quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Estudo sobre personalidade



Há quase um século Sigmund Freud estudava a natureza da situação humana do ponto de vista da psicologia. Investigou profundamente as emoções, as atitudes e os comportamentos. Com os resultados compôs um conjunto de conceitos e padrões de saúde e doença psicológica, com os quais passou a analisar os que o procuravam. Comparando os relatos de cada paciente com suas descobertas, ele pôde compreendê-los. Entre suas descobertas principais estão as seguintes:


1) Os seres humanos tendem a buscar o bem-estar, o prazer, desde os primeiros momentos de nascido, ou antes mesmo de nascer, o que perdura por toda a vida. Esse princípio do prazer,


2) Os homens tendem também a rejeitar, e tentam esquecer experiências desagradáveis, amargas, dolorosas, humilhantes, sempre que a intensidade delas se tornar forte o suficiente para produzir sofrimentos psicológicos insuportáveis. A este mecanismo Freud chamou repressão. A repressão é inconsciente, automática e visa afastar o sofrimento psicológico e, com isso, restaurar, o mais possível, o bem-estar, o prazer anterior.


3) Um dos principais sofrimentos que o ser humano reprime é o sentimento de culpa. Este sentimento às vezes é tão forte e até mesmo inconsciente, que pode produzir desorganização nas emoções, nos pensamentos e nos comportamentos das pessoas afetadas. Além disso, quando esse sentimento persiste por longo tempo, sem que o indivíduo ache um modo de retomar a sua paz, ele chega a produzir doenças físicas, hoje conhecidas como “doenças psicossomáticas”.


4) Descobriu-se também, na pesquisa psicológica, que muitas das culpas dos pacientes são oriundas da quebra de princípios religiosos importantes, tidos como divinos. Ou seja, eles cometeram algum “pecado”. Esse “pecado”, não sendo confessado, nem perdoado, faz com que a culpa, além de não desaparecer, cresça, constituindo-se numa nova e poderosa fonte de mais culpa ainda. Isso cria um círculo vicioso, difícil de ser rompido, por vezes impossível de ser suportado.


5) Muitas vezes, essa culpa está ligada ao grau de severidade com que os princípios religiosos são formulados e inculcados, produzindo na pessoa uma imagem tão severa e rigorosa da divindade, que ela se sente esmagada e perseguida.


6) Para lidar com essa culpa e tentar aliviá-la, a pessoa tende a criar mecanismos de satisfação e apaziguamento da divindade. Esses mecanismos podem ir desde simples rituais de oração forçada (tantas vezes por dia ou tantas horas por dia), freqüência exagerada aos templos, até a elaboração de idéias obsessivo-compulsivas, ou seja, atos que a pessoa passa a realizar de maneira irresistível, não conseguindo deixar de realizá-los. É um “vício religioso”, tão poderoso como qualquer droga “pesada”. Se, por acaso, isso acontecer, a culpa se tornará ainda maior, num nível ainda mais severo, criando a “necessidade” de outros rituais de satisfação a “deus” e de auto-punição, tais como: privar-se de alegrias e/ou prazeres, como comidas, passeios, divertimentos, satisfação sexual etc. Embora não pareça, perdoar-se, aceitar-se e amar-se é tão necessário quanto difícil. Daí a importância da terapia! Afinal, sempre é mais fácil punir. Os fariseus já sabiam... e praticavam isso!


7) Interessante é notar o mecanismo de raciocínio que escraviza psicologicamente a pessoa afetada, e que é mais ou menos o seguinte:


a) se, por um lado, o bem-estar, o prazer, a satisfação e o agrado, são a coisa mais ansiada pelo ser humano;


b) se, por outro lado, a formulação doutrinária diz que o que a divindade quer é rigor, privação, que as pessoas fiquem longe da tentação, que evitem o mal etc.


c) se o prazer é uma coisa do “anti-deus”, do inimigo, ou seja, do diabo; então a pessoa afetada conclui:— que todo prazer é contrário à vontade da divindade.— que a busca e vivência do prazer é sempre uma forma de pecado.— que, já que todo pecado tem de ser punido, então o “pecado” de ter buscado um prazer, também precisa ser punido, nem que seja pela própria pessoa.Tendo descoberto essa terrível mina de imenso sofrimento psicológico, o terapeuta ajudará a pessoa:— a narrar seus sentimentos, pensamentos e comportamentos.— a ir, gradualmente, descobrindo a si própria dentro da sua história de sofrimento.— a perdoar-se, aceitar-se e amar-se, uma vez que já é perdoada, aceita, amada por Deus.Tudo isso depende de a pessoa desejar seu restabelecimento.


A psicoterapia é, pois, um processo razoavelmente dramático, mais ou menos longo. Os resultados serão as mudanças que irão se operar gradual e espontaneamente, à medida que a pessoa passar a conhecer-se, compreender-se e aceitar-se.


Só então se verá a beleza, a maravilha de sua verdadeira personalidade, à imagem de Deus. O que se espera é que a própria pessoa reestruture toda a sua vida, de forma a libertar seu psiquismo da parte exagerada que houver na sua maneira de entender e viver sua fé. Isso quer dizer que o psicólogo competente, mesmo não sendo cristão, ajudará a pessoa a ter uma vida religiosa mais bela, mais profunda, mais feliz, livre dos legalismos, da opressão das barganhas e dos rituais cheios de ansiedade.


Esta religião será, também, mais serviçal, mais responsável, mais atuante e mais pura, tanto moral como espiritualmente.


E, para voltarmos ao tal “princípio do prazer”, a pessoa entenderá que:— é um prazer enorme ter uma fé alegre e feliz;— a adoração a Deus é uma forma altíssima, finíssima e belíssima de prazer;— é sempre melhor ter uma fé que veja o prazer como criação da divindade, uma divindade que concede prazer a seus filhos, sem que a culpa seja, necessariamente, a conseqüência.


Há que observar, ainda, que essa nova forma de ver e viver a mesma religião não será uma “fuzarca sem limites”, "uma Sodoma e Gomorra". Dentro da alma humana está a imagem divina, com as fontes de discernimentos e percepções, sabedoria, ética e devoção, que dirigirão a nova forma de viver voltada para Deus.


O amor de Deus será a nova “lei”: Ele dirá o que deve e o que não deve ser feito. Sim, porque o amor também coloca limites e restrições.


A psicoterapia lida com o lado emocional do pecado. Assim, ela ajuda a teologia porque:


— ajuda a pessoa a entrar em contato com seu coração e adquirir consciência da profunda sensação de que algo está errado nele, sentimento que William James chamou de “eu dividido”.


— faz isso oferecendo um clima de acolhida sem julgamento, o que facilita a “catarse”, que é o equivalente psicológico da confissão.


— a catarse é capaz de produzir enorme alívio emocional, facilitando a experiência do perdão.


— esse alívio pode conduzir a pessoa a assumir responsabilidade ativa, por consertar seus erros, em vez do esquema de negação ou reparação obsessiva.


— outro enorme benefício da experiência psicológica é a restauração da auto-estima pessoal, considerando-se que a culpa reduz violentamente esse precioso sentimento. Fala-se muito em amar ao próximo, mas não se comenta o quanto as pessoas se desamam em nome de um “altruísmo” freqüentemente equivocado. Perdoar-se, aceitar-se, amar-se: isso é necessário para se poder amar ao próximo.


Tudo quanto foi dito aqui está dentro das limitações do trabalho psicote-rapêutico, que é um trabalho leigo e técnico-secular, mesmo quando feito por um psicólogo cristão. O presente artigo não discute teologicamente o pecado.


A psicoterapia não é um trabalho evangelístico. Não compete ao psicólogo discutir doutrina. Ele trabalha com a saúde psicológica. Assim sendo, é um trabalho evangélico, por tratar-se da libertação de alguém de um quadro de sofrimento tão grande que só quem passou sabe como é. Não é à toa que Carl Gustav Jung o chamou de “travessia noturna”.


O processo psicológico ajuda-nos a compreender o quanto é complexa e ampla a dimensão do próprio pecado. Essa complexidade se expressa no grande número de palavras para “pecado” na Bíblia.


Uma palavra de esclarecimento: não devemos confundir psicoterapia com aconselhamento cristão. Há várias semelhanças entre elas, mas há também diferenças.


conceito


O que seria então Personalidade?
A personalidade é uma estrutura interna, formada por diversos fatores em interação. Não se reduz a um traço apenas, como a autodeterminação ou um valor moral. Pode ser muito ou pouco valorizada. Não importa. Uma pessoa mesmo sem valores, mal formada, com falhas morais ou limitações psicológicas, não deixa de ter personalidade porque tem uma estrutura interna, embora defeituosa.
Também, a personalidade não é a simples soma ou justaposição de elementos, mas um todo organizado e individual, produto de fatores biopsicossociais.
Nos fatores biológicos estão: o sistema glandular e o sistema nervoso.
Entre os fatores psicológicos estão: o grau e as características de inteligência, as emoções, os sentimentos, as experiências, os complexos, os condicionamentos, a cultura, a instrução, os valores e vivências humanas.
Nos grupos sociais, como a família,a escola, a igreja, o clube, vizinhança, processa-se a interação dos fatores sociais.
Componentes da Personalidade (Temperamento e Caráter)
Sendo a personalidade, o que distingue uma pessoa da outra, a mesma encontra-se apoiada em herança biológica e na ação ambiental.
Os fatores biológicos, principalmente o sistema glandular e o sistema nervoso determinam no indivíduo o temperamento, que é constituído de impulsos naturais. Ser agressivo ou não ser agressivo, ser irrequieto ou indolente, ser emotivo ou não emotivo, ter reações primárias ou secundárias, podem ter traços temperamentais.
Assim, o indivíduo nasce com determinado temperamento, mas fatores ambientais podem modificá-lo até certo ponto. Assim, a educação pode manter domínio e controle sobre o temperamento; a alimentação; as doenças; o clima; os acontecimentos e outros fatores causam algumas transformações nos traços temperamentais.
A vida ensina o homem a controlar ou a estimular seu temperamento. Todo tipo temperamental tem seus aspectos positivos e aspectos negativos. Conhecendo-se bem, o homem pode dominar os aspectos negativos e estimular e desenvolver os aspectos positivos. O temperamento é parte da personalidade, e, esta não se reduz àquele. A personalidade é o todo; o temperamento é um aspecto desse todo. Portanto, o temperamento é um aspecto inato, biológico da personalidade. As qualidades que estão relacionadas com o temperamento incluem entre outras, excitabilidade, irrascibilidade, impulsividade, receptividade (sensibilidade), reserva, passividade, otimismo, pessimismo,vivacidade e letargia.
O princípio e valores do homem constituem seu Caráter. Caráter é um termo que etimologicamente significa “gravar”. Mas esse conceito sofreu total evolução. Hoje, caráter significa padrão de valores da personalidade. É constituído de valores morais e sociais. Adquiri-se o caráter na família, na escola e na sociedade em geral. Como diz ALLPORT (1979), caráter é a personalidade valorizada. Nesse sentido o caráter é um aspecto da personalidade. Quando se diz que uma pessoa tem uma personalidade sem caráter, está se referindo à sua aceitabilidade moral e social. Portanto, o caráter se origina a partir de fatores como: integridade, fidedignidade e honestidade. Está associado àquelas nossas ações que satisfazem ou deixam satisfazer os padrões aceitos da sociedade e que são, conseqüentemente, julgados como “certos” ou “errados”.
Estrutura e dinâmica da personalidade (segundo a teoria psicanalítica)


Id – O id é a fonte da energia psíquica (libido). É de origem orgânica e hereditária.O id é formado por instintos, impulsos organicos e desejos inconscientes, ou seja, pelo que Freud designa como pulsões. Está relacionado a todos os impulsos não civilizados, de tipo animal, que o indivíduo experimenta. . Não tolera tensão. Se o nível de tensão é elevado, age no sentido de descarregá-la. É regido pelo princípio do prazer. Sua função e procurar o prazer e evitar o sofrimento. Localiza-se na zona inconsciente da mente. O Id não conhece a realidade objetiva, a "lei" ética e social, que nos prende perante a determinadas situações devido as conclusões da interpretação alheia. Por isso surge o Ego.


Ego – Significa “eu” em latim. E responsável pelo contato do psiquismo com o mundo objetivo da realidade. O Ego atua de acordo com o princípio da realidade. Estabelece o equilíbrio entre as reivindicações do Id e as exigências do superego com as do mundo externo. É o componente psicológico da personalidade. As funções básicas do Ego são: a percepção, a memória, os sentimentos e os pensamentos. Localiza-se na zona consciente da mente.


Superego – Atua como censor do Ego. É o representante interno das normas e valores sociais que foram transmitidos pelos pais através do sistema de castigos e recompensas impostos à criança. Ele é estruturado durante a fase fálica, quando ocorre o Complexo de Édipo. É nesse momento que a criança começa a internalizar os valores e as normas sociais. São nossos conceitos do que é certo e do que é errado. O Superego nos controla e nos pune (através do remorso, do sentimento de culpa) quando fazemos algo errado, e também nos recompensa (sentimos satisfação, orgulho) quando fazemos algo meritório. O Superego procura inibir os impulsos do Id, uma vez que este não conhece a moralidade. É o componente social da personalidade.As principais funções do Superego são: inibir os impulsos do id (principalmente os de natureza agressiva e sexual) e lutar pela perfeição.


Pelo Id o empregado deixaria de comparecer ao trabalho num belo dia ensolarado, dedicando-se a uma aprazível atividade de lazer: uma pescaria, um cinema, etc.
O Ego aconselharia prudência e buscaria uma oportunidade adequada para essas atividades.
O Superego diria ser inaceitável faltar com um compromisso assumido, por exemplo, com o supervisor ou colegas de trabalho.
Os três sistemas da personalidade não devem ser considerados como fatores independentes que governam a personalidade. Cada um deles têm suas funções próprias, seus princípios, seus dinamismos, mas atuam um sobre o outro de forma tão estreita que é impossível separar os seus efeitos.

Níveis de Consciência da Personalidade


Para Freud, os três níveis de consciência são: consciente, pré-consciente e inconsciente.
Consciente – inclui tudo aquilo de que estamos cientes num determinado momento. Recebe ao mesmo tempo informações do mundo exterior e do mundo interior.


Pré-consciente – (ou sub-consciente) – se constitui nas memórias que podem se tornar acessíveis a qualquer momento, como por exemplo, o que você fez ontem, o teorema de Pitágoras, o seu endereço anterior, etc. É uma espécie de “depósito” de lembranças a disposição, quando necessárias.

Inconsciente – estão os elementos instintivos e material reprimido, inacessíveis à consciência e que podem vir à tona num sonho, num ato falho ou pelo método da associação livre. Os processos mentais inconsciente desempenham papel importante no funcionamento psicológico, na saúde mental e na determinação do comportamento.


Os Mecanismos de Defesa da Personalidade

As frustrações e os conflitos, dependendo da sua quantidade e freqüência, podem causar prejuízos sérios à estrutura e à saúde da personalidade. Frustrações e conflitos podem acontecer a cada momento. A condução atrasa, o café está frio, o vendedor da loja não nos atende direito, o livro que queríamos comprar está esgotado, um encontro que está sendo esperado é cancelado etc. Assim, o homem não pode ficar olhando de frente, vivenciando em profundidade suas frustrações e fracassos. Desse modo poderia chegar à beira da autodestruição. Para evitar que isto aconteça, mobiliza seus mecanismos de defesa.

Para Freud a defesa é a operação pelo qual o Ego exclui da consciência conteúdos indesejáveis. São vários os mecanismos. Os principais são:

Racionalização – consiste em justificar de forma mais ou menos lógica e ética a própria conduta. Apresenta-se como um esforço defensivo para manter o auto-respeito. É provavelmente um dos mecanismos menos inconscientes. Por ele, arranjamos desculpas e explicações que nos inocentem de erros e fracassos. A criação de um “bode expiatório” é também racionalização. Dar uma desculpa para inocentar nosso “eu” ou jogar a culpa em outro tem a mesma finalidade: aliviar da “culpa”, ou de algo que nos inferiorize diante de nós e dos outros. Isto é tão antigos quanto Adão e Eva. Depois de cometido seu “pecado original”, para livrar seu “eu” da culpa. Adão optou por um “bode expiatório”, culpando sua mulher, Eva. Esta, por sua vez, optou pela desculpa: “fui tentada pelo diabo, em forma de serpente”. Costuma-se ouvir de pessoas demitidas “afinal, aquela empresa estava realmente em decadência”; depois das mudanças de Administração, ficou mesmo impossível trabalhar lá; somente o pessoal menos qualificado permaneceu.” Reconhecer nossa irracionalidade, ainda quando nos é incômoda, ajuda a superá-la. Nem a conduta e nem os impulsos das pessoas são sempre racionais.

Projeção – consiste em atribuir a outros as idéias e tendências que o sujeito não pode admitir como suas. Sem que percebamos, muitas vezes, vemos nos outros defeitos que nos são próprios Podem servir como exemplos: o aluno que se sente frustrado pela reprovação nos exames, põe-se a dizer que o professor é incapaz. O marido infiel que desconfia da esposa.

Repressão – é o processo pelo qual se afastam da consciência conflitos e frustrações demasiadamente dolorosos para serem experimentados ou lembrados, reprimindo-os e recalcando-os para o inconsciente. Vivências que provocam sentimentos de culpa são esquecidas. Muitos casos de amnésia (excluídas as causas orgânicas) podem ser explicados através deste mecanismo. Esquecemos o que é desagradável.

Deslocamento – Na tentativa de ajustar nosso comportamento e eliminar as tensões, muitas vezes, não podendo descarregar nossa agressão na fonte de frustração (um chefe, a organização, etc), passamos a agredir terceiros que não têm nada a ver com o caso. É bom lembrar que a toda ou a quase toda frustração corresponde agressão.

Regressão – significa voltar a comportamentos imaturos, característicos de fase de desenvolvimento que a pessoa já passou. A criança de cinco anos que, após o nascimento de um irmão, volta a chupar o dedo, molhar a cama e falar como bebê, é um exemplo de regressão. Dessa maneira, reage melhor à frustração. É o caso do funcionário que, diante do chefe, assume comportamento menos adulto.

Somatização - o conflito se transforma numa perturbação fisiológica. Por exemplo, numa fiscalização, o funcionário foi apanhado em flagrante falta. A partir daí, por ocasião dos períodos de fiscalização, adoece, passa mal, sente vômitos etc.

Distúrbios da Personalidade

A melhor maneira de definir “distúrbio” é caracterizá-lo como deficiência psicológica com repercussão na área emocional e interpessoal. Este termo caracteriza uma faixa que vai desde formas neuróticas leves até a loucura, na plenitude do seu termo. Normal seria aquela personalidade com capacidade de viver eficientemente, manter relacionamento duradouro e emocionalmente satisfatório com outras pessoas, trabalhar produtivamente, repousas e divertir-se, ser capaz de julgar realisticamente suas falhas e qualidades, aceitando-as. A falha de uma ou outra dessas características pode indicar a presença de uma deficiência psicológica ou “distúrbio” da personalidade.

Classificamos distúrbios da personalidade em 3 grandes tipos básicos:


1º Tipo: Neuroses
É a existência de tensão excessiva e prolongada, de conflito persistente ou de uma necessidade longamente frustrada, é sinal de que na pessoa se instalou um estado neurótico. A neurose determina uma modificação, mas não uma desestruturação da personalidade e muito menos de perda de valores da realidade. Costuma-se catalogar os sintomas neuróticos em certas categorias, como:

a) Ansiedade - a pessoa é tomada por sentimentos generalizados e persistente de intensa angústia sem causa objetiva. Alguns sintomas são: palpitações do coração, tremores, falta de ar, suor, náuseas. Há uma exagerada e ansiosa preocupação por si mesmo.


b) Fobias – uma área da personalidade passa a ser possuída por respostas de medo e ansiedade. Na angústia o medo é difuso e quando vem à tona é sinal de que já existia, há longo tempo. Se apresenta envolta em muita tensão, preocupação, excitação e desorganização do comportamento. Na reação fóbica, o medo se restringe a uma classe limitada de estímulos. Verifica-se a associação do medo a certos objetos, animais ou situações.


c) Obsessiva-Compulsiva: A Obsessão é um termo que se refere a idéias que se impõem repetidamente à consciência. São por isto dificilmente controláveis. A compulsão refere-se a impulsos que levam à ação. Está intimamente ligada a uma desordem psicológia chamada transtorno obsessivo-compulsivo.

2º Tipo: Psicoses
O psicótico pode encontrar-se ora em estado de depressão, ora em estado de extrema euforia e agitação. Em dado momento age de um modo e em outro se comporta de maneira totalmente diferente. Houve uma desestruturação da sua personalidade. O dado clínico para se aferir à psicose é a alteração dos juízos da realidade. O psicótico passa a perceber a realidade de maneira diferente. Por isso, faz afirmações e tem percepções não apoiadas nem justificadas pelos dados e situações reais. Nas psicoses, além da alteração do comportamento, são comuns alucinações (ouvir vozes, ter visões e delírios). Pode ser possuído por intensas fantasias de grandeza ou perseguição. Pode sentir-se vítima de uma conspiração assim como se julgar milionário, um ser divino, etc. As Psicoses se manifestam como:

a) Esquizofrenia - apatia emocional, carência de ambições, desorganização geral da personalidade, perda de interesse pela vida nas realizações pessoais e sociais. pensamento desorganizado, afeto superficial e inapropriado,riso insólito, bobice, infantilidade, hipocondria, delírios e alucinações transitórias.

b) Maníaca-depressiva – caracteriza-se por perturbações psíquicas duradouras e intensas, decorrentes de uma perda ou de situações externas traumáticas. O estado maníaco pode ser leve ou agudo. É assinalado por atividade e excitamento. Os maníacos são cheios de energia, inquietos, barulhentos, falam alto e têm idéias bizarras, uma após outra. O estado depressivo, ao contrário, caracteriza-se por inatividade e desalento. Seus sintomas são: pesar, tristeza, desânimo, falta de ação, crises de choro, perda de interesse pelo trabalho, por amigos e família, bem como por suas distrações habituais. Torna-se lento na fala, não dorme bem à noite, perde o apetite, pode ficar um tanto irritado e muito preocupado.

c) Paranóia – caracteriza-se sobretudo por ilusões fixas. É um sistema delirante. As ilusões de perseguição e de grandeza são mais duradouras do que na esquizofrenia paranoide. Os ressentimentos são profundos. É agressivo, egocêntrico e destruidor. Acredita que os fins justificam os meios e é incapaz de solicitar carinho. Não confia em ninguém

d) Psicose alcoólica – é habitualmente marcada por violenta intranqüilidade, acompanhada de alucinações de uma natureza aterradora.

e) Arteriosclerose Cerebral – evolui de um modo semelhante a demência senil. O endurecimento dos vasos cerebrais dá lugar a transtornos de irrigação sangüínea, as quais são causa de que partes isoladas do cérebro estejam mal abastecidas de sangue. Os sintomas são, formigamento nos braços e pernas, paralisias mais ou menos acentuadas, zumbidos no ouvido, transtorno de visão, perturbações da linguagem em forma de lentidão ou dificuldade da fala.

3º Tipo: Psicopatias
Os psicopatas não estruturam determinadas dimensões da personalidade, verificando-se uma espécie de falha na própria construção. Os principais sintomas das psicopatias são: Diminuição ou ausência da consciência moral. O certo e o errado; o permitido e o proibido não fazem sentido para eles. Desta maneira, simular, dissimular, enganar, roubar, assaltar, matar, não causam sentimentos de repulsa e remorso, em suas consciências. O único valor para eles é seus interesses egoístas: Inexistência de alucinações; ausência de manifestações neuróticas; falta de confiança; Busca de estimulações fortes; Incapacidade de adiar satisfações; Não toleram um esforço rotineiro e não sabem lutar por um objetivo distante; Não aprendem com os próprios erros, pelo fato de não reconhecerem estes erros; Em geral, têm bom nível de inteligência e baixa capacidade afetiva; Parecem incapazes de se envolver emocionalmente. Não entendem o que seja socialmente produtivo.

Esquema de Desenvolvimento de Erik Erikson
Confiança X Desconfiança (até um ano de idade)
Durante o primeiro ano de vida a criança é substancialmente dependente das pessoas que cuidam dela requerendo cuidado quanto a alimentação, higiene, locomoção, aprendizado de palavras e seus significados, bem como estimulação para perceber que existe um mundo em movimento ao seu redor. O amadurecimento ocorrerá de forma equilibrada se a criança sentir que tem segurança e afeto, adquirindo confiança nas pessoas e no mundo.
Autonomia X Vergonha e Dúvida (segundo e terceiro ano)
Neste período a criança passa a ter controle de suas necessidades fisiológicas e responder por sua higiene pessoal, o que dá a ela grande autonomia, confiança e liberdade para tentar novas coisas sem medo de errar. Se, no entanto, for criticada ou ridicularizada desenvolverá vergonha e dúvida quanto a sua capacidade de ser autônoma, provocando uma volta ao estágio anterior, ou seja, a dependência.

Iniciativa X Culpa (quarto e quinto ano)
Durante este período a criança passa a perceber as diferenças sexuais, os papéis desempenhado por mulheres e homens na sua cultura (conflito edipiano para Freud) entendendo de forma diferente o mundo que a cerca. Se a sua curiosidade “sexual ” e intelectual, natural, for reprimida e castigada poderá desenvolver sentimento de culpa e diminuir sua iniciativa de explorar novas situações ou de buscar novos conhecimentos.

Construtivismo X Inferioridade (dos 6 aos 11 anos)
Neste período a criança está sendo alfabetizada e frequentando escola (s), o que propicia o convívio com pessoas que não são seus familiares, o que exigirá maior sociabilização, trabalho em conjunto, cooperatividade, e outras habilidades necessárias em nossa cultura. Caso tenha dificuldades o próprio grupo irá criticá-la, passando a viver a inferioridade em vez da construtividade.

Identidade X Confusão de Papeis (dos 12 aos 18 anos)
O jovem experimenta uma série de desafios que envolve suas atitudes para consigo, com seus amigos, com pessoas do sexo oposto, amores e a busca de uma carreira e de profissionalização. Na medida que as pessoas à sua volta ajudam na resolução dessas questões desenvolverá o sentimento de identidade pessoal, caso não encontre respostas para suas questões pode se desorganizar, perdendo a referência.

Intimidade X Isolamento (jovem adulto)
Nesse momento o interesse, além de profissional, gravita em torno da construção de relações profundas e duradouras, podendo vivenciar momentos de grande intimidade e entrega afectiva. Caso ocorra uma decepção a tendência será o isolamento temporário ou duradouro.

Produtividade X Estagnação (meia idade)
Pode aparecer uma dedicação a sociedade à sua volta e realização de valiosas contribuições, ou grande preocupação com o conforto físico e material.


Integridade X Desesperança (velhice)
Se o envelhecimento ocorre com sentimento de produtividade e valorização do que foi vivido, sem arrependimentos e lamentações sobre oportunidades perdidas ou erros cometidos haverá integridade e ganhos, do contrário, um sentimento de tempo perdido e a impossibilidade de começar de novo trará tristeza e desesperança.




Referências:

1. ADEN, LeRoy, BENNER, David G. (org.). Counseling and the human predicament; a stuy of sin, guilt and forgiveness. Grand Rapids: Baker Book House, 1989.2. ELLENS, J. H. Graça de Deus e saúde humana. São Paulo e Porto Alegre: Sinodal e Nascente, 1986.3. FROMM, Erich. Psychoanalysis and religion. New Haven: Yale University Press, 1950.4. JAMES, William. The varieties of religious experience. Longmans, Green & Co., 1902.5. OATES, Wayne E. What psychology says about religion. New York: Association Press, 1958.
José Cássio Martins, pastor e psicólogo, é professor de Psicologia Pastoral e membro do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos. como ficou conhecido, se expressa em toda a personalidade humana, não somente no corpo.
"Wikipédia"