sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

A PARÁBOLA DAS DEZ VIRGENS




1 Então, o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram a encontrar-se com o noivo. 2 Cinco dentre elas eram néscias, e cinco, prudentes. 3 As néscias, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo; 4 no entanto, as prudentes, além das lâmpadas, levaram azeite nas vasilhas. 5 E, tardando o noivo, foram todas tomadas de sono e adormeceram. 6 Mas, à meia-noite, ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí ao seu encontro! 7 Então, se levantaram todas aquelas virgens e prepararam as suas lâmpadas. 8 E as néscias disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão-se apagando. 9 Mas as prudentes responderam: Não, para que não nos falte a nós e a vós outras! Ide, antes, aos que o vendem e comprai-o. 10 E, saindo elas para comprar, chegou o noivo, e as que estavam apercebidas entraram com ele para as bodas; e fechou-se a porta. 11 Mais tarde, chegaram as virgens néscias, clamando: Senhor, senhor, abre-nos a porta! 12 Mas ele respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço. 13 Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora.
S. Mt 25: 1-13


Antes de entrarmos com o comentário da parábola, temos que entender como funcionava o casamento na época de Jesus.

NOIVADO

Os noivados no tempo Bíblico eram mais exigente do que os noivados da sociedade contemporânea. O homem assim comprometido com uma mulher, embora não estivesse ainda casado, fica isento do serviço militar(Dt 20:7). Se uma moça noiva fosse estuprada por outro homem, não poderia torna-se esposa deste, como seria normalmente o caso (Dt 22:28,29), por já pertencer ao seu futuro marido. Tal violação envolvia pena de morte(Dt22:23-27).

CASAMENTO

O casamento em si continha várias partes importantes. A cerimônia era essencialmente não-religiosa, a não ser por uma benção pronunciada sobre o casal(“ Ó nossa irmã, sejas tu em milhares de milhares, e que a tua semente possua a porta de seus aborrecedores!” Gn 24:60). O casamento envolvia o preparo e a aprovação de um contrato legal. Isso continua existindo no casamento Judeu até hoje. Alguns Cristãos podem ficar surpresos ao saber que só recentemente foi exigida a presença de um rabino ou sacerdote nas bodas.
O casamento também envolvia os trajes a serem usados. A noiva praticamente adornada como uma rainha(veja Ap 21:2).Depois de banhada, ela tinha os cabelos trançados com todas as pedras preciosas que a família possuía ou podia tomar emprestado(Sl 45:14,15; Is 61:10 ; Ez 16,11,12). As moças que a ajudavam a vestir-se, permaneciam a seu lado como “companheiras” . O noivo também se vestia com elegância e se adornava com jóias(Is 61:10), sendo acompanhado pelo “amigo do noivo”(Jo3:29). Os trajes das núpcias eram tão importantes que se tornavam inesquecíveis(Jr2:32). A noiva e o noivo pareciam e agiam como rei e rainha.

Outro elemento importante do casamento era a procissão no fim do dia. O noivo saía de sua casa para buscar a noiva na casa dos pais dela. Nesse ponto, a noiva usava um véu. Em algum ponto o véu era retirado e colocado no ombro do noivo, e feita a seguinte declaração: “ O governo estará sobre seus ombros”. A procissão deixava então a casa da noiva e seguia para casa do casal, e a estrada escura era iluminada por lâmpadas a óleo carregadas pelos convidados. Na história contada por Jesus, os noivos demoraram mais do que o esperado, de modo que o azeite nas lâmpadas começou a acabar. Só os que tinham levado um frasco de óleo com reserva puderam reabastecer suas lâmpadas e dar as boas-vindas aos noivos(Mt 25:1-13, especialmente vv.8,9). Havia canções e música ao longo do caminho (Jr 16:9) e algumas vezes a própria noiva participava da dança (Ct 6:13). As festas no geral duravam sete dias(Jz 14:12), ou talvez até mais. Os convidados estavam ali para testemunhar que o casamento havia sido consumado.

COMENTÁRIO DA PARÁBOLA
Uma comparação entre 25.13 e 24.42, 44 mostra claramente que existe uma estreita conexão entre essa parábola e a imediatamente precedente. Ambas enfatizam a necessidade de se estar preparado em todo tempo para a vinda do Noivo, Jesus Cristo. Como as dez “virgens” da parábola tinham a obrigação de estar bem preparadas para encontrar com o noivo, assim também todos os que professam Jesus como seu Senhor e Salvador devem estar prontos a recebê-lo quando de seu regresso ele introduzir” o reino do céu”.
As dez são iguais em muitos aspectos. Todas tencionavam encontrar o noivo e escoltá-lo ao lugar onde as festividades deveriam se realizar. Todas possuem lâmpadas. Todas estão esperando o noivo chegar antes que chegue um novo dia, mas nenhuma delas sabe a que hora ele chegará. Todas esperam tomar parte na festa nupcial. Quando o noivo tarda, todas as dez moças adormecem, e desse sono todas despertam. Ainda, porém, que as dez sejam semelhantes umas às outras em muitos pontos externos, sua dessemelhança é ainda mais notável. É básica. É o que realmente conta: cinco eram insensatas; cinco eram prudentes. A insensatez do primeiro grupo é considerada no fato de que estavam totalmente despreparadas para o encontro com o noivo; porque, embora tivessem levado suas lâmpadas, não haviam levado óleo. Todas as moças agora realmente despertas, atiçaram o lume de suas lâmpadas. Tentaram fazê-las brilhar com o máximo de iluminação e beleza. Por um instante tudo parecia bem. Um pavio que não está ainda completamente seco pode arder com intenso brilho por alguns segundos. Não obstante, depois disso, uma vez que as moças insensatas não haviam levado consigo nenhum óleo, suas lâmpadas começaram a tremular, e a crepitar, e a expirar, resultando no agonizante apelo de suas proprietárias dirigido às suas parceiras mais sábias: “Dêem-nos um pouco de seu óleo, porque nossas lâmpadas estão se apagando”. Certas passagens da Escritura estão permeadas de um fundo patético, com profundo senso de tragédia. Pense, por exemplo, em 2 Samuel 18.33:”Meu filho absalão...meu filho absalão... meu filho absalão...” Da mesma forma os “nunca mais”, no final das seis linhas de Apocalipse 18.21-23 a. E assim aqui: quando o noivo chega, as que estão prontas entram. As outras, nunca mais, pois ao chegarem descobre que a porta está fechada. Cf. Lucas 13.25.
Uma vez havendo estudado a parábola e havendo fixado nossa atenção em sua lição principal, isto é, a necessidade preparação constante, coração e vida sempre consagrados ao Senhor aqui e agora, estamos qualificados a perguntar: “Em consonância com essa aplicação principal, quais são algumas verdades subordinadas aqui?” Provavelmente as seguintes:
a) Todos os que professam crer no Senhor Jesus Cristo se assemelham em muitos aspectos; especialmente neste: que todos estão em vias de encontrar com o noivo, Jesus Cristo. Ver Mateus 25.1.
b) As semelhanças são, não obstante superficiais. Existe diferença essencial. Certamente nem todos os que lêem a Bíblia, assistem e até mesmo pertencem a uma igreja, cantam hinos de salvação, fazem púbica profissão de fé, ainda pregam em nome de Cristo, tomarão parte nas bênçãos do regresso de Cristo. Alguns são sábios. Religião com eles não é mera máscara e fingimento. Crêem estar preparados pela fé no Salvador e sua vida é dedicada a ele, e portanto ao Deus Triúno. Outros são insensatos. “Possuem uma forma de piedade, porém negam seu poder”(2Tm 3.5; cf. Mt 7.22,23). E assim, despreparados, viajam ao encontro do Juiz. Ver Mateus 25.2-4.
c) Transcorrerá um longo período entre a primeira vinda e segunda. Ver Mateus 25.5; e sobre 24.9, 14; 25.19.
d) O regresso do Senhor será repentino. Mateus 25.6; e sobre 24.31.
e) A apresentação não é transferível de uma pessoa para outra. Ver Mateus 25.7-9; Provérbio 9.12; Gálatas 6.3-5.
f) Para quem não estiver pronto – isto é, para os não-salvos antes de morrerem, e para os que em sua condição de não-salvos sobreviverem na terra até ao regresso de Cristo – não haverá “segunda chance”. Ver Mateus 25.10-12; também 7.22,23; 10.32,33; 24.37-42; 25.34-46; 2 Coríntios 5.9,10; Gálatas 6.7, 8; 2 Tessalonicensse 1.8,9; Hebreus 9.27.
g) Portanto – e em vista do fato de o momento do regresso de Cristo ser desconhecido - , requer-se vigilância em todo o tempo. Ver Mateus 25.13; também Salmo 95.7, 8;2 2 Corintios 6.2. Não é certo se o “óleo” nessa parábola tem ou não um sentido simbólico. Se tem, então o Espírito Santo, por meio de cujo o poder transformador e capacitador os homens são preparados para receber o Noivo. Ver Mateus 25.2-4; e cf. Isaías 61.1; Zacarias 4.1-6; 2 Tessalonicensses 2.13.

bibliogafia:
Usos e costumes do tempo Bíblico
comnetário do novo testamento (Mateus) volume 2 William Hendriksen
Paulo Brandão

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

HOMENAGEM AO ANO DA BÍBLIA


Os cristãos de todos os tempos têm reconhecido que a Bíblia é um livro
singular. A Bíblia é, ao mesmo tempo, o livro mais humano e divino de toda a literatura mundial. Por um lado, a Bíblia retrata o ser humano com todas as suas potencialidades e limitações, inclusive em sua degradação mais profunda. E ela faz isso através dos mais variados gêneros literários que a genialidade humana foi capaz de criar, desde a epopéia, a narrativa histórica e a dramaturgia até a poesia lírica e a literatura apocalíptica. Por outro lado, a Bíblia traz o testemunho de que é a palavra “inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça”, na qual temos “a vida eterna”, pois é ela que testifica do Salvador Jesus Cristo (2Tm 3.16; Jo 5.39; cf. Jo 20.30-31).
Por isso mesmo, em todo o mundo, não pára de haver experiências pessoais em que a mera leitura ou audição da Bíblia leva o ser humano a confrontar-se com as suas limitações mais profundas e a perceber o amor de Deus, revelado em sua forma mais dramática na entrega de Jesus Cristo ao sofrimento e à morte. Com isso, acende-se nele a esperança num Deus que se compadece e perdoa, dando início a uma vida de mudança radical em relação aos que o cercam e que, ao final, ultrapassa os limites da morte. Isso acontece porque, pela ação poderosa do Espírito de Deus, “a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12; cf. Rm 15.4).

A BÍBLIA

Bíblia é uma palavra de origem grega que significa “livros”. Daí que se deu o título Bíblia à coleção dos livros que, sendo de diversas origens, extensão e conteúdo, estão essencialmente unidos pelo significado religioso que têm para o povo de Israel e para todo o mundo cristão: unidade e diversidade que não se opõem entre si, mas que se complementam para dar à Bíblia o seu especialíssimo caráter.
Diversidade de designações
Desde tempos remotos, este livro sem igual tem sido conhecido com diferentes designações. Assim, os judeus, para os quais a Bíblia somente consta da parte que os cristãos conhecem como o Antigo Testamento, referem-se a ela como Lei, Profetas e Escritos (Lc 24.44), termos representativos de cada um dos blocos em que, para o Judaísmo, se divide o texto bíblico transmitido na língua hebraica:
(a) Lei (hebr. torah), que compreende os cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio
(b) Profetas (hebr. nebiim), agrupados em:Profetas anteriores: Josué, Juízes, 1 e 2Samuel, 1 e 2Reis;Profetas posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias
(c) Escritos (hebr. ketubim): Jó, Salmos, Provérbios, Rute, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Lamentações, Ester, Daniel, Esdras, Neemias, 1 e 2Crônicas
O título referido, Lei, Profetas e Escritos, aparece reduzido em ocasiões como a Lei e os Profetas (cf. Mt 5.17) ou, de modo mais singelo, a Lei (cf. Jo 10.34).
No Cristianismo, com a incorporação dos livros do Novo Testamento e justamente a partir da maneira que ali são citadas passagens do Antigo, é comum referir-se à Bíblia como as Sagradas Escrituras ou, de forma alternativa, como a Sagrada Escritura, as Escrituras ou a Escritura (cf. Mt 21.42; Jo 5.39; Rm 1.2). Freqüentemente, com essa última designação mais breve, faz-se referência a alguma passagem bíblica concreta (cf. Mc 12.10; Jo 19.24).
As locuções Antigo Testamento e Novo Testamento, respectivamente, no seu sentido de títulos respectivos da primeira e da segunda parte da Bíblia, começaram a ser utilizadas entre os cristãos no final do séc.II d.C. com base em textos como 2Co 3.14. A palavra “testamento” representa aqui a aliança ou pacto que Deus estabelece com o seu povo: em primeiro lugar, a aliança com Israel (cf. Êx 24.8; Sl 106.45); depois, a nova aliança anunciada pelos profetas e selada com o sangue de Jesus Cristo (cf. Jr 31.31-34; Mt 26.28; Hb 10.29).


Classificação dos livros da Bíblia

Os livros da Bíblia nem sempre são classificados na mesma ordem. Ainda hoje aparecem dispostos de maneiras distintas, seguindo para isso os critérios sustentados a esse respeito por diferentes tradições.
A versão de João Ferreira de Almeida, em todas as suas edições, tem-se sujeitado à norma de ordenar os livros de acordo com o seu caráter e conteúdo, na seguinte forma:
Antigo Testamento
(a) Literatura histórico-narrativa: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, 1 e 2Samuel, 1 e 2Reis, 1 e 2Crônicas, Esdras, Neemias, Ester
(b) Literatura poética e sapiencial (ou de sabedoria): Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos
(c) Literatura profética:Profetas maiores: Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, DanielProfetas menores: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias
Novo Testamento
(a) Literatura histórico-narrativa:Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas, JoãoAtos dos Apóstolos
(b) Literatura epistolar:Epístolas paulinas: Romanos, 1 e 2Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2Tessalonicenses, 1 e 2Timóteo, Tito, FilemomEpístola aos HebreusEpístolas universais: Tiago, 1 e 2Pedro, 1, 2 e 3João, Judas
(c) Literatura apocalíptica: Apocalipse (ou Revelação) de João
A formação da Bíblia
Para compreender os distintos aspectos do processo de formação deste conjunto de livros que chamamos de Bíblia, é necessário atentar para o fato básico da sua divisão em duas grandes partes indissoluvelmente vinculadas entre si por razões culturais e espirituais: o Antigo Testamento e o Novo Testamento.
O Antigo Testamento recolhe e transmite a experiência religiosa do povo israelita desde as suas origens até a vinda de Jesus Cristo. Os livros que o compõem são o testemunho permanente da fé Israelita no único e verdadeiro Deus, Criador do universo. É o Deus que quis revelar-se de maneira especial na história do seu povo, guiando-o com a sua Lei, beneficiando-o com a aliança da sua graça e fazendo-o objeto das suas promessas. Passo a passo, Deus converteu o seu povo numa nação unida pela fé, sustentou-a e, em todo tempo, mostrou o caminho da justiça e santidade que devia seguir para que não perdesse a sua identidade como povo escolhido. Assim, o Antigo Testamento documenta a história de Israel desde a perspectiva do sentimento religioso, mantém viva a expressão de adoração da sua fé através do culto e recolhe as instruções dos seus profetas e as inspiradas reflexões dos seus sábios e poetas.
O Novo Testamento é a referência definitiva da fé cristã. Nele, se encontram consignados os acontecimentos que deram origem à Igreja de Jesus Cristo, o Filho eterno de Deus. Os Evangelhos narram o nascimento de Jesus no tempo do rei Herodes, os seus atos e ensinamentos, a sua morte numa cruz por ordem de Pôncio Pilatos, governador da Judéia, e a sua ressurreição, depois da qual manifestou-se vivo àqueles que havia antes escolhido para que anunciassem a mensagem universal da salvação.
Está também no Novo Testamento o relato dos primeiros movimentos de expansão da fé cristã, como viveram e atuaram os primeiros discípulos e apóstolos, como nasceram e se desenvolveram as primeiras comunidades e como o Espírito Santo impulsionou os cristãos de então a darem testemunho da sua esperança em Jesus Cristo para todas as raças, nações e culturas.
O processo de redigir, selecionar e compilar os textos da Bíblia prolongou-se pelo espaço de muitos séculos. Com o decorrer dos anos, foram desaparecendo os dados relativos à origem de grande parte dos livros, isto é, o momento em que os relatos e ensinamentos foram fixados por escrito, os quais até então e talvez durante muitas gerações tinham sido transmitidos oralmente.
Por outro lado, nesse longo e complexo processo de formação, é muito difícil e até mesmo impossível fixar os autores. Isso ocorre especialmente nos casos em que foram vários redatores que escreveram textos, os quais, posteriormente, foram compilados num único livro ou quando também, na composição da literatura bíblica, são utilizados ou incluídos documentos da época (p.ex., Nm 21.14; Js 10.13; Jd 14-15).


Valor religioso da Bíblia

A Bíblia é, sem dúvida, um dos mais apreciados legados literários da humanidade. Contudo, o seu verdadeiro valor não se firma de maneira substancial no fato literário. A riqueza da Bíblia consiste no caráter essencialmente religioso da sua mensagem, que a transforma no livro sagrado por excelência, tanto para o povo de Israel quanto para a Igreja cristã.
Nessa coleção de livros, a Lei se apresenta como uma ordenação divina (Êx 20; Sl 119), os Profetas têm a consciência de serem portadores de mensagens da parte de Deus (Is 6; Jr 1.2; Ez 2—3) e os Escritos ensinam que a verdadeira sabedoria encontra em Deus a sua origem (Pv 8.22-31).
Esses valores religiosos aparecem não só no título de Sagradas Escrituras, mas também na forma que Jesus e, em geral, os autores do Novo Testamento se referem ao Antigo, isto é, aos textos bíblicos escritos em épocas precedentes. Isso ocorre, p. ex., quando lemos que Deus fala por meio dos profetas ou por meio de algum dos outros livros (cf. Mt 1.22; 2.15; Rm 1.2; 1Co 9.9) ou quando os profetas aparecem como aquelas pessoas mediante as quais “se diz” algo ou “se anuncia” algum acontecimento, forma hebraica de expressar que é o próprio Deus quem diz ou anuncia (cf. Mt 2.17; 3.3; 4.14); também quando se afirma a permanente autoridade das Escrituras (Mt 5.17-18; Jo 10.35; At 23.5), ou quando as relaciona especialmente com a ação do Espírito Santo (cf. At 1.16; 28.25). Formas magistrais de expressar a convicção comum a todos os cristãos em relação ao valor das Escrituras são encontradas em passagens como 2Tm 3.15-17 e 2Pe 1.19-21.
A Igreja cristã, desde as suas origens, tem descoberto na mensagem do evangelho o mesmo valor da palavra de Deus e a mesma autoridade do Antigo Testamento (Mc 16.15-16; Lc 1.1-4; Jo 20.31; 1Ts 2.13). Por isso, em 2Pe 3.16, se equiparam as epístolas de “nosso amado irmão Paulo” (
v. 15) às “demais Escrituras”. Gradativamente, a partir do séc. II d.C., foi sendo reconhecida aos 27 livros que formam o Novo Testamento a sua categoria de livros sagrados e, em conseqüência, a plenitude da sua autoridade definitiva e o seu valor religioso.
Tal reconhecimento, que implica o próprio tempo da presença, direção e inspiração do Espírito Santo na formação das Escrituras, não descarta, em absoluto, a atividade física e criativa das pessoas que redigiram os textos. Elas mesmas se referem a essa atividade em diversas ocasiões (Ec 1.13; Lc 1.1-4; 1Co 15.1-3,11; Gl 6.11). A presença de numerosos autores materiais é, precisamente, a causa da extraordinária riqueza de línguas, estilos, gêneros literários, conceitos culturais e reflexões teológicas que caracterizam a Bíblia.



Fonte: Biblioteca Digital da Bíblia Libronix; sociedade Bíblica do Brasil.