século XVI, tendo dominado toda a América do Sul, América Central, e boa parte da América do Norte. Países baixos, ilhas do Pacífico, algumas províncias da Itália, Índias Ocidentais, sendo Carlos V, imperador da Alemanha, e seu filho Felipe II de Espanha, sendo juntamente Felipe I de Portugal possuindo uma grande Armada e um poderoso exército. Contudo, os seus soldados eram detestados por toda parte, e seus capitães, temidos pela falsidade e prática da traição. Esse país rico, em todos os sentidos, decaiu a ponto de se tornar a nação mais atrasada da Europa no fim do século XIX, chegando a possuir 80% de analfabetos.
Esta instituição, da qual o padre Torquemada foi rei em perversidade, deixou lamentavelmente uma estatística assustadora. Em três séculos e meio de sobrevivência, condenou 350 mil pessoas, o correspondente a três pessoas por dia, prova que ele se alimentava de sangue humano.

FOCALIZANDO A “SANTA” INQUISIÇÃO NA INGLATERRA

E
nquanto se estabelecia a inquisição na Espanha, os papas tentaram a todo custo instalar tribunais também na Inglaterra. Já havia a tendência do rei se tornar o cabeça da igreja, cansado do domínio e imposição dos papas e da intromissão nos negócios do reino. O povo inglês não concordou com a sua instalação. Como já acontecera na Alemanha e na França, e a Inglaterra abriu as suas portas para todos os que quisessem entrar, vindos das terras onde grassava a perseguição, principalmente os que saiam da península ibérica. Deste modo o país alcançou a dianteira pelo desenvolvimento, enriquecendo em conseqüência do aprimoramento da mão-de-obra.

O TEÓLOGO WYCLIF – este teólogo foi um dos líderes da corrente antipapal e anticlerical. Ele introduziu o evangelho na Inglaterra e teve muitos seguidores. Muitas pessoas possuíam porções da Bíblia que ele ia traduzindo. Havia portanto muitos evangélicos no país. E pelo movimento reformador, Wyclif mereceu uma bula especial do papa Gregório XI, em 1370. mas não foi por esse papa condenado, providencialmente, morreu em 1378. Elegeram-se dois papas rivais, que se degladiavam. Isso foi o motivo maior para o pregador se inflamar e continuar a pregação, e quando morreu deixou muitos seguidores. Quarenta anos depois da morte de Wyclif, os padres, reunidos em concílio, condenaram seus ossos a fogueira, os quais foram cuidadosamente desenterrados e queimados.
A inquisição era assim... não conhecia a palavra perdão, nem para os mortos. No mesmo ano em que Henrique VIII subiu ao trono, 1509, um bispo papista de Londres moveu uma perseguição aos evangélicos. Naturalmente que eram seguidores de Wyclif. Essa perseguição se estendeu até 1537. nas proximidades de Lincoln, o bispo da diocese promoveu também muitas perseguições, apoiado por uma carta do Rei Henrique VIII.

A TRADUÇÃO DA BÍBLIA POR TYNDALE – nesta ocasião apareceu Tyndale, homem que colocou no seu coração o empenho de traduzir as Escrituras Sagradas para a língua do povo. Peregrinou pelas grandes cidades buscando apoio e começou a ser perseguido. Quando conseguiu traduzir uma porção da Bíblia, foi preso e entregue a Inquisição, mas sua obra já havia chegado as mãos dos ingleses. Os escritos foram apreendidos e queimados publicamente em Oxford, Cambridge e Londres, e ele mesmo, Tyndale, foi queimado em 1536.
Após Tyndale surgiu Hugo Latimer, que fora obstinado papista e perseguidor da nova doutrina, mas se convertera pela pregação de um humilde operário chamado Bilney. Então o padre, ex-papista e grande pregador Latimer foi também lançado na prisão, e muitos que o haviam acompanhado na pregação das Boas Novas foram martirizados.

O SOFRIMENTO DE ANA KINE – Ana Kine foi presa e instada a renunciar sua fé. Persistiu e foi mandada para a tortura no cavalete, com os ossos moídos foi convidada novamente a renunciar. Continuou persistindo. Foi levada para a prisão para ser queimada. Não podendo manter-se de pé, devido aos ferimentos sofridos no cavalete, foi amarrada com uma corrente. E foi lhe oferecido o perdão se renunciasse. Ela respondeu que não teria chegado até ali para renunciar ao seu Senhor. Então atearam fogo a palha e a lenha queimou mais aquela vítima da perseguição religiosa. Neste dia juntamente com Ana, foram queimadas vivas mais três pessoas.
Henrique VIII, separado de Roma, porque o papa não concordou com o seu divorcio, mesmo assim não poupou os “hereges”. Quando o rei morreu, subiu ao trono Eduardo VI, um menino com nove anos de idade, mas foi protetor dos protestantes e aspirava que a Inglaterra participasse dos efeitos da Reforma. Somerset, seu tio, foi feito regente, como era um homem de princípios protestantes, fez com que as perseguições parassem e se calassem os bispos perseguidores. Com o fim de reprimir os abusos, foram nomeadas algumas pessoas para visitar as dioceses, mas o rei Eduardo ficou doente, e Somerset foi levado ao cadafalso. Porém o novo regente era favorável também a Reforma.

MARIA “ A SANGUINÁRIA” - com a morte de Eduardo em 1553, subiu ao trono Maria, que foi chamada “a sanguinária”. Maria era católica fanática e inverteu-se a situação. Durante o reinado do jovem rei Eduardo, ela pedira autorização para ouvir missa na sua própria casa, o que lhe fora negado pelo rei. Mas no principio do reinado de Maria ela abriu um período de tolerância para com os protestantes. Todavia, um cardeal chamado Pole, conselheiro da rainha, influenciou-a, e as perseguições não tardaram.
Um padre chamado João Roger foi a primeira vítima. Ele foi preso juntamente com criminosos de toda a espécie. Depois de três interrogatórios, como suas respostas não agradassem foi levado para a fogueira em Smithfield. Outros seguiram o mesmo caminho. Sanders, Hooper, Taylor, Farrar, Guilherme Hunter, Hidley, Latimer: todos sofreram tortura, cada um por sua vez, juntamente com muitos outros cujos nomes não tinham projeção.

FOCALIZANDO A “SANTA” INQUISIÇÃO EM PORTUGAL

D
. João II, rei de Portugal, foi chamado “príncipe perfeito” e morreu com 40 anos de idade. Ele recebeu os judeus que foram expulsos da Espanha pelos reis católicos. Mas não lhes deu trégua.
Ficamos perplexos com a mentalidade dos reis desse período, a Idade Média para a Renascença, nos séculos XV e XVI, quando os soberanos obedeciam cegamente as ordens e orientação dos papas, transmitindo toda a sua ferocidade e espírito de malvadeza e perversidade, incessíveis que eram para cometer as maiores atrocidades contra as pessoas. E ainda recebiam epítetos pomposos, como “príncipe perfeito”, “o Venturoso”, “o magnânimo” e tantos outros.

JUDEUS : ALVO PRINCIPAL - se na Europa Central as grandes vítimas foram os evangélicos e os que se opunham as desastrosas pretensões dos papas e do clero de um modo em geral, na Península Ibérica, os judeus foram trucidados quase que com exclusividade.
D. João II sucedeu o pai, o ambicioso Afonso V, e recebeu os judeus que foram expulsos da Espanha. Seria uma atitude belíssima se além de recebe-los desse a eles condições razoáveis de vida. Mas a sua “benevolência” ao permitir o ingresso dos judeus em Portugal revela interesses escusos. Logo a seguir, cometeu as maiores barbaridades contra os filhos menores dos recém chegados.
Por maior que tenha sido para os judeus a catástrofe da expulsão da Espanha, não foram menores as vicissitudes que tiveram de enfrentar em Portugal. Os cronistas portugueses da época deixaram-nos um quadro nítido sobre as extorsões econômicas, a escravidão, a fome e a desumanidade com que foram tratados. O rei D. João II ordenou que fossem retirados dos pais judeus os filhos menores e enviados à ilha de São Tomé onde foram devorados pelas feras.

O INÍCIO DA INQUISIÇÃO EM PORTUGAL – a inquisição começou suas atividades em Portugal em 1536, a pedido do católico “piedoso” João III, rei de Portugal. Era filho de D. Manoel com uma princesa espanhola, não a do primeiro casamento, que morrera ao dar à luz. Era portanto, neto dos reis católicos de Aragão e Castela. Todavia, muito antes desse tempo os efeitos da inquisição já se faziam sentir na terra lusitana. D. João III, um ano após sua coroação, pediu que o papa Adriano VI autorizasse a criação de um tribunal da inquisição em Portugal. Esse papa havia sido inquisidor geral na Espanha no seu tempo de cardeal. Sua morte atrasou a instalação do fatídico tribunal em 14 anos, enquanto o seu sucessor, Clemente VII, e depois Paulo III, parecendo simpatizar com a causa dos judeus, recebiam suborno de ambos os lados. Por fim Paulo III não resistindo as polpudas quantias oferecidas, decidiu-se pelos interesses de D. João III, e o tribunal foi instalado em 1536.
D. João III sempre fora inimigo dos judeus, mas só agora, como rei de Portugal, pode dar vazão ao ódio herdado com certeza de Isabel, sua avó, na tentativa de eliminar os judeus do seu reino. Antes da instalação do tribunal já aconteciam coisas absurdas, como vimos, no tempo de D. Manuel e anterior a ele. Eram as mesmas perseguições, as mesmas violências e as principais vítimas eram sempre os judeus.

OS TRIBUNAIS PORTUGUESES – O primeiro tribunal funcionou em Évora.
No dia 20 de setembro de 1540, desfilaram pelas ruas de Lisboa os primeiros condenados pela inquisição de Portugal.
Somente no dia 23 de outubro foram condenados à fogueira as primeiras vítimas, quatro homens e uma mulher. O tribunal de Lisboa realizou 248 autos, condenando 7.666 pessoas, e o maior auto desse tribunal foi realizado no dia 24 de março de 1631, quando condenou 180 pessoas de uma só vez. Esse tribunal funcionou até 7 de agosto de 1794.
Em Évora, o tribunal realizou 164 autos, com 9.973 condenações, tendo condenado 249 pessoas de uma só vez, no dia 30 de junho de 1630. funcionou de 22 de outubro de 1536 a 16 de setembro de 1731.
Em Goa, realizaram-se 71 autos, com 4.167 condenações, sendo o maior ato o dia 5 de setembro de 1734, com 136 pessoas condenadas. Funcionou de 1600 a 7 de fevereiro de 1773.
Finalmente, em Coimbra, foram realizados 277 autos de fé, com 9.543 condenações, sendo que só no primeiro dia de fevereiro de 1734, foram condenadas 273 pessoas nesse tribunal saiu penitenciado o grande padre Antonio Vieira, que se queixou ao papa Clemente X. e esse papa, em 18 de novembro de 1674, mandou fechar a inquisição em Portugal e perdoar todos os 142 sentenciados do auto desse dia. Infelizmente, ela foi reaberta pelo papa Inocêncio XI, em 21 de setembro de 1681, após 7 anos de descanso para a população sofrida, ocasião em que houve um grande repique de sinos e luminárias por 4 dias.

A REJEIÇÃO DO EVANGELHO – Portugal rejeitou o Evangelho que a reforma lhe proporcionou para ficar com o catolicismo e a inquisição, que puxaram para trás as nações. Hoje amarga um desenvolvimento ínfimo, beirando o Terceiro Mundo, como todas as nações que não conseguiram sacudir esse jogo maldito. Poderia ter-se alinhado com a Alemanha, a Inglaterra, a Suíça, a Suécia e os Estados Unidos. Mas alinhou-se com a Áustria, o México, o Brasil e a Espanha, que de todas as nações do mundo ocidental foi a mais pressionada e a mais infeliz. Foi considerada a nação mais atrasada da Europa no século passado.

AS CONTRADIÇÕES DE PORTUGAL – como todo país, Portugal teve seus bons e seus maus filhos. O seu inicio como nação teve a honra de criar uma língua das mais belas do mundo, “a ultima flor do Lácio”. País de conquistas , de vitórias. País de Camões, Gil Vicente e tantas culturas que orgulharam a nação. Portugal, que Afonso IV ajudou fundar. Portugal de Henrique de Borgonha e Teresa, espanhola que envergonhou seu filho Afonso Henriques, este primeiro grande herói português. Portugal de São Mamede, Ourique, dos Afonsos, dos Sanchos, de Diniz, de Pedro I o amante da célebre Inês de Castro “Dez anos iguais, nunca mais”. Portugal, que mata seus filhos para satisfazer a ambição de homens que se julgam deuses.
No período de 20 de setembro de 1540 a 7 de agosto de 1821, isto é, em 281 anos de inquisição foram apuradas nos arquivos 60.885 condenações, sendo 31.349 pessoas assassinadas pelo fogo.
Portugal, que cedeu as paixões humanas e permitiu que cometessem tantas injustiças, cometeu ele próprio uma grande injustiça com um dos seus filhos mais ilustres: JOÃO FERREIRA DE ALMEIDA, que traduziu as Santas Escrituras; que lutou, foi pobre, foi perseguido e foi vencedor. Em Portugal ele não teve honra. No entanto, tem a gratidão eterna de todos os evangélicos de língua portuguesa. Por ele a Palavra de Deus tornou-se familiar, e podemos dizer como sabemos que ele diria e teria dito muitas vezes esperançoso:
Bem aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo que Ele escolheu para a sua herança ( Sl. 33:12 )

FOCALIZANDO A “SANTA” INQUISIÇÃO NO BRASIL

O
santo oficio da Inquisição nunca estabeleceu um tribunal no Brasil, embora tenha sempre agido em terras brasileiras por intermédio das autoridades eclesiásticas locais e visitadores. Os bispos tinham poderes para efetuar prisões, confiscar bens de suspeitos e enviar prisioneiros ou seus processo para a Inquisição de Lisboa, que tratava dos casos relativos ao Brasil.
Na ultima década do século XVI, o arquiduque Alberto da Áustria, inquisidor mor de Portugal e colônias, mandou o visitador Heitor Furtado de Mendonça a São Tomé, Cabo Verde, Brasil e à administração de São Vicente ou Rio de Janeiro. A investigação abrangia culpas de sodomia, bruxaria e blasfêmias contra a igreja católica, e os elementos mais visados eram os cristãos-novos, acusados de praticarem secretamente rituais judaicos.
A primeira visitação do santo oficio ocorreu em 9 de julho de 1591, na Bahia e estendeu-se até 1593, quando seguiu para Pernambuco, onde permaneceu por dois anos. Após a partida do visitador, o bispo da Bahia ficou incumbido da fiscalização. Além de realizar visitações anuais, enviava os processos para Lisboa, prendia , punia e confiscava os bens dos condenados. Os jesuítas, assim como os vigários locais, ajudavam na busca dos culpados e suspeitos.
Em 1618 chegou a Bahia o segundo visitador oficial Marcos Teixeira, que organizou uma comissão inquisitorial ali permaneceu até 1619. a partir de 1623 os negócios da inquisição no Brasil ficaram entregues ao bispo Marcos Teixeira. De 1591 a 1624 foram processados 245 cristãos-novos, acusados de judaísmo.

A INVASÃO HOLANDESA – durante as invasões holandesas, a Inquisição recebia denuncias contra os cristãos-novos, mas estas eram mais dirigidas contra o inimigo político do que contra o herege. Em 1646 realizou-se no Colégio da Companhia de Jesus na Bahia uma grande inquirição. Foram ouvidas mais de 120 testemunhas e denunciados mais de cem pessoas entre cristãos-novos e hereges, blasfemos e feiticeiros.
Na primeira década do século XVIII, a Inquisição fez prisões em massa. No auto de fé de 1711 havia 52 brasileiros. As perseguições e os confiscos de propriedades nesses anos levaram a uma paralisação crescente na produção do açúcar, principal artigo de exportação do país e prejudicaram seriamente o comercio. De 1694 até 1748, 18 brasileiros foram condenados a morte pela Inquisição de Lisboa. O ultimo brasileiro condenado morreu no auto de fé de 20 de outubro de 1748 em Lisboa.

RESUMO CRÍTICO DA INQUISIÇÃO – a inquisição foi o maior pesadelo do cristianismo do qual, felizmente, já acordamos, e não sem tempo. Mas ela deixou marcas dolorosas, vitimando milhares de homens, mulheres e crianças, que morreram sem culpa em todos os países alcançados pela nefasta mão de Roma, pelos quais o papa agora pede perdão em favor do catolicismo. Mas isso não beneficia em nada as vítimas. A paga de tão insensatas ações o mundo está sabendo dar ao Romanismo. É o crescimento incontrolável dos que abandonam suas hostes e se bandeiam para os verdadeiros ensinos de Jesus, registrados na Bíblia, e isso está acontecendo no mundo inteiro, principalmente na Ásia e na América. Também entre os padres é grande a debandada e até alguns figurões, como o sobrinho do falecido papa Paulo VI, o ex-padre Juan Batista Tréccani, que atualmente é pastor evangélico de 5 igrejas pentecostais na Argentina.
Os tristes resultados dessa diabólica instituição se revelam também no grande numero de vítimas brasileiras. Ainda que grandes pesquisadores tenham se esforçado, não tem podido chegar a um numero exato, pois grande quantidade de processos, já estão parcialmente destruídos.
721 mulheres + 1098 homens = 1.819 vitimas
Muito bem se expressou o ex-padre e falecido pastor evangélico, Dr. Aníbal Pereira dos Reis, quando num dos seus livros diz:
ROMA sempre significou o contrário de AMOR

FOCALIZANDO OS INJUSTIÇADOS DA “SANTA” INQUISIÇÃO

V
itimas notórias da fogueira da Santa Inquisição deste período são a heroína francesa Joana D’arc, executada por declarar-se mensageira de Deus e por usar roupas masculinas, e o italiano Giordano Bruno, considerado o pai da Filosofia moderna, condenado por concepções intelectuais contrárias as aceitas pela igreja.
Processado pela inquisição o físico e astrônomo italiano Galileu Galilei defere retratar publicamente sua Teoria do Heliocentrismo, na qual a Terra gira em torno do Sol, e trocar a pena de morte pela de prisão perpetua. Após uma nova investigação iniciada em 1979, o papa João Paulo II reconhece, em outubro de 1992, o erro da igreja no caso de Galileu Galilei.

Pr. e Historiador: Esdras Cabral de Melo

BIBLIOGRAFIA

Almanaque Abril ,1996 – Editora Abril

Alcides Conejeiro Peres, A Inquisição e os Instrumentos de Tortura da Idade Média – CPAD - 1998

NOVINSKY, Anita – A Inquisição – Brasiliense e Ibéria Judaica – Roteiros da memória.

Almanaque Abril – 96
Revista – História Viva Ed. Duetto Agosto de 2004