sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

QUARTA BEM-AVENTURANÇA

Mt 5.6
Bem-Aventurados os famintos e os sedentos de justiça, porque eles serão plenamente saciados.


Esta justiça consiste em uma perfeita conformidade com a santa lei de Deus, ou seja, com a sua vontade. É antes de tudo uma justiça por imputação: “Ele [Abraão] creu no Senhor, e isso lhe foi computado por justiça” (Gn 15.6). O homem é incapaz de merecer esse direito diante de Deus. Nenhuma soma de boas obras poderá expiar seu pecado. De fato, “Toda as nossas justiças[são] como trapo de imundícia” (Is 64.6). Nenhum tipo de purificação humana, seja cerimonial ou de outro tipo, pode lavar o pecado: Pelo que ainda que te laves com salitre, e amontoes potassa, continua a mácula da tua iniqüidade perante mim, diz o Senhor Deus”(Jr 2.22). Nenhum mero ser humano é capaz de fazer expiação pelo pecado de seu irmão: “Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode redimir, nem pagar por ele a Deus o seu resgate” (Sl 49.7). De fato, no tocante ao próprio homem, a situação é inteiramente sem remédio. Sua necessidade principal, básica e irremediável é estar ele em perfeita harmonia com Deus; e este é também o alvo que ele jamais poderá atingir: “como pode o homem ser justo para com Deus?”(Jó 9.2).
Nessa situação irremediável e horrível foi que o filho de Deus, de sua glória e soberania, entrou. Foi ele(juntamente com o Pai e o Espírito, o único e verdadeiro Deus) que veio para o resgate, quando todos os demais fracassaram. “Então disse: eis aqui estou, no rolo do livro está escrito a meu respeito; agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração está tua lei”(Sl 40.7,8). A maneira como resgate do pecador seria realizado e a salvação providenciada retratada em Is 53: “Mas ele foi traspassado pela nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidade; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo cainho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos”(vv.5 e 6). E assim Emanuel foi destinado a ser “o Senhor justiça nossa”(Jr 23.6). Por intermédio dele, como uma redenção, os pecados de seu povo foram livremente perdoados, de tal modo que Davi podia cantar: “Bem-aventurado é aquele cuja a iniqüidade é perdoada, cujo pecado é coberto” Sl 32.1.
Tudo isso, normalmente, era do conhecimento de Jesus quando disse: “Bem-aventurados são os que tem fome e sede de justiça.” Mesmo durante a sua vivencia terrena ele era plenamente conhecedor de sua função como substituto. Não foi precisamente com finalidade de exercer esse oficio que ele deixou o seu lar celestial?(2Co 8.9). E não era precisamente em favor de seu povo que ele iria derramar seu sangue?(Lc 22.19,20; 1Co 11.24,25; cf. Jo 10.11,28; At 20.28; Ef 1.7,14; Cl 1.14; Hb 9.12; 1Pe 1.19; Ap 5.9). Além disso, o fato de que a justiça do homem está baseada na misericórdia de Deus e não nas obras ou méritos humanos é uma verdade que não carecia esperar por Paulo(Rm 4.3,9; Gl 3.6) para ser descoberta . Não apenas por Moisés(Gn 15.6) e Davi(Sl 32.1) a conheciam, mas certamente o Fariseu e o Publicano(Lc 18.9-14; ver especialmente os vv. 13e 14). É verdade que o ensino do Antigo Testamento e o de Jesus preparam o caminho para uma exposição mais detalhada e mais ampla dessa doutrina pelo apóstolo dos gentios.
Não obstante, é evidente que aqui em Mt 5.6 Cristo se refere a uma justiça não meramente por imposição, mas também por comunicação; refere-se não meramente a uma condição jurídica, mas também uma conduta ética; pode-se ver isso de forma clara por meio de Mt 6.1: “Cuidem para que não pratiquem a sua justiça diante do povo”, e ver também Mt 5.10,20-48. As duas (justiças) são inseparáveis. Embora seja impossível que as boas obras justifiquem alguém, é igualmente impossível que uma pessoa justificada possa viver sem praticar boas obras. O termo “justiça”, na forma usada por Cristo, é, portanto, muito abrangente, envolvendo tanto a de caráter forense como a caráter ético.
A relação entre a justiça apresentada por Cristo e a “justiça dos fariseus” está em que a primeira é interior, e a segunda é geralmente exterior; a primeira é do coração, a segunda é predominantemente de aparência exterior; a primeira é genuína, a segunda é com muita freqüência um produto falsificado. Cf. Mt 5.20-6.18.
“ Porque eles serão plenamente saciados” (literalmente: “cheios”). Notar, contudo, que não se trata daqueles que meramente sentem que “algo vai mal”, mas somente aqueles que têm “fome e sede” de justiça é que serão cheios. A justiça imputada e comunicada por Deus deve ser um objetivo de intenso desejo, de ardente anelo e de busca incansável. Cf. Sl 42.1: “Como suspira a corsa pelas correntes das águas...” Cf. Is 55.1; Am 8.1; Jo 4.34; 6.35; 7.37 Ap 22.17.
Como esta fome e sede de justiça serão plenamente saciadas? Pela imputação dos méritos de Cristo. Assim obtemos uma justiça de condição. Pela obra santificadora do Espírito Santo. Assim obtemos uma justiça de condição interior e conduta exterior. Cf Rm 8.3 – 5; 2Co 3.18; 2Ts 2.13. Estas duas (justiças) são inseparáveis: aqueles por quem Cristo morreu são justificados pelo Espírito Santo. Portanto, aqueles cujos pecados são perdoados oferecem sacrifício de ações de graças.