segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

SEXTA BEM-AVENTURANÇA

Mt 5.8

Bem-aventurados os de coração puro, porque eles verão a Deus.



Tem-se afirmado amiúde que os puros de coração são as pessoas sinceras e honestas, os homens que possui integridade. Um passeio pelo Sl 24.3,4 parece confirmar isto:
“Quem subirá ao monte do Senhor?
Quem há de permanecer no seu Santo monte?
“O que é limpo de mãos e puro de coração; que não entrega sua alma à falsidade nem jura dolosamente.”
A pureza de coração é também enaltecida no Sl 73.1. Semelhantemente, em 1Tm 1.5, puro é sinônimo de sincero. E examina-se também 2Tm 2.22 2 1Pe 1.22. Tudo isso poderia conduzir-nos facilmente a conclusão de que as pessoas que são designadas como bem-aventuradas na sexta bem-aventurança são, sem nenhuma outra qualidade, os indivíduos sinceros, os homens que pensam, falam e agem sem hipocrisia.
Ora, não pode haver dúvidas sobre o fato de que a sinceridade, honestidade, a condição de ser isento de dolo é certamente a ênfase aqui. Por contraste com toda duplicidade humana, seja ela farisaica ou de outra espécie, Jesus pronuncia sua bênção sobre pessoas cuja manifestação exterior está em harmonia com a sua disposição interior.
Não obstante, um estudo do contexto com cada uma das referências precedentes torna claro que é mister acrescentar-se algo. A sinceridade ou integridade não é suficiente em e por si mesma. Um homem pode estar sinceramente certo, como também pode estar sinceramente errado. Sem dúvida que os profetas de Baal eram realmente sinceros quando desde manhã até ao meio-dia saltavam sobre o altar, retalhando-se com facas e clamando sem cessar: “Ah! Baal, responde-nos!” (1Rs 18.26-28). Porém, eram sinceros na direção errada. Assim também, numa passagem que é citada com freqüência na explicação da sexta bem-aventurança (Gn 20.6), o próprio Senhor testifica que Abimeleque, na integridade de seu coração, defraudava Abraão, levando Sara. Não obstante, o Senhor não aprovou o que o rei fizera e o ameaçou de morte caso não devolvesse Sara ao seu legítimo marido (v.7). De forma semelhante, os “puros de coração” do Sl 73.1 são aqueles que com toda sinceridade são guiados “pelos conselhos de Deus” (v.24). A fé não fingida 1Tm 1.5 adere à “sã doutrina” (v.10). E as pessoas a quem Pedro faz referência (1Pe 1.22) são aquelas que purificam suas almas “nas obediências à verdade.
Portanto, é evidente que a bênção da sexta bem-aventurança não é pronunciada indiscriminadamente sobre todos quantos são sinceros, mas, antes, sobre aqueles que, em adoração ao Deus verdadeiro, em consonância com a verdade revelada em sua Palavra, se empenham sem hipocrisia para guardá-lo e glorificá-lo. Estes – e somente estes! – são “os puros de coração”. Eles adoram a Deus “em espírito e em verdade”. (Jo 4.24), e amam meditar e praticar as virtudes mencionada em 1Co 13; Gl 5.22,23; Ef 4.32; 5.1; Fp 2.1-4; 4.8,9; Cl 3.1-17; etc. Seu coração, a própria fonte principal das disposições tanto quanto dos sentimentos e pensamentos (Mt 15.19; 22.37; Ef 1.18; 3.17; Fp 1.7; 1Tm 1.5), é uma só melodia com o coração de Deus.
Daí não ser realmente surpreendente lermos que os puros de coração “verão a Deus”, e que isso constitui a essência de sua bem-aventurança. O homem cujo deleite não repousa verdadeiramente nas coisas pertencentes a Deus não é capaz de apreciar o amor de Deus em Cristo para com os pecadores. A semelhança é o pré-requisito indispensável da comunhão e compreensão pessoais. Para que alguém conheça a Deus é preciso que seja semelhante a ele. Assim como para o caçador desprovido de qulquer conhecimento e apreciação pela música, a voz do vento que soa através da floresta
Nada significa além da possibilidade de a lebre sair da sua toca e torna-se uma vítima fácil, enquanto para o seu companheiro Mozart o mesmo som profundo significa uma nota majestosa do grande órgão de Deus, assim também, para o impuro, Deus permanece desconhecido, mas para quem é “imitador de Deus como filho amado e anda nos seu amor”, ele se revela a si mesmo.
Ora a beleza desta visão de Deus, esta percepção espiritual de seu ser e de seus atributos, e o deleitar-se neles, é que produzem transformação (2Co 3.18). “Entretanto, aqui na terra é ainda um “ver como um espelho, obscuramente”, porém no céu e no universo renovado, em que as condições do céu serão encontradas também na terra (AP 21.10), de sorte que “ a terra se encherá do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar” (Is 11.9), essa visão beatificada equivalerá à comunhão sem pecado e ininterrupta das almas de todos os redimidos com Deus em Cristo, um contemplar “face a face” (1Co 13.12).

Quando em justiça por fim teu rosto glorioso puder ver,
Quando toda noite atroz tiver passado
E me vir acordado ao teu lado,
Para ver a glória permanente,
Então só então estarei satisfeito. (F.F Bulaard, baseado no Salmo 17.15)

Assim se cumprirá a oração de Jesus: “Pai, a minha vontade é que onde eu estivou estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me confiaste, porque amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17.24).

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