terça-feira, 27 de janeiro de 2009

SÉTIMA BEM-AVENTURANÇA

MT 5.9

Bem-aventutados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus



Aqui é impetrada uma benção sobre todos aqueles que, tendo recebido para si mesmo a reconciliação com Deus por meio da cruz, agora procuram, por meio de sua mensagem e conduta, ser instrumentos para comunicar este mesmo dom aos outros. Por meio da palavra e do exemplo, estes pacificadores, que amam a Deus, amam uns aos outros e até mesmo aos seus inimigos, também promovem a paz entre os homens.
Num mundo onde a paz é rompida, esta bem-aventurança revela que o Cristianismo é uma força “relevante”, vital e dinâmica. A “igreja” é incessantemente caluniada no sentido de que sua influência nesta direção é lamentavelmente insignificante. Se ao empregar a palavra “igreja” a referência é uma instituição na qual nada prevalece senão uma ortodoxia morta, a acusação pode ser procedente. Por outro lado, se a referência é ao “exército de Cristo”, ou seja, a soma total de todos os genuínos soldados Cristãos, homens e mulheres redimidos oriundos de todas as gerações, religiões e raças que pelejam a batalha do Senhor contra o mal em prol da justiça e da verdade, a resposta é, na forma de uma contra-pergunta: “Sem a influência deste poderoso exército, as condições do mundo atual não seriam muitíssimo piores? Não é a igreja o próprio salva-vidas no qual o mundo permanece flutuando?” (Gn 18.26,28-32).
Pacificadores genuínos são todos aqueles cujo líder é o Deus de paz (1Co14.33; Ef 6.15; 1Ts 5.23), que aspiram a viver em paz com todos os homens (Rm 12.18; Hb 12.14), proclamam o evangelho da paz(Ef 6.15) e modelam suas vidas em harmonia com o Príncipe da Paz (Lc 19.10; Jo 13.12-15; cf.Mt 10.8).
Entretanto, o evangelho da paz é, ao mesmo tempo, a pregação do Cristo Crucificado (1Co1.18). O homem, por natureza, querendo estabelecer sua própria justiça, não se sente disposto a aceitar este evangelho(1Co 1.23). por isso, sua proclamação provoca uma guerra em seu coração. Se pela graça de Deus o pecador, finalmente, se entrega e recebe o Príncipe da Paz como seu Salvador e Senhor pessoal, então ele talvez tenha de enfrentar outra batalha, ou seja, dentro de sua própria família. É por essa razão que Jesus, ao qualificar os pacificadores de bem-aventurados, não caiu em contradição quando disse: “Não penseis que vim trazer paz à terra. Eu não vim trazer paz, e, sim espada... os inimigos do homem serão os de sua própria casa” (Mt 10.34-36). Entretanto, esta situação não é por culpa de Cristo, e, sim do homem. É Deus em Cristo quem prossegue insistindo com o homem a encontrar nele a reconciliação e a paz duradoura (Mt 11.27-30; 2Co 5.20).
Além do mais, esta não é uma paz a qualquer preço. Ela não é conduzida por meio de comprometer a verdade sob o disfarce do “amor”(?). Ao contrário disso, ela é uma paz preciosíssima para o coração de todos aqueles que falam a verdade em amor (Ef 4.15). Aqueles que, pela palavra e pelo exemplo, são promotores desta paz são também designados como bem-aventurados. O seu título é “filhos de Deus”, uma designação de elevada honra e dignidade, revelando com isso que, por meio de sua promoção da Paz, penetram na própria esfera de atividade de seu próprio Pai. São seus cooperadores. Por meio de sua atitude confiante e de muitas boas obras, realizadas em decorrência da gratidão e para glória de Deus, se transformam em agentes de seu Senhor, e por toda parte estão comprometidos na tarefa de erradicar o mal dos corações humanos, enchendo-os de tudo aquilo que é bom e nobre(Rm 8.23; Fl 4.8,9). Eles são, por assim dizer, “o Corpo de Paz” do próprio Deus. Já são filhos de Deus (1Jo 3.1). No dia do juízo sua gloriosa adoção como filhos será publicamente revelada (Rm 8.23; 1Jo3.2).

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

SEXTA BEM-AVENTURANÇA

Mt 5.8

Bem-aventurados os de coração puro, porque eles verão a Deus.



Tem-se afirmado amiúde que os puros de coração são as pessoas sinceras e honestas, os homens que possui integridade. Um passeio pelo Sl 24.3,4 parece confirmar isto:
“Quem subirá ao monte do Senhor?
Quem há de permanecer no seu Santo monte?
“O que é limpo de mãos e puro de coração; que não entrega sua alma à falsidade nem jura dolosamente.”
A pureza de coração é também enaltecida no Sl 73.1. Semelhantemente, em 1Tm 1.5, puro é sinônimo de sincero. E examina-se também 2Tm 2.22 2 1Pe 1.22. Tudo isso poderia conduzir-nos facilmente a conclusão de que as pessoas que são designadas como bem-aventuradas na sexta bem-aventurança são, sem nenhuma outra qualidade, os indivíduos sinceros, os homens que pensam, falam e agem sem hipocrisia.
Ora, não pode haver dúvidas sobre o fato de que a sinceridade, honestidade, a condição de ser isento de dolo é certamente a ênfase aqui. Por contraste com toda duplicidade humana, seja ela farisaica ou de outra espécie, Jesus pronuncia sua bênção sobre pessoas cuja manifestação exterior está em harmonia com a sua disposição interior.
Não obstante, um estudo do contexto com cada uma das referências precedentes torna claro que é mister acrescentar-se algo. A sinceridade ou integridade não é suficiente em e por si mesma. Um homem pode estar sinceramente certo, como também pode estar sinceramente errado. Sem dúvida que os profetas de Baal eram realmente sinceros quando desde manhã até ao meio-dia saltavam sobre o altar, retalhando-se com facas e clamando sem cessar: “Ah! Baal, responde-nos!” (1Rs 18.26-28). Porém, eram sinceros na direção errada. Assim também, numa passagem que é citada com freqüência na explicação da sexta bem-aventurança (Gn 20.6), o próprio Senhor testifica que Abimeleque, na integridade de seu coração, defraudava Abraão, levando Sara. Não obstante, o Senhor não aprovou o que o rei fizera e o ameaçou de morte caso não devolvesse Sara ao seu legítimo marido (v.7). De forma semelhante, os “puros de coração” do Sl 73.1 são aqueles que com toda sinceridade são guiados “pelos conselhos de Deus” (v.24). A fé não fingida 1Tm 1.5 adere à “sã doutrina” (v.10). E as pessoas a quem Pedro faz referência (1Pe 1.22) são aquelas que purificam suas almas “nas obediências à verdade.
Portanto, é evidente que a bênção da sexta bem-aventurança não é pronunciada indiscriminadamente sobre todos quantos são sinceros, mas, antes, sobre aqueles que, em adoração ao Deus verdadeiro, em consonância com a verdade revelada em sua Palavra, se empenham sem hipocrisia para guardá-lo e glorificá-lo. Estes – e somente estes! – são “os puros de coração”. Eles adoram a Deus “em espírito e em verdade”. (Jo 4.24), e amam meditar e praticar as virtudes mencionada em 1Co 13; Gl 5.22,23; Ef 4.32; 5.1; Fp 2.1-4; 4.8,9; Cl 3.1-17; etc. Seu coração, a própria fonte principal das disposições tanto quanto dos sentimentos e pensamentos (Mt 15.19; 22.37; Ef 1.18; 3.17; Fp 1.7; 1Tm 1.5), é uma só melodia com o coração de Deus.
Daí não ser realmente surpreendente lermos que os puros de coração “verão a Deus”, e que isso constitui a essência de sua bem-aventurança. O homem cujo deleite não repousa verdadeiramente nas coisas pertencentes a Deus não é capaz de apreciar o amor de Deus em Cristo para com os pecadores. A semelhança é o pré-requisito indispensável da comunhão e compreensão pessoais. Para que alguém conheça a Deus é preciso que seja semelhante a ele. Assim como para o caçador desprovido de qulquer conhecimento e apreciação pela música, a voz do vento que soa através da floresta
Nada significa além da possibilidade de a lebre sair da sua toca e torna-se uma vítima fácil, enquanto para o seu companheiro Mozart o mesmo som profundo significa uma nota majestosa do grande órgão de Deus, assim também, para o impuro, Deus permanece desconhecido, mas para quem é “imitador de Deus como filho amado e anda nos seu amor”, ele se revela a si mesmo.
Ora a beleza desta visão de Deus, esta percepção espiritual de seu ser e de seus atributos, e o deleitar-se neles, é que produzem transformação (2Co 3.18). “Entretanto, aqui na terra é ainda um “ver como um espelho, obscuramente”, porém no céu e no universo renovado, em que as condições do céu serão encontradas também na terra (AP 21.10), de sorte que “ a terra se encherá do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar” (Is 11.9), essa visão beatificada equivalerá à comunhão sem pecado e ininterrupta das almas de todos os redimidos com Deus em Cristo, um contemplar “face a face” (1Co 13.12).

Quando em justiça por fim teu rosto glorioso puder ver,
Quando toda noite atroz tiver passado
E me vir acordado ao teu lado,
Para ver a glória permanente,
Então só então estarei satisfeito. (F.F Bulaard, baseado no Salmo 17.15)

Assim se cumprirá a oração de Jesus: “Pai, a minha vontade é que onde eu estivou estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me confiaste, porque amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17.24).

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

QUINTA BEM-AVENTURANÇA

Mt 5.7


Bem-aventurado os misericordiosos, porque receberão misericórdia.



Misericórdia é amor demonstrado em favor de quem vive em desgraça, e um espírito perdoador para com o pecador: Ela abrange tanto um sentimento de bondade quanto um ato bondoso. Vemo-la exemplificada na parábola do bom samaritano (Lc 10), e especialmente em Cristo, o misericordioso Sumo Sacerdote (Hb 2.7).
Embora seja falta de realismo negar que, devido à disposição amorosa de Deus, há evidência de compaixão e bondade ao nosso redor, lembradas e esquecidas, mesmo no mundo dos não-regenerados (At 28.2), a misericórdia de que fala esta bem-aventurança nasce “da experiência pessoal com a misericórdia de Deus” (Lenski). Como tal, ela é uma virtude peculiarmente Cristã, que vale também para as demais características mencionadas nas bem-aventuranças. Todas elas indicam qualidades dos cidadãos do reino do céu. A esse respeito não se deve esquecer que, enquanto os romanos falavam de quatro virtudes cardeais – sabedoria, justiça, temperança e coragem -, a misericórdia não figurava entre elas. E para obter-se um ponto de vista equilibrado de como aparece esta graça no mundo, é justo confrontar At 28.2 com Pv 12.10: “ mas o coração dos perversos é cruel.”
É digno de nota que as escrituras repetidas vezes exortam os crentes a demonstrarem misericórdia, movidos por gratidão, para eles mesmos sejam tratados com misericórdia. Um notável exemplo é a parábola do servo incompassivo (Mt 18.23-25). Ver também Mt 25.31-46; Rm 15.7,25-27; 2Co 1.3,4; Ef 4.32; 5.1; Cl 3.12-14. Essa misericórdia deve ser exercida em favor daqueles que pertencem à “família da fé”, porém não deve limitar-se a eles (Gl 6.10). Na verdade ela deve ser exercida em prol de “todos os homens”, não excluindo nem mesmo aqueles que odeiam e perseguem os crentes(Mt 5.44-48). Percebe-se imediatamente que, se o que está implícito na quinta bem-aventurança fosse posto em prática com maior zelo e consciência, a pregação do evangelho seria muito mais eficaz! Que benção para a humanidade seria!
“Porque misericórdia lhes será concedida.” Aqueles – e tão somente aqueles! – que exercem misericórdia como recompensa, como pode comprovar-se algumas passagens mencionadas no parágrafo anterior, como também de 2Sm 22.26; Mt 6.14-15; Tg 2.13. Quando essa semente de ouro é semeada, efetua-se uma colheita muitíssimo abundante (Mt 7.2; Lc 6.38).